Ano 25 – Número 37 – 18 de setembro de 2023

Informe Econômico

Rentabilidade das exportações da Indústria de Transformação gaúcha

As exportações da Indústria de Transformação gaúcha são bastante diversas. A receita dessas exportações é função de dois componentes distintos, a saber: preço médio dos produtos exportados e as quantidades. Os preços são computados por meio de métodos de agregação de cada um dos produtos exportados por cada segmento. Embora pareça bastante óbvio que o aumento da taxa de câmbio seja benéfico para as exportações, visto aumentar-se o preço em Reais que o produtor receberá, bem como elevar o grau de competitividade de nossos produtos no mercado externo, o efeito da variação da taxa tem efeito duplo, a depender da situação. Abaixo discutem-se esses efeitos, assim como o efeito sobre o incentivo a exportar da Indústria de Transformação e dos principais segmentos exportadores que compõem esse setor no Rio Grande do Sul.

Dado que todos os produtores que exportam têm suas receitas atreladas à taxa de câmbio, o que os diferencia é quanto à estrutura de custos de produção. Isso posto, há dois casos extremos e um intermediário.

Casos extremos:

  • O produtor tem seus custos independentes dos preços dos produtos importados, ou seja, aumentos na taxa de câmbio aumentam suas receitas sem aumentar seus custos. Sua margem de lucro, portanto, é crescente com a taxa de câmbio;
  • Os custos são inteiramente dependentes de produtos importados, nesse caso aumentos da taxa de câmbio aumentam suas receitas na mesma proporção que aumentam os seus custos. Logo, a margem de lucro é independente do câmbio.

Caso intermediário:

  • A estrutura de custos é composta por um mix de insumos nacionais e internacionais, nesse caso a margem de lucro será mais ou menos sensível ao Dólar dependendo do peso que os produtos importados têm na estrutura de custos da empresa.

Em suma, embora o preço dos produtos exportados tenha papel primordial na determinação do incentivo a exportar, a estrutura de custos determinará a intensidade desse incentivo. Para tanto, para que seja possível se computar o incentivo é necessário um índice que abarque três fatores principais, a saber: a taxa de câmbio, os custos típicos de cada segmento e os preços médios de exportação.

 Chama-se de Rentabilidade das Exportações (RE) a razão entre os preços dos produtos exportados, convertidos em moeda nacional, com relação aos custos. Desse modo, por construção, quanto maior for a RE maior será o incentivo a exportar. Para o cômputo do índice são necessárias duas parcelas, a primeira corresponde aos preços dos produtos exportados convertidos em moeda nacional (Px) e a segunda corresponde aos custos típicos do segmento. Utilizaram-se os dados disponibilizados pelo SECEX/MDIC, a taxa de câmbio média de cada mês e os Índices de Preços ao Produtor (IPP), disponibilizados pelo IBGE. É importante fazer a ressalva de que os dados do IPP apresentam defasagem em sua publicação, o último dado disponível é referente a jul/23. Partindo-se de um ponto de equilíbrio, pode-se inferir quais segmentos apresentaram as maiores variações em seus incentivos.  

Desde o início de 2023 tanto os preços de exportação quanto os custos têm entrado em trajetória de queda, tanto por uma menor demanda por produtos industrializados, quanto pela queda da taxa de câmbio e menores custos gerais de produção. De maneira geral, o incentivo a exportar da Indústria de Transformação gaúcha apresentou retração de 2,8%, comparando-se jul/23 com relação ao mesmo período do ano passado. É importante notar que a queda nos custos médios (-13,2%) não foram suficientes para melhorar o RE do setor visto que os preços médios em Reais apresentaram retração (-15,6%). Na tabela abaixo encontra-se a decomposição da RE dos dez principais segmentos, em termos de Receita anual, da Indústria de Transformação. Nela, por exemplo, pode-se verificar que, embora os custos do segmento Alimentício tenham diminuído em 11,2%, esse movimento não foi suficiente para melhorar o incentivo a exportar (-6,7%), visto os preços médios em Reais do segmento terem apresentado retração de 17,2%.

Rentabilidade das exportações da Indústria de Transformação gaúcha

(Índice de base fixa jul/18=100)

Fonte: SECEX/MDIC. IBGE. Elaboração: UEE/FIERGS.

Decomposição da Rentabilidade das Exportações – 10 principais

(Em % | jul/23 com relação a jul/22)

REPxIPP
Alimentos-6,7-17,2-11,2
Tabaco5,57,61,9
Máquinas e equipamentos-5,9-1,34,9
Químicos-23,1-48,5-32,9
Veículos automotores-4,5-0,44,3
Celulose e papel-24,2-33,5-12,3
Couro e calçados2,0-6,6-8,4
Produtos de metal0,2-6,9-7,1
Borracha e plástico-3,8-10,5-6,9
Madeira54,331,2-15,0
Indústria de Transformação-3,3-16,1-13,2
Fonte: SECEX/MDIC. IBGE. Elaboração: UEE/FIERGS.
Obs.: Ordenou-se pela receita de exportações de cada segmento no acumulado do ano

Produção da Indústria do RS apresenta queda de 5,9% no acumulado do ano

A produção industrial gaúcha, divulgada na última quarta-feira (13) pelo IBGE, ficou praticamente estável em julho relativamente a junho, com ajuste sazonal, apresentando uma leve variação de -0,1%. Em dez dos últimos treze meses a quantidade produzida no RS caiu na passagem mensal. Com isso, a produção gaúcha, em julho, estava 1,9% abaixo do nível pré-pandemia, enquanto a brasileira caiu 0,6% no período, ficando 2,3% abaixo de fevereiro de 2020.  

Na comparação com o mesmo mês de 2022, a produção industrial do RS recuou pela sétima vez consecutiva em julho (-4,9%), impactada pelos setores de Veículos automotores (-19,7%), Derivados do petróleo e biocombustíveis (-7,2%), Produtos de metal (-16,0%) e Máquinas e equipamentos (-8,1%). A produção industrial brasileira caiu 1,1% comparativamente a julho de 2022. 

Com mais esse resultado negativo, a produção industrial gaúcha acumulou queda de 5,9% de janeiro a julho de 2023 em relação ao mesmo período de 2022. O estado registrou a segunda taxa mais negativa entre os 17 estados pesquisados, muito próxima da menor, o Ceará (-6,0%), e bem abaixo do Brasil (-0,4%). Destaque para os resultados da produção em Santa Catarina (-3,6%), na Bahia (-3,5%), em São Paulo (-2,1%), no Paraná (-1,2%), no Amazonas (+6,5%), em Minas Gerais (+5,0%) e no Rio de Janeiro (+4,3%).

No RS, a queda da produção industrial, nos primeiros sete meses de 2023 comparado ao mesmo período de 2022, recuou em 11 dos 14 segmentos pesquisados. Apesar de generalizada, 44% (-2,6 p.p.) da queda global é de responsabilidade apenas de Derivados de petróleo e biocombustíveis (-18,6%). A grande parada para manutenção no primeiro trimestre da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap/Petrobras) de Canoas contribuiu para o resultado. Na sequência, Produtos de metal (-16,3%), Veículos automotores (-5,4%) e Alimentos (-2,4%) exerceram as influências mais negativas, enquanto apenas Bebidas (+9,3%), Minerais não-metálicos (+2,0%) e Tabaco (+4,5%) apresentaram crescimento da produção em 2023.

No mesmo sentido, o Índice de Desempenho Industