Ano 25 – Número 28 – 17 de julho de 2023

Informe Econômico

Deflação de junho deve ser encarada com cautela

Em junho, o Brasil registrou deflação de 0,08% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), conforme divulgado pelo IBGE na semana passada. Com essa leitura, o índice acumulado em 12 meses chegou a 3,16%, abaixo da meta de inflação para 2023 (3,25%).

Sazonalmente, junho, julho e agosto são meses em que a taxa de variação na margem é menor. No entanto, alguns fatores ajudaram o IPCA a cair ainda mais no mês de referência. O primeiro deles foi a queda dos preços dos combustíveis, que resultou em deflação de 1,85% no item. Esse número só não foi ainda mais negativo pois, houve a alteração da forma de cobrança do ICMS sobre esses itens, que passou de um valor fixo sobre o litro, ao invés de uma alíquota.

No mês, ainda tivemos a ação do programa de subsídios à venda de veículos, que causou uma redução nos preços de carros novos e usados, gerando uma queda de 0,34% no item de veículos próprios. Além disso, houve deflação em 11 dos 16 itens que compõem o grupo de Alimentos, sendo os destaques a queda de 2,10% em Carnes – resultado da retração do preço da ração animal devido à queda das commodities, como a soja e o milho – e de 5,32% de Óleos e gorduras.

Na composição do IPCA, o ponto negativo do mês ficou por conta da resiliência da inflação de serviços, que apresentou crescimento de 0,62% em junho, ante deflação de 0,06% em maio. Em 12 meses, o índice acumula alta de 6,2%. Por outro lado, os bens industriais sofreram deflação de 0,60%, menor variação para o mês de junho desde 2012. No acumulado em 12 meses, o índice foi de 4,0%, queda de 1,2 p.p. em relação ao mês anterior. Esses números dos componentes refletem as deflações históricas dos custos de produção, em que o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) acumula queda de 7,0% nesse ano. Quando analisamos as métricas mais qualitativas, tal como a média dos núcleos, a trajetória é de desaceleração. A média acumula alta de 6,2% até junho, redução de 0,7 p.p. em relação ao mês anterior e a 10º queda sob essa métrica.

Com esse resultado, esperamos que o Banco Central inicie o ciclo de corte da Selic no mês de agosto, de forma “cautelosa”, tal como descrito na ata, com redução de 25 pontos base. Nossa expectativa é que a Selic encerre 2023 em 12,00%.

Composição do IPCA

(Em % | Acumulado em 12 meses)

Fonte: Banco Central. Elaboração: UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS do RS cai 10,2% no primeiro semestre de 2023

De janeiro a junho de 2023, o Rio Grande do Sul arrecadou um total de R$ 21,2 bilhões em ICMS, valor 10,2% menor, em termos reais, do que o auferido no mesmo período do ano passado. Em valores monetários, a perda de arrecadação, nessa mesma base de comparação, foi de R$ 2,6 bilhões.

Dentre os 16 estados brasileiros que liberaram os dados de arrecadação do primeiro semestre, o RS é o oitavo com maior perda real, ficando à frente do Maranhão, Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo e Paraná. Apenas duas UFs experimentaram ganhos reais no semestre: Mato Grosso do Sul (+2,7%) e Rio Grande do Norte (+1,7%).

Dentre os grandes setores da economia gaúcha, a queda na arrecadação adveio do setor Industrial (-19,9%), que deixou de ceder aos cofres públicos R$ 2,9 bilhões, em termos reais. Dentre os segmentos, maior parte da redução é resultado do desempenho da Transformação (-13,7%) e dos Serviços Industriais de Utilidade Pública (-46,9%), enquanto a Indústria Extrativa (+32,0%) e Construção (+10,1%) aumentaram sua contribuição ao caixa gaúcho. Pelo lado de Serviços e Agropecuária, ambos apresentaram arrecadações maiores do que as vistas no primeiro semestre de 2022, em valores de R$ 512,3 milhões e R$ 1,7 milhão, respectivamente.

São duas as principais razões pelas quais o Rio Grande do Sul tem apresentado baixas receitas de ICMS. A primeira delas é conjuntural, tanto o processo inflacionário, quanto o ímpeto da atividade econômica estão em trajetória de retração. A indústria, a maior pagadora de impostos, obteve queda no PIB do primeiro trimestre, a atividade da Indústria de Transformação declinou 0,6% na comparação com o 4º trimestre do ano passado, enquanto a Extrativa e os SIUP cresceram 2,3% e 1,7%, respectivamente. Em segundo lugar, em junho de 2022 foi sancionada a lei que limitou a cobrança do ICMS de combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicação e transporte coletivo a uma alíquota geral de 17,0%, o que influenciou a queda forte sobre esses itens.

