Ano 25 – Número 30 – 31 de julho de 2023

Informe Econômico

Rio Grande do Sul: breve balanço do primeiro semestre e atualização de projeções para 2023

A economia gaúcha no primeiro semestre de 2023 foi impactada pelos efeitos da estiagem, que provocou quebra da produção agrícola. Mesmo assim, a Agropecuária apresenta crescimento, pois a seca foi menos intensa do que a do ano passado. De forma complementar, um grande evento prejudicou a Indústria no início do ano, agravando a conjuntura que já era negativa: a maior parada técnica da história da Refap (de janeiro a março). Para se ter uma ideia de efeito, de janeiro a maio de 2023, a produção industrial gaúcha recuou 6,4% ante mesmo período de 2022, sendo que a produção de Derivados do Petróleo reduziu 24,2%, maior impacto negativo sobre a taxa global (-3,2 pontos percentuais).

Além dos eventos mencionados, o destaque do ano no setor industrial tem sido a baixa confiança do empresário. Já faz nove meses que o ICEI/RS está abaixo dos 50 pontos, indicando baixa confiança. Aliado ao alto nível dos juros, as consequências imediatas são a queda na produção e a redução na intenção de investir, de tal forma que, em julho de 2023, 46,6% dos empresários gaúchos não demonstravam interesse em investir nos próximos seis meses.

Corroborando com esse cenário de desaquecimento, houve leve retração das exportações totais do Estado (-0,5%), com queda mais aguda na Indústria de Transformação (-4,3%) nos primeiros seis meses do ano. Ambos, como temos apontado desde o início do ano, em linha com a queda observada das quantidades exportadas da Transformação.

Todavia, o setor de Serviços é o que tem e deve continuar mantendo a atividade gaúcha no campo positivo. A geração de empregos no Estado tem desaquecido mês após mês, no entanto, se apresenta melhor do que o esperado, exclusivamente pelo desempenho das atividades de Serviços.  

Seguindo a mesma sistemática da semana passada, nos tópicos abaixo são apresentadas as principais variáveis econômicas do Estado. Em cada uma delas é feito um breve resumo do semestre, bem como são atualizadas as suas projeções para o fechamento de 2023. A tabela no final do documento contém os dados completos.

PIB: Agropecuária e Indústria, os grandes responsáveis pelo baixo crescimento da economia gaúcha no 1º semestre

O PIB do RS deve crescer 2,5% em 2023, número inferior ao projetado em dezembro de 2022, quando imaginávamos que o Estado chegaria a 5,0% de alta. Naquele momento, não havíamos projetado a possibilidade de estiagem. A seca assolou o Estado no início do ano, com estimativas de quebras nas principais safras do RS: Milho (-41%), Soja (-31%) e Arroz (-3%). Mesmo assim, a Agropecuária cresceu 13,6% no primeiro trimestre na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, isso porque, a falta de chuvas de 2023 foi menos intensa do que a de 2022. No início do ano ainda tivemos a parada técnica da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap/Petrobras) com reflexo sobre os números da Indústria, que reduziu 7,2% em relação ao primeiro trimestre de 2022.

As baixas nas safras devem continuar reverberando sobre a atividade gaúcha. Segundo a Emater/RS, a safra de inverno deve ter uma queda de produção na ordem dos 12,8% em relação a 2022. Além disso, a baixa taxa de confiança dos empresários, o nível elevado dos juros e o grande grau de inadimplência, devem trazer baixos números para todos os setores, em especial para a Indústria.

Entre os grandes setores, o que deve segurar o desempenho do PIB gaúcho em 2023 são os Serviços, que cresceram 3,3% no primeiro trimestre em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior. Com um mercado de trabalho ainda resiliente e os aumentos do salário-mínimo, será possível ainda observar números positivos, ainda que com crescimentos menos intensos ao passar dos trimestres.

Indústria: produção e atividade devem fechar o ano com queda

As perspectivas no final do ano passado para a indústria gaúcha em 2023 eram pouco animadoras. Sem herança estatística de 2022, o cenário desfavorável contemplava a desaceleração da economia brasileira e mundial, a falta de confiança do industrial, a elevada incerteza e a política monetária restritiva num quadro fiscal desafiador. Além disso, o agronegócio e as exportações, os grandes fatores positivos de 2022, que sustentaram a expansão da atividade industrial, não dariam a mesma contribuição em 2023.

Apesar disso, esperava-se que a normalização completa da cadeia de suprimentos e a redução dos custos de produção fossem suficientes para levar o desempenho do setor ao campo positivo em 2023, ainda que em patamares muito modestos.

Porém, os impactos negativos do cenário, nesse primeiro semestre de 2023, foram muito além do previsto, principalmente, a grande incerteza gerada pelas possíveis mudanças nos rumos da política fiscal, além dos efeitos defasados do ciclo de aumento dos juros. A confiança dos empresários acabou e o pessimismo se disseminou, afetando, a demanda interna, sobretudo, os investimentos.

Somando-se aos fatores conjunturais, uma parada para manutenção da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap/Petrobras) de Canoas provocou forte impacto no resultado global da produção industrial gaúcha: da queda 6,4% no acumulado de janeiro a maio de 2023, 3,2 pontos percentuais são oriundos do segmento de Derivados do petróleo e biocombustíveis.

Nesse contexto, não há perspectiva de uma retomada consistente do setor no curto prazo. Mas, há espaço para uma alguma recuperação na margem com a redução da inflação, a perspectiva de queda dos juros, a menor incerteza com relação ao arcabouço fiscal e a aprovação da Reforma Tributária.

Assim, a indústria gaúcha, que inverteu sua trajetória de alta em setembro do ano passado, deve cair com força em 2023. A produção deve encerrar o ano exibindo uma contração de 3,3% e o nível de atividade, medido pelo Índice de Desempenho Industrial (IDI/RS), de 3,8%. No Balanço Econômico de dezembro do ano passado, as projeções eram de altas de 1,4% e de 2,1%, respectivamente.

Mercado de trabalho: números relativamente melhores, mas segue em desaceleração

Assim como no Brasil, a geração de empregos no mercado de trabalho do Rio Grande do Sul apresenta uma desaceleração em relação ao ano passado, mas em ritmo menos intenso do que o esperado, ainda mais se considerarmos que o Estado sofreu novamente com uma estiagem.

No acumulado do primeiro semestre, a economia gaúcha gerou 53 mil empregos com carteira assinada, 29% a menos que no mesmo período do ano passado (+75 mil). Com isso, o acumulado em 12 meses caiu de 100 mil em dezembro de 2022 para 78 mil em junho de 2023. Em função dos resultados observados até o momento, revisamos nossa projeção para a geração de empregos em 2023 para 54 mil postos de trabalho, ante perspectiva de 38 mil no Balanço Econômico em dezembro do ano passado. Cabe destacar que a revisão se deve exclusivamente aos melhores resultados esperados para o setor de Serviços (de 24 mil para 40 mil), dado que a previsão para a geração de empregos na Indústria permaneceu em 12 mil vagas criadas.

A taxa de desemprego fechou 2022 em 4,6% da força de trabalho e, seguindo o movimento sazonal, subiu para 5,4% no primeiro trimestre de 2023, o último dado disponível. Ambos resultados ficaram abaixo de nossas expectativas. Por conta disso e dos melhores números para a geração de empregos, revisamos nossa projeção para a taxa de desemprego no final de 2023 para 4,6%, com média anual de 5,0%. No final do ano passado, as projeções eram de 6,0% e 6,2%, respectivamente. Vale destacar que no Rio Grande do Sul não se verifica um movimento recente de saída de pessoas da força de trabalho como acontece no Brasil, mas o movimento de retorno que vinha acontecendo no pós-pandemia perdeu força nos últimos trimestres.

Balança comercial: cenário externo persiste desafiador

Tem-se reiterado em nossos Informes do Comércio Exterior, que as quantidades exportadas da Indústria de Transformação gaúcha têm caído nos últimos meses (-8,8% comparando-se o primeiro semestre de 2023 ante o mesmo período de 2022), enquanto os preços médios têm apresentado avanços módicos (+5,0%) o suficiente para evitar uma queda mais acentuada na receita das exportações da Transformação (-4,3%). De fato, o prenúncio dessa tendência foi utilizado em nossa última projeção, há seis meses. De lá para cá a tendência continuou a mesma, reiterando nossa expectativa de um cenário externo mais desafiador às exportações gaúchas, que finalizaram o ano de 2022 com US$ 22,6 bilhões em receita. Não esperamos que o quadro observado nas quantidades exportadas se reverta tão cedo, principalmente com os desdobramentos do novo acordo argentino com o FMI. Nosso cenário inicial para o acumulado de 2023 foi recalibrado de US$ 18,7 bilhões para US$ 19,7 bilhões para o final do ano.

