Ano 25 – Número 42 – 23 de outubro de 2023

Informe Econômico

Saldo de crédito para a Indústria cai e inadimplência segue em alta no Rio Grande do Sul

De acordo com dados do Sistema de Informações de Créditos – SCR, divulgados pelo Banco Central, em julho de 2023, o saldo da carteira de operações de crédito para a Indústria no Rio Grande do Sul manteve a tendência de queda dos últimos meses. A Indústria de Transformação foi o setor que apresentou o pior resultado ante o mesmo mês do ano anterior.

Conforme se verifica da tabela abaixo, a Indústria se destacou negativamente em relação ao saldo da carteira de operações de crédito no estado. Enquanto o saldo do Rio Grande do Sul aumentou 7,1% em julho de 2023, e o saldo da carteira de pessoas jurídicas cresceu 1,5%, a Indústria registrou uma variação negativa de -0,6%. Esse resultado desfavorável foi decorrente principalmente da Indústria de Transformação, que teve uma queda significativa de -6,1%. Além disso, o segmento da Indústria Extrativa também apresentou resultado negativo, com variação de -5,8%. Os segmentos que apresentaram desempenho positivo da carteira foram Construção, com um aumento de 28,9% e os Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUP), que cresceram 13,7%.

Saldo real da carteira de operações de crédito por segmento no Rio Grande do Sul

(em bilhões de R$)

Julho/23Julho/22Var. %
Pessoas Jurídicas132,2130,31,5
Indústria*52,953,3-0,6
SIUP**5,85,113,7
Indústria de transformação39,842,4-6,1
Indústria extrativa0,310,33-5,8
Construção7,05,428,9
TOTAL DO ESTADO378,5353,37,1
Fonte: Banco Central. Nota: saldo da carteira é calculado como a soma dos valores dos vencimentos a vencer e vencidos das operações de crédito, cujas informações são coletadas a partir do Sistema de Informações de Créditos – SCR. *O saldo da carteira da Indústria foi calculado a partir da soma das carteiras das atividades econômicas industriais. **O saldo dos Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUP) foi calculado a partir da totalização do saldo da carteira dos segmentos de Eletricidade e gás e Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação. Os montantes foram atualizados pelo IPCA a valores de set/2023.

Nos últimos meses, a tendência tem sido de uma deterioração no desempenho desses setores em relação ao mesmo período do ano anterior. Os últimos meses, junho e julho de 2023, representam os piores resultados desde fevereiro de 2018 para o segmento da Indústria de Transformação, quando a economia se recuperava da maior crise econômica da década. Ainda que a queda no saldo da carteira de operações de crédito decorra em boa parte do aperto promovido pelo Banco Central e aumento das taxas de juros, é importante notar que o resultado da Indústria parece ser mais sensível a essas mudanças de política monetária do que os demais setores da economia.

Variação da carteira de operações de crédito por segmento no Rio Grande do Sul em relação ao mesmo período do ano anterior

(em %)

Fonte: Banco Central. Nota: saldo da carteira é calculado como a soma dos valores dos vencimentos a vencer e vencidos das operações de crédito, cujas informações são coletadas a partir do Sistema de Informações de Créditos – SCR. O saldo da carteira da Indústria foi calculado a partir da soma das carteiras das atividades econômicas industriais. Os montantes foram atualizados pelo IPCA a valores de set/2023.

Outro ponto de destaque é a inadimplência da carteira de pessoas jurídicas no Rio Grande do Sul que atingiu 1,76% em julho/2023 na série dessazonalizada, indicando um aumento em relação aos meses anteriores e uma possível deterioração na qualidade das operações de crédito. No setor da Indústria, a inadimplência atingiu 1,79%, enquanto a Indústria de Transformação apresentou um valor ligeiramente mais elevado, atingindo 1,82%, pior resultado desde janeiro/2021, ambos na série com ajuste sazonal. É importante notar que a série de inadimplência do setor industrial vinha abaixo da inadimplência de pessoas jurídicas no estado desde meados de 2021.

Taxa de inadimplência por segmento no Rio Grande do Sul

(Em % | com ajuste sazonal)

Fonte: Banco Central. Nota: a taxa de inadimplência da Indústria foi calculada a partir da ponderação das séries de inadimplência das atividades econômicas industriais.