No segundo semestre, no entanto, algumas medidas anunciadas devem trazer ânimo à arrecadação do Estado, que não deve ser tão intensa quanto as vistas em 2021 e 2022; No entanto, não será tão baixa quanto se esperava até o início desse ano. Dentre essas medidas se destacam: modificação da cobrança de ICMS, de ad valorem para ad rem e a manutenção das tarifas TUST (Tarifa de Uso de Sistema de Transmissão) e TUSD (Tarifa de Uso de Sistema de Distribuição) de energia elétrica na base de cálculo do ICMS.

Arrecadação de ICMS do RS

(Em valores reais | IPCA jun/23)

2022
(Em bi de R$)
2023
(Em bi de R$)
Var. real
(Em %)
Agropecuária0,10,21,1
Indústria14,511,6-19,9
Extrativa0,00,132,0
Transformação11,610,0-13,7
SIUP*2,81,5-46,9
Construção0,00,010,1
Serviços8,59,06,0
Comércio6,57,110,2
Outros Serviços2,01,9-7,4
Sem identificação0,60,6-10,8
Total23,821,4-10,2
Fonte: Receita Dados. Elaboração: UEE/FIERGS. *Serviços Industriais de Utilidade Pública.

Atividade industrial voltou a crescer em maio

A pesquisa Indicadores Industriais do RS, realizada mensalmente pela FIERGS, mostrou que o nível de atividade do setor, aferido pelo Índice de Desempenho Industrial (IDI/RS), voltou a crescer em maio: 2,0% na comparação ajustada sazonalmente com abril. O índice não crescia desde novembro de 2022 na mesma métrica e, desde o último mês de agosto, foi apenas a segunda alta, acumulando queda de 7,2% no período. Apesar disso, a atividade industrial ainda estava, em maio de 2023, 7,5% acima do nível pré-pandemia (fevereiro de 2020).

Índice de Desempenho Industrial (IDI) – RS

(Índice de base fixa mensal – 2006=100)

Fonte: UEE/FIERGS.

A expansão da atividade industrial gaúcha na passagem de abril para maio foi puxada, principalmente, pelos crescimentos do faturamento real (+3,5%) e das compras industriais (+3,7%). Também avançaram a massa salarial real (+0,5%) e a utilização da capacidade instalada-UCI (+0,5 p.p.), que atingiu 78,5% no mês. O emprego, por sua vez, ficou praticamente estável (-0,1%) enquanto as horas trabalhadas na produção caíram (-0,5%), sempre na margem, na série com ajuste sazonal.

A tendência negativa na margem repercute nos resultados anuais. Na comparação entre os meses de maio de 2022 e 2023, o IDI/RS caiu 1,0%, a menos intensa entre as cinco quedas de 2023. No acumulado dos primeiros cinco meses do ano, a atividade industrial no Estado recuou 2,3% relativamente ao período equivalente de 2022, destacando que o IDI/RS de maio deixou um carregamento estatístico de -3,3% para o ano. Quer dizer que se o nível de atividade estabilizar na margem até o fim do ano, terminará 2023 com queda de 3,3% ante 2022.

Dos seis componentes do IDI/RS, três dos mais associados à produção, apresentaram queda no acumulado de janeiro a maio de 2023, frente aos cinco primeiros meses do ano passado. As compras industriais, que reduziram 9,1%, foram o destaque negativo. Nesse componente estão os insumos e as matérias-primas, inclusive manufaturadas, utilizadas na produção. Já o faturamento real apresentou queda de 3,1% e a UCI (grau médio de 78,6% em 2023), redução de 2,3 p.p..  As horas trabalhadas na produção, por sua vez, ficaram estáveis nessa métrica. Por outro lado, cresceram os indicadores de mercado de trabalho: o emprego (+1,1%) e a massa salarial real (+7,2%).

Variação %
Mês anterior*Mês ano anteriorAc. ano
Índice de desempenho industrial2,0-1,0-2,3
Faturamento real3,5-4,5-3,1
Horas Trabalhadas na produção-0,50,80,0
Emprego-0,10,01,1
Massa salarial real0,55,27,2
UCI (em p.p.)0,5-2,8-2,3
Compras Industriais3,70,1-9,1
Fonte: UEE/FIERGS. *Série dessazonalizada

No acumulado do ano até maio, o quadro negativo é generalizado, com 10 dos 16 setores pesquisados em baixa na comparação com os cinco primeiros meses de 2022. Produtos de metal (-7,4%), Químicos, derivados de petróleo e biocombustíveis (-4,2%), Máquinas e equipamentos (-2,9%), Metalurgia (-16,3%) e Veículos automotores (-2,3%) foram, pela ordem, os que mais impactaram negativamente o nível de atividade da indústria gaúcha. Por outro lado, as contribuições positivas mais importantes vieram de Alimentos (+3,0%), Couros e calçados (+2,7%), Equipamentos de informática e eletrônicos (+9,1%) e Móveis (+4,4%).

