Ano 25 – Número 18 – 8 de maio de 2023

Informe Econômico

Selic é mantida em 13,75% através de um comunicado mais brando

Na última quarta-feira (02/05), o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou a manutenção da taxa Selic em 13,75%, o décimo mês seguido sob esse patamar e o maior desde 2016. A decisão veio em linha com o consenso de mercado e o comunicado trouxe um tom mais apaziguador para o cenário.

Quais foram os fatores que pautaram a decisão da política monetária?

Durante os 45 dias, período entre uma reunião e outra, o cenário de inflação do BC foi contaminado com riscos vindos de todas as direções. As expectativas de inflação oscilaram em +0,1 p.p. em todo o horizonte, de 2023 a 2025. Esse movimento se sucedeu, sobremaneira, à tramitação do Novo Arcabouço Fiscal, o qual trouxe uma regra fiscal pouco crível, dado sua indexação via receita pública, instrumento que preocupa dado seu caráter cíclico e o atual nível de carga tributária. Além disso, ficou estabelecido que o descumprimento da meta de resultado primário não configura infração e o contingenciamento de despesas não é mais obrigatório. Em resumo, a medida apresentada não leva à estabilização da trajetória da dívida pública.

O último IPCA do mês de março, trouxe consigo espaço para expectativas menos voláteis, dado que o índice acumulado em 12 meses chegou a 4,7%, 0,9 p.p. menor do que o número de fevereiro. No entanto, medidas mais qualitativas, tal como a média dos núcleos de inflação, estão em patamares muito superiores ao centro da meta. Além disso, a leitura na ponta, a qual fazemos através da média móvel de 3 meses ajustada pela sazonalidade e anualizada (Gráfico abaixo), já mostra crescimento na margem, passando de 6,2% em fev/23 para 6,7% em mar/23, reforçando a mensagem de que há espaço para novos aumentos de inflação.

IPCA acumulado em 12 meses vs. IPCA média móvel 3 meses anualizada

(Em %)

Fonte: IBGE. Banco Central. Elaboração: UEE/FIERGS.

Pelo lado da atividade, a palavra resumo é desaceleração. Entre os setores, a Produção Industrial e o Varejo recuaram no mês de fevereiro (0,2% e 0,1%, respectivamente), enquanto os Serviços ainda se mostram resilientes, ao avançarem 1,1%. Pelo canal de crédito, também é possível verificar sinais de desaquecimento. Se observarmos as concessões, percebe-se desaceleração nos últimos meses, principalmente por conta da menor demanda do setor produtivo. Os dois últimos meses foram marcados por recuos consecutivos na margem nas concessões para PJ, na ordem de 5,0% e 3,0%, respectivamente. Com relação ao mercado de trabalho, a geração de empregos segue o movimento de desaceleração iniciado ainda em 2021, mas o dado de março veio positivo. O CAGED de fevereiro veio com criação de 245 mil postos de trabalho, pior número para o mês desde 2021, enquanto o número de março surpreendeu com a criação de 195 mil vagas (o mercado esperava abertura de 90 mil).

Concessão de crédito para PJ – Brasil

(Média Móvel 3M | Em bi. de R$ | Valores reais, IPCA mar/23, dessazonalizados)

Fonte: Banco Central. Elaboração: UEE/FIERGS.

Outros fatores que trouxe perspectiva de um cenário inflacionário melhor do que a dos últimos meses, foi a queda dos preços das commodities, devido à perspectiva de desaceleração da atividade global, acentuada pelas condições financeiras mais adversas, dado o cenário de crise bancária.  

Qual foi o tom utilizado pelo Comitê durante seu comunicado?

O Banco Central utilizou um tom mais Dovish do que o esperado pelo mercado para anunciar o patamar da taxa básica de juros. Ele destacou que, em um cenário muito pouco provável, não hesitará em retornar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não ocorra como o esperado. Adicionalmente, reiterou que os próximos passos futuros serão definidos com paciência e serenidade.

Com relação à política fiscal, o COPOM destacou que a nova proposta fiscal reduziu “parte da incerteza” do cenário. E afirmou, novamente, a ausência de uma relação mecânica (ou direta) entre a convergência de inflação e a apresentação da nova regra, dado que a primeira está condicionada à expectativa de inflação, projeção da dívida e preços de ativos e não, simplesmente, pelo discurso de comprometimento do Governo Federal com o equilíbrio fiscal.

Nossa avaliação é de que o Banco Central já observa um cenário melhor sobre o processo inflacionário. Observação constatada na montagem do cenário alternativo do comunicado: quando mantida a Selic em 13,75% ao longo de 2023 e 2024, as projeções de inflação para 2024 é de 2,9%, ou seja, abaixo da meta de 3,0%. Na reunião de fevereiro, sob esse mesmo cenário, o IPCA de 2024 era de 3,1%.