Os resultados apresentados indicam que o mercado de crédito para os setores industriais no Rio Grande do Sul enfrenta um período desafiador, caracterizado por uma crescente inadimplência e uma queda no saldo da carteira de operações. Grande parte desse cenário decorre do aperto monetário e ao fim de políticas de crédito implementadas para atenuar os efeitos da inadimplência durante o período da pandemia da Covid-19. A redução das taxas de juros em um momento em que os núcleos de inflação estão acima da meta levanta preocupações sobre a inflação e a eficácia da política monetária. Além disso, a incerteza em relação à capacidade do governo de atingir suas metas fiscais também gera instabilidade no cenário econômico. É imperativo monitorar de perto esses efeitos, uma vez que mudanças abruptas nas taxas de juros podem impactar negativamente o já apertado mercado de crédito.

Desdobramentos recentes das exportações da Indústria de Transformação gaúcha

Em setembro de 2023, a Indústria de Transformação gaúcha apresentou faturamento de US$ 1,2 bilhão com exportações. O montante, quando comparado ao mesmo período de 2022, representa uma retração nominal de US$ 341,6 milhões. O que nos interessa ressaltar, porém, é a identificação apropriada dos fatores de maior peso na retração observada, isto é, se a queda foi mais influenciada por fatores de oferta ou demanda. Nesse informe foi feita a decomposição dos efeitos microeconômicos que afetaram a desenvoltura das exportações industriais gaúchas.

Comparando-se a performance interanual – do mês de setembro de 2023 com relação ao mesmo período do ano passado –, verifica-se uma retração relativa de 21,6% nas exportações da Transformação. Ora, a receita é função de dois fatores principais: preços e quantidades. Desse modo, para que a receita reduza, um dos três cenários deve ter ocorrido:

  • Incremento módico nos preços exportados e queda forte no quantum exportado;
  • Aumento moderado no quantum e retração forte nos preços;
  • Preços e quantidades apresentaram retração.

Embora nos três cenários os fatores de oferta e demanda apresentem suas influências, no terceiro cenário o efeito da demanda é mais proeminente. Pelo levantamento dos dados os preços dos produtos industriais exportados apresentaram retração de 1,0% enquanto o quantum enviado ao mercado externo caiu 20,7%. Detalhes referentes ao desempenho anual, isto é, do acumulado de janeiro a setembro, podem ser vistos na tabela abaixo. Assim como a decomposição do desempenho relativo dos seis segmentos com maiores faturamentos, em termos de exportação, no acumulado do ano.

Decomposição da receita das exportações da Transformação gaúcha

(Em %)

Var. (%) – set/23Var. (%) – jan-set/23
ReceitaQuantidadePreçoReceitaQuantidadePreço
Alimentos-37,2-34,0-4,9-4,9-4,0-0,6
Tabaco-22,9-36,621,627,5-8,736,5
Máquinas e equipamentos84,236,035,415,5-2,818,2
Químicos-36,4-19,7-20,8-33,2-10,9-24,8
Veículos automotores-5,5-14,410,40,3-11,213,5
Celulose e papel-50,8-3,3-49,1-20,7-7,8-14,0
Indústria de Transformação-21,6-20,7-1,0-4,8-6,31,7
Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração e compilação dos dados UEE/FIERGS.

O desempenho observado confirma o terceiro cenário. Adicionalmente, há necessidade de se destacar o quão difundida foi a retração da receita. Faz-se isso por meio da avaliação do desempenho dos outros segmentos da Transformação, assim como os produtos. Segundo nosso levantamento, dos 23 segmentos exportadores da Indústria de Transformação somente 8 apresentaram avanço na receita. Quanto aos produtos exportados nos dois períodos analisados, menos da metade (44,7%) apresentou incremento nas receitas.

Há que se destacar a decomposição do segmento de Alimentos (Receita: -37,2% | Quantidade: -34,0% | Preço: -4,9%) que também apresentou queda de demanda no período. Em especial, chama a atenção a redução da receita relacionada à classe de processamento e conservação de carne (US$ 162,4 milhões), que apresentaram retração de 41,0% em relação a setembro do ano anterior. De maneira concomitante, a segunda classe com maior faturamento foi a de óleos e gorduras vegetais e animais (US$ 114,6 milhões), que também apresentou retração na base interanual (-55,7%).

