Ano 25 – Número 26 – 3 de julho de 2023

Informe Econômico

Sinais de desaquecimento na China

Segundo analisamos no Informe n° 22 de 2023, o mercado imobiliário chinês tem apresentado preços de novas residências em patamares cada vez menores. A perda de ímpeto nessas quedas, no entanto, mostra-se como ponto positivo, visto a fraca recuperação desse importante mercado agir como uma espécie de termômetro para a economia chinesa, em sendo que no mês de maio houve o primeiro avanço nesse índice depois de mais de 10 quedas consecutivas. Em particular, a fraca recuperação do setor aliado ao fraco desempenho industrial tem acendido alertas quanto ao bom desempenho histórico dessa economia.

Segundo os dados mais recentes da World of Steel, que compila na base mensal a produção de aço nas principais economias do globo, a produção mundial encolheu 5,2% em maio, ante o mesmo período de 2022, a produção nacional apresentou retração de 5,5% e a chinesa retraiu 7,3%. Em situações de desaceleração como essa, as autoridades de Pequim fazem uso de injeções maciças de estímulos no tecido econômico, principalmente no mercado imobiliário que, devido às suas características de encadeamento econômico, tem a capacidade de gerar maior demanda por mão de obra e efeitos de espraiamento para os outros setores do sistema. Infelizmente esse mercado parece apresentar saturamento. De maneira concomitante, o governo chinês tem se limitado a estímulos módicos à demanda agregada. Segundo a China Iron and Steel Association, quase metade das principais usinas apresentou prejuízo nos primeiros cinco meses do ano. A preocupação com os preços do minério de ferro tem sido um dos principais pontos de preocupação do setor, segundo a entidade.  

            Com a queda da política de Covid-zero, esperava-se uma recuperação mais forte da economia desse país. No entanto, após um primeiro trimestre positivo, os números recentes não parecem apontar para essa direção. De maneira adicional, um dos principais componentes da demanda, o consumo das famílias, parece não apresentar resultados fortes. Com desemprego batendo nível recorde (20,8% em maio) nas camadas mais jovens da população (16 a 24 anos) – aquela que apresenta maior propensão a consumir e, também, a que tem a renda mais dependente do setor imobiliário. Quanto à demanda externa por mercadorias chinesas, essa apresentou encolhimento de 7,5%, comparando-se maio com o mesmo período de 2022. O nível das importações chinesas também apresentou retração (-4,5%) sinalizando um mercado interno menos aquecido. A China é o principal destino das exportações gaúchas, e um importante parceiro comercial do Brasil, com menor crescimento por lá espera-se menor demanda por produtos gaúchos e brasileiros, de maneira geral.

Inflação na Europa, intervenção nos preços?

A inflação ao consumidor na Europa, no acumulado em 12 meses, atingiu a marca de 5,5% em junho, bem abaixo do pico de 10,6% em outubro de 2022. Um dos principais componentes da inflação, os preços dos produtos alimentícios, no entanto, ainda se mostra resiliente. Com o intuito de frear o avanço dos custos de vida da população, alguns governos europeus começaram a pressionar empresas alimentícias para que essas diminuam suas margens de lucro com o objetivo de baratear os preços dos produtos alimentícios. Embora ainda não haja efetivamente tabelamento de preços – o mais próximo que se chegou, até o momento, foi o discurso do Primeiro Ministro britânico, Rishi Sunak, sobre o assunto – ou legislação na direção de limites de margens de lucro – o ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, sinalizou que pode expor nomes de empresas assim como criar impostos especiais sobre o lucro dessas –, os temores sobre essas políticas estão acesos.

O sistema de preços, em uma economia de mercado, apresenta a característica de sinalizador. Isto é, por meio do processo de produção, de compra e de venda de mercadorias, feita de maneira totalmente descentralizada, o sistema organiza de maneira efetiva em quais setores deve-se alocar insumos para a produção. É de se esperar que os setores que apresentarem maiores margens de lucros sejam aqueles nos quais haverá maior incentivo à produção. A intervenção no sistema de preços da economia, portanto, embaralha os sinais do sistema e diminui sua eficiência produtiva. Para tanto, deve-se diferenciar aumento de preços devido à eficiência alocativa de aumento de preços devido à inflação. Enquanto o primeiro refere-se a uma reestruturação produtiva para equalizar oferta e demanda, o segundo deve-se à distorção exógenas a esse sistema. A partir dessa breve explicação, compreende-se o porquê de os recorrentes tabelamentos de preços e fixação de margens de lucros serem fadados ao fracasso. Essas políticas interferem-se justamente nos sinais necessários para o processo produtivo. Compreende-se que o combate à inflação deve seguir por meio da utilização da política monetária e fiscal e evitar-se ao máximo a intervenção deliberada e irresponsável no sistema de preços. O tabelamento, assim como limites às margens de lucro, age no sentido de desincentivar a produção dessas mesmas mercadorias. Não esperamos que esse tipo de intervenção vá para a frente ainda que tenham sido vocalizadas.

Desaceleração na geração de empregos segue em curso na Indústria gaúcha

Na última quinta-feira (29/06), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou as estatísticas do Novo CAGED referentes ao mês de maio de 2023. O Rio Grande do Sul apresentou saldo negativo de 2,5 mil postos de trabalho, um resultado de certa forma esperado por conta da sazonalidade negativa do mês: nos últimos 12 anos (2012-2023), apenas em 2021 e 2022 houve geração de empregos na economia do RS em maio, o que ajuda a ilustrar o quão “fora da curva” foram os dois últimos anos para o mercado de trabalho gaúcho.

Dos três grandes setores de atividade, somente os Serviços abriram vagas em maio (+2,5 mil). A Agropecuária fechou 3,8 mil empregos, principalmente por conta do fim da safra da maçã, atividade responsável pelo fechamento de 2,1 mil postos. Na Indústria (-1,2 mil), o saldo negativo foi determinado pela Construção (-686 vagas) e Transformação (-523 vagas), com desempenho bastante negativo do segmento de Couro e calçados (-1,1 mil).

Analisando-se a trajetória dos últimos anos, é possível perceber que a desaceleração na geração de empregos segue em curso na Indústria do RS. Conforme o gráfico abaixo, o saldo de postos de trabalho no acumulado em 12 meses, que chegou a 72 mil em julho de 2021, atualmente encontra-se em 18 mil vagas criadas. Os números ainda são positivos, mas apontam para baixo. O cenário de juros elevados, desaceleração da economia mundial e incertezas no ambiente doméstico ajudam a explicar as menores contratações por parte dos industriais do RS.

Geração de empregos na Indústria do RS

(Saldo em mil vagas | Acumulado em 12 meses)

Fonte: Novo CAGED/Ministério do Trabalho e Emprego. Elaboração: UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20192020202120222023*
Agropecuária0,44,20,3-1,73,0
Indústria-0,7-3,04,81,61,0
Serviços1,5-3,75,24,20,8
TOTAL1,2-3,35,02,91,0
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$7,3897,6108,8999,91510,576
Em US$21,8731,4761,6491,9202,015
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS.

Inflação (% a.a.)

20192020202120222023*
IGP-M 7,323,117,85,51,6
INPC4,55,410,25,95,1
IPCA4,34,510,15,85,3
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Extrativa Mineral-9,7-3,41,0-3,2-0,1
Transformação0,2-4,64,3-0,41,2
Indústria Total3-1,1-4,53,9-0,71,1
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária13371466515
Indústria97149722446129
Indústria de Transformação134844021763
Construção719724519458
Extrativa e SIUP413337358
Serviços534-3781.9091.527406
TOTAL644-1932.7772.038550
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano11,114,211,17,98,5
Média do ano12,013,813,29,38,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações221,1209,2280,8334,5276,0
Importações185,9158,8219,4272,7220,0
Balança Comercial35,250,461,461,856,0
*Projeção UEE/FIERGS.

Moeda e Juros

20192020202120222023*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)4,502,009,2513,7512,00
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)54,028,97,4-6,5-3,4
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)4,035,205,585,225,05
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS.

Setor Público (% do PIB)

20192020202120222023*
Resultado Primário-0,8-9,40,81,3-1,4
Juros Nominais-5,0-4,2-5,2-6,0-6,6
Resultado Nominal-5,8-13,6-4,4-4,7-8,0
Dívida Líquida do Setor Público54,762,557,357,561,0
Dívida Bruta do Governo Geral74,488,680,373,579,9
*Projeção UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20192020202120222023*
Agropecuária3,0-29,560,2-45,638,7
Indústria0,2-6,111,22,21,2
Serviços0,8-5,04,13,71,5
TOTAL1,1-7,210,6-5,15,0
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$482,464470,942584,602594,968659,929
Em US$2122,28291,317108,362115,195125,299
*Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária01441
Indústria-60482912
Indústria de Transformação-20432210
Construção-40573
Extrativa e SIUP700-110
Serviços26-43906824
TOTAL20-4314110138
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano7,38,68,14,66,0
Média do ano8,19,38,76,16,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações17,314,121,122,418,7
Industriais12,510,414,117,216,1
Importações10,37,611,716,013,5
Balança Comercial6,96,59,46,45,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20192020202120222023*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)35,736,245,743,345,0
*Projeção UEE/FIERGS.

Indicadores Industriais (% a.a.)

20192020202120222023*
Faturamento real3,0-3,18,96,13,4
Compras industriais-2,7-5,531,22,72,1
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)0,7-4,55,6-1,10,7
Massa salarial real-0,8-9,05,310,83,3
Emprego0,0-1,96,75,91,6
Horas trabalhadas na produção-0,9-5,515,28,32,5
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS0,1-4,712,94,72,1
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)2,5-5,59,01,11,4
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Alteramos a previsão para a taxa de juros.
Economia Gaúcha: Não houve alterações.
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Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul

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