Para a próxima reunião, ainda esperamos que o Banco Central mantenha o atual nível da taxa básica de juros, principalmente porque, no decorrer desse período, teremos as primeiras votações no Congresso sobre o Novo Arcabouço Fiscal que, a depender do seu desenho, deve trazer maior volatilidade ao cenário e oscilações nas expectativas.

Geração de empregos: apesar da surpresa positiva de março, acumulado do ano mostra desaceleração em relação a 2022

O Rio Grande do Sul abriu 12,2 mil postos de trabalho em março de 2023. No mesmo mês de 2022, o ganho foi de 11,1 mil vagas, de acordo com os dados do Novo CAGED, divulgados em 27 em abril pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Geração de empregos formais – Março de 2023

(Saldo líquido em número de vagas)

Rio Grande do SulBrasil
mar/22*mar/23mar/22*mar/23
Agropecuária-2.805-4.108-18.871-332
Indústria8.3715.03224.58554.625
     Indústria Extrativa18-177901.566
     Indústria de Transformação8.0365.8422.87917.876
     SIUP-6422.0901.542
     Construção323-83518.82633.641
Serviços5.51211.24593.072140.878
     Comércio-443.731-8.89118.555
     Outros serviços5.5567.514101.963122.323
TOTAL DA ECONOMIA11.07812.16998.786195.171
*Ajustado com as declarações enviadas fora do prazo. SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública (eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana). Fonte: Novo CAGED/Ministério do Trabalho e Emprego.

Dos três grandes setores de atividade, somente um, o de Agropecuária, fechou vagas no mês (-4,1 mil). Serviços e Indústria apresentaram aberturas de 11,2 mil e 5,0 mil, respectivamente. Na Indústria de Transformação, 20 dos 24 segmentos abriram vagas de empregos. Os destaques positivos no mês de março na Indústria de Transformação gaúcha foram:

  • Tabaco (+3,4 mil), o aumento decorre principalmente de questões sazonais. Em especial, o ramo de Processamento Industrial do Tabaco foi o que mais se destacou com mais 3,3 mil vagas;
  • Alimentos (+644), por conta do bom desempenho das contratações ligadas ao beneficiamento do arroz (+441);
  • Outros equipamentos de transporte (+521), influenciado principalmente pela Construção de embarcações de grande porte (+486). As contratações ocorreram principalmente em São José do Norte (+487), município ligado ao Polo Naval de Rio Grande.

Por outro lado, os destaques negativos da Indústria de Transformação gaúcha em março foram:

  • Bebidas (-323), puxado pela Fabricação de bebidas alcoólicas (-339);
  • Couro e calçados (-182), com destaque para a Fabricação de partes para calçados de qualquer material (-192).

O Brasil abriu 195,2 mil postos de trabalho em março de 2023. Dos três grandes setores, somente a Agropecuária fechou vagas (-332). Indústria (+54,6 mil) e ao Serviços (+140,9 mil) abriram postos de trabalho. Na Indústria de Transformação, 16 dos 24 segmentos abriram vagas de empregos no mês, sendo destaques positivos os segmentos de Alimentos (+4,7 mil), Tabaco (+3,6 mil) e Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+1,9 mil). Quanto aos destaques negativos, as maiores perdas ocorreram em Equipamentos de Informática (-464) e Veículos automotores (-457).

ACUMULADO DE 2023                

No acumulado de janeiro a março de 2023, o Rio Grande do Sul abriu 42,2 mil postos de trabalho. O saldo foi menor que o registrado no mesmo período de 2022, onde houve geração de 55,5 mil empregos.

Geração de empregos formais – Acumulado de 2023

(Saldo líquido em número de vagas)

Rio Grande do SulBrasil
Acumulado
jan-mar/22*
Acumulado
jan-mar/23*
Acumulado
jan-mar/22*
Acumulado
jan-mar/23*
Agropecuária6.4585.09324.44140.048
Indústria31.11123.153197.364190.268
     Indústria Extrativa72-83.1433.226
     Indústria de Transformação28.60621.19291.10889.303
     SIUP653978.0293.435
     Construção2.3681.57295.08494.304
Serviços17.93413.995397.517295.857
     Comércio-3.838-684-59.075-33.233
     Outros serviços21.77214.679456.592329.090
TOTAL DA ECONOMIA55.50342.241619.322526.173
*Ajustado com as declarações enviadas fora do prazo. SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública (eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana). Fonte: Novo CAGED/Ministério do Trabalho e Emprego.

Entre as Unidades da Federação, o Rio Grande do Sul ficou em quinto lugar na geração de vagas em 2023, atrás de São Paulo (+136 mil), Minas Gerais (+64 mil), Santa Catarina (+48 mil), e Paraná (+44 mil).