Decomposição da receita das exportações da Transformação gaúcha

(Em % | Mês de referência com relação ao mesmo mês de 2022)

jan/23fev/23mar/23abr/23mai/23jun/23jul/23ago/23set/23
Receita14,6-4,50,2-14,74,0-18,41,41,7-21,6
Quantidade-3,1-16,7-6,4-16,17,6-14,08,48,0-20,7
Preço18,314,77,11,6-3,3-5,1-6,4-5,8-1,0
Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração e compilação dos dados UEE/FIERGS.

Quadrantes de quantidades e preços – Exportações da Transformação do RS

(Em % | Mês de referência com relação ao mesmo mês de 2022)

Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração e compilação dos dados UEE/FIERGS.

Enquanto a primeira tabela apresenta uma fotografia do que ocorreu entre dois períodos específicos do tempo, a segunda apresenta o desempenho interanual (mês de referência com relação ao mesmo período do ano passado) das exportações da Indústria de Transformação gaúcha desde o início do ano. No gráfico, são apresentadas as localizações das exportações interanuais. Vê-se que, nos últimos nove meses, nenhuma vez os preços e as quantidades exportadas da Transformação avançaram na mesma direção e que a última vez em que andaram na mesma direção (de retração) foi em jun/23. Em suma, a queda na receita interanual deveu-se mais a fatores relacionados à demanda. Sendo que a redução das quantidades foi a que mais puxou a receita da Transformação para baixo.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20192020202120222023*
Agropecuária0,44,20,3-1,713,2
Indústria-0,7-3,04,81,61,3
Serviços1,5-3,75,24,22,4
TOTAL1,2-3,35,02,93,0
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$7,3897,6108,8999,91510,693
Em US$21,8731,4761,6491,9202,137
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS.

Inflação (% a.a.)

20192020202120222023*
IGP-M 7,323,117,85,5-3,7
INPC4,55,410,25,93,9
IPCA4,34,510,15,84,7
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Extrativa Mineral-9,7-3,41,0-3,24,6
Transformação0,2-4,64,3-0,40,0
Indústria Total3-1,1-4,53,9-0,70,5
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária13371466435
Indústria97149719442299
Indústria de Transformação1348439215147
Construção7197245193134
Extrativa e SIUP4133363519
Serviços534-3781.9121.515941
TOTAL644-1932.7782.0211.276
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano11,114,211,17,97,3
Média do ano12,013,89,37,97,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações221,1209,2280,8334,5304,0
Importações185,9158,8219,4272,7239,5
Balança Comercial35,250,461,461,864,5
*Projeção UEE/FIERGS.

Moeda e Juros

20192020202120222023*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)4,502,009,2513,7511,75
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)54,028,97,4-6,5-3,3
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)4,035,205,585,225,05
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS.

Setor Público (% do PIB)

20192020202120222023*
Resultado Primário-0,8-9,20,71,3-1,2
Juros Nominais-5,0-4,1-5,0-5,9-6,0
Resultado Nominal-5,8-13,3-4,3-4,6-7,2
Dívida Líquida do Setor Público54,761,455,857,161,0
Dívida Bruta do Governo Geral74,486,978,372,374,3
*Projeção UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20192020202120222023*
Agropecuária3,0-29,560,2-45,619,8
Indústria0,2-6,111,22,2-2,0
Serviços0,8-5,04,23,72,0
TOTAL1,1-7,210,6-5,12,5
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$482,464470,942584,602594,055638,133
Em US$2122,28291,317108,362115,018127,599
*Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária01732
Indústria-60472912
Indústria de Transformação-20432210
Construção-40572
Extrativa e SIUP700-100
Serviços26-43906840
TOTAL20-4214410054
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano7,38,68,14,64,6
Média do ano8,19,38,76,15,0
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações17,314,121,122,619,7
Industriais12,510,414,117,216,1
Importações10,37,611,716,014,6
Balança Comercial6,96,59,46,65,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20192020202120222023*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)35,736,245,743,344,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Indicadores Industriais (% a.a.)

20192020202120222023*
Faturamento real3,0-3,18,95,9-3,7
Compras industriais-2,7-5,531,2-0,5-8,9
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)0,7-4,55,7-0,7-3,0
Massa salarial real-0,8-9,05,310,93,9
Emprego0,0-1,96,75,9-0,2
Horas trabalhadas na produção-0,9-5,515,28,4-1,0
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS0,1-4,712,94,1-3,3
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)2,5-5,59,01,1-3,3
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Não houve alterações.
Economia Gaúcha: Não houve alterações.
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.

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