Índice de desempenho industrial do RS – Setorial

(Variação jan-mai 2023/22 – %)

Fonte: UEE/FIERGS.

Apesar da alta da atividade no mês, os Indicadores Industriais do RS de maio não mostraram mudança relevante na trajetória recente da indústria gaúcha, oscilante na margem com clara tendência negativa desde o final do ano passado. A incerteza econômica, a taxa de juros elevada e os baixos níveis da demanda e da confiança empresarial são os principais fatores que atualmente restringem a atividade industrial gaúcha.

Como tal cenário não deve melhorar substancialmente nos próximos meses, não há perspectiva de uma retomada consistente do setor no curto prazo. Porém, com a redução da inflação, a perspectiva de queda dos juros, a menor incerteza com relação ao arcabouço fiscal e a aprovação da Reforma Tributária pela Câmara dos Deputados, o mais provável é uma recuperação (ainda com sinais erráticos) lenta e gradual na margem, em linha com o dinamismo previsto para a economia brasileira.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20192020202120222023*
Agropecuária0,44,20,3-1,711,0
Indústria-0,7-3,04,81,60,8
Serviços1,5-3,75,24,21,4
TOTAL1,2-3,35,02,92,0
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$7,3897,6108,8999,91510,576
Em US$21,8731,4761,6491,9202,015
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS.

Inflação (% a.a.)

20192020202120222023*
IGP-M 7,323,117,85,51,6
INPC4,55,410,25,95,1
IPCA4,34,510,15,85,3
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Extrativa Mineral-9,7-3,41,0-3,2-0,1
Transformação0,2-4,64,3-0,41,2
Indústria Total3-1,1-4,53,9-0,71,1
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária13371466515
Indústria97149722446129
Indústria de Transformação134844021763
Construção719724519458
Extrativa e SIUP413337358
Serviços534-3781.9091.527406
TOTAL644-1932.7772.038550
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano11,114,211,17,98,5
Média do ano12,013,813,29,38,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações221,1209,2280,8334,5276,0
Importações185,9158,8219,4272,7220,0
Balança Comercial35,250,461,461,856,0
*Projeção UEE/FIERGS.

Moeda e Juros

20192020202120222023*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)4,502,009,2513,7512,00
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)54,028,97,4-6,5-3,4
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)4,035,205,585,225,05
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS.

Setor Público (% do PIB)

20192020202120222023*
Resultado Primário-0,8-9,40,81,3-1,4
Juros Nominais-5,0-4,2-5,2-6,0-6,6
Resultado Nominal-5,8-13,6-4,4-4,7-8,0
Dívida Líquida do Setor Público54,762,557,357,561,0
Dívida Bruta do Governo Geral74,488,680,373,579,9
*Projeção UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20192020202120222023*
Agropecuária3,0-29,560,2-45,638,7
Indústria0,2-6,111,22,21,2
Serviços0,8-5,04,13,71,5
TOTAL1,1-7,210,6-5,15,0
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$482,464470,942584,602594,968659,929
Em US$2122,28291,317108,362115,195125,299
*Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária01441
Indústria-60482912
Indústria de Transformação-20432210
Construção-40573
Extrativa e SIUP700-110
Serviços26-43906824
TOTAL20-4314110138
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano7,38,68,14,66,0
Média do ano8,19,38,76,16,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações17,314,121,122,418,7
Industriais12,510,414,117,216,1
Importações10,37,611,716,013,5
Balança Comercial6,96,59,46,45,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20192020202120222023*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)35,736,245,743,345,0
*Projeção UEE/FIERGS.

Indicadores Industriais (% a.a.)

20192020202120222023*
Faturamento real3,0-3,18,96,13,4
Compras industriais-2,7-5,531,22,72,1
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)0,7-4,55,6-1,10,7
Massa salarial real-0,8-9,05,310,83,3
Emprego0,0-1,96,75,91,6
Horas trabalhadas na produção-0,9-5,515,28,32,5
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS0,1-4,712,94,72,1
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)2,5-5,59,01,11,4
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Não houve alterações
Economia Gaúcha: Não houve alterações.
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Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul

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