Quanto às importações, a classe de produtos que o RS comumente mais importa é a de Bens intermediários (US$ 3,6 bilhões no primeiro semestre), utilizados como insumos para a produção de outras mercadorias, seguido de Combustíveis e lubrificantes (US$ 1,5 bilhão). Pois bem, houve retração de 12,5% na importação de Bens intermediários e avanço de 97,5% em Combustíveis e lubrificantes. A justificativa para a variação observada nessas classes é um mercado interno menos aquecido – com menor demanda por mercadorias da Indústria de Transformação – e a maior demanda do Estado por combustíveis, aqui explicado pela parada da Refap. O Rio Grande do Sul finalizou o ano de 2022 com US$ 15,6 bilhões em produtos importados, nossas projeções iniciais para o final de 2023 eram de US$ 14,5 bilhões. Recalibrando-se, nossas estimativas chegam à cifra de US$ 14,6 bilhões, um pouco acima daquilo que inicialmente prevíamos, justificado por uma maior demanda de combustíveis no primeiro semestre.

ICMS: sob efeito da PEC dos Combustíveis, baixo crescimento e queda na inflação

As projeções apontam um cenário pessimista para os cofres públicos do RS em 2023: a arrecadação de ICMS deve ser na ordem de R$ 44,6 bilhões, ante projeção de R$ 45,0 bilhões realizada em dezembro de 2022.

Conforme descrito no Informe nº 28, nos primeiros seis meses do ano, o Rio Grande do Sul deixou de arrecadar cerca de R$ 2,6 bilhões, em termos reais, queda de 10,2% em relação ao mesmo período do ano passado. A piora das expectativas ocorreu por três razões. Primeiramente, esperava-se um crescimento econômico muito mais robusto no RS (o avanço esperado para o PIB caiu pela metade). Em segundo lugar, as expectativas para a inflação também declinaram, de 5,2% para 4,8% em 2023 e, como todos bem sabem, menor inflação significa menor arrecadação. Por fim, no segundo semestre do ano passado, o Governo Federal determinou a redução das alíquotas de ICMS dos combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicação e transporte coletivo, de algo em torno de 25% para 17%, por entender que esses bens são essenciais e, por esse motivo, deveriam ter alíquota modal. Essa alteração custou aos cofres do Estado R$ 4,0 bilhões em 2022.

A redução observada no primeiro semestre não deve se repetir com a mesma intensidade no segundo, isso porque, o efeito base da redução das alíquotas de ICMS não deve ser o mesmo. Além disso, a modificação na forma de cobrança de ICMS sobre combustíveis, de uma alíquota para um valor fixo por litro, e a manutenção das tarifas TUST e TUSD sobre a energia elétrica, devem contribuir para a melhora da receita estadual.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20192020202120222023*
Agropecuária3,0-29,560,2-45,619,8
Indústria0,2-6,111,22,2-2,0
Serviços0,8-5,04,23,72,0
TOTAL1,1-7,210,6-5,12,5
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$482,464470,942584,602594,055638,133
Em US$2122,28291,317108,362115,018127,599
*Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária01732
Indústria-60472912
Indústria de Transformação-20432210
Construção-40572
Extrativa e SIUP700-100
Serviços26-43906840
TOTAL20-4214410054
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano7,38,68,14,64,6
Média do ano8,19,38,76,15,0
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações17,314,121,122,619,7
Indústria de Transformação12,510,414,117,216,1
Importações10,37,611,716,014,6
Balança Comercial6,96,59,46,65,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20192020202120222023*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)35,736,245,743,344,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Indicadores Industriais (% a.a.)

20192020202120222023*
Faturamento real3,0-3,18,95,9-3,7
Compras industriais-2,7-5,531,2-0,5-8,9
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)0,7-4,55,7-0,7-3,0
Massa salarial real-0,8-9,05,310,93,9
Emprego0,0-1,96,75,9-0,2
Horas trabalhadas na produção-0,9-5,515,28,4-1,0
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS0,1-4,712,94,1-3,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)2,5-5,59,01,1-3,3
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Gaúcha: Todas as variáveis foram alteradas.
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Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul

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