Todos os grandes setores de atividade abriram novas vagas no acumulado do ano, com destaque para os Serviços (+14,0 mil, representando 33,1% do saldo total) e o menor saldo verificado na Agropecuária (+5,1 mil). A Indústria gerou 23,2 mil postos (Transformação: +21,2 mil; Construção: +1,6 mil; Serviços Industriais de Utilidade Pública: +397; e Extrativa: -8). Entre os 24 segmentos da Indústria de Transformação 23 apresentaram saldo positivo. Os destaques foram:

  • Tabaco (+10,7 mil), com destaque para a Processamento industrial de tabaco (+10,4 mil);
  • Couro e calçados (+2,3 mil), devido ao bom desempenho em Fabricação de calçados de material sintético (+1,3 mil);
  • Alimentos (+1,8 mil), por conta do bom desempenho na contratação de beneficiamentos do arroz (+1,6 mil);

Por outro lado, o único segmento que apresentou fechamento de vagas na Indústria de Transformação do Rio Grande do Sul no acumulado de 2023 foi o de Fabricação de produtos Farmacêuticos (-66).

O Brasil gerou mais de 526,2 mil postos de trabalho no primeiro trimestre, um resultado que também se mostrou menor que o verificado no primeiro trimestre de 2022 (+619,3 mil). Entre os grandes setores, todos apresentaram saldo positivo no primeiro trimestre de 2023: Serviços (+295,8 mil), Indústria (+190,3 mil) e Agropecuária (+40,0 mil).

Na Indústria, vale destacar o bom desempenho na geração de vagas da Construção (+94,3 mil) e da Indústria de Transformação (+89,3 mil). Na Indústria de Transformação, 20 dos 24 segmentos apresentaram acréscimo de postos, com destaque para Alimentos (+16,4 mil), Tabaco (+11,8 mil) e Produtos de Metal (+8,0 mil). Por outro lado, a maior perda foi em Minerais não-metálicos (-1,2 mil).

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20192020202120222023*
Agropecuária0,44,20,3-1,73,0
Indústria-0,7-3,04,81,61,0
Serviços1,5-3,75,24,20,8
TOTAL1,2-3,35,02,91,0
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$7,3897,6108,8999,91510,576
Em US$21,8731,4761,6491,9202,015
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS

Inflação (% a.a.)

20192020202120222023*
IGP-M 7,323,117,85,54,7
INPC4,55,410,25,95,8
IPCA4,34,510,15,86,2
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Extrativa Mineral-9,7-3,41,0-3,2-0,1
Transformação0,2-4,64,3-0,41,2
Indústria Total3-1,1-4,53,9-0,71,1
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária13371466515
Indústria97149722446129
Indústria de Transformação134844021763
Construção719724519458
Extrativa e SIUP413337358
Serviços534-3781.9091.527406
TOTAL644-1932.7772.038550
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano11,114,211,17,98,5
Média do ano12,013,813,29,38,8
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações221,1209,2280,8334,5276,0
Importações185,9158,8219,4272,7220,0
Balança Comercial35,250,461,461,856,0
*Projeção UEE/FIERGS

Moeda e Juros

20192020202120222023*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)4,502,009,2513,7513,75
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)54,028,97,4-6,52,5
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)4,035,205,585,225,35
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS

Setor Público (% do PIB)

20192020202120222023*
Resultado Primário-0,8-9,40,81,3-1,4
Juros Nominais-5,0-4,2-5,2-6,0-6,6
Resultado Nominal-5,8-13,6-4,4-4,7-8,0
Dívida Líquida do Setor Público54,762,557,357,561,0
Dívida Bruta do Governo Geral74,488,680,373,579,9
*Projeção UEE/FIERGS

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20192020202120222023*
Agropecuária3,0-29,560,2-45,638,7
Indústria0,2-6,111,22,21,2
Serviços0,8-5,04,13,71,5
TOTAL1,1-7,210,6-5,15,0
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$482,464470,942584,602594,968659,929
Em US$2122,28291,317108,362115,195125,299
*Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária01441
Indústria-60482912
Indústria de Transformação-20432210
Construção-40573
Extrativa e SIUP700-110
Serviços26-43906824
TOTAL20-4314110138
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano7,38,68,14,66,0
Média do ano8,19,38,76,16,2
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações17,314,121,122,418,7
Industriais12,510,414,117,216,1
Importações10,37,611,716,013,5
Balança Comercial6,96,59,46,45,2
*Projeção UEE/FIERGS

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20192020202120222023*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)35,736,245,743,345,0
*Projeção UEE/FIERGS

Indicadores Industriais (% a.a.)

20192020202120222023*
Faturamento real3,0-3,18,96,13,4
Compras industriais-2,7-5,531,22,72,1
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)0,7-4,55,6-1,10,7
Massa salarial real-0,8-9,05,310,83,3
Emprego0,0-1,96,75,91,6
Horas trabalhadas na produção-0,9-5,515,28,32,5
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS0,1-4,712,94,72,1
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)2,5-5,59,01,11,4
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Não houve alterações.
Economia Gaúcha: Não houve alterações.
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.

Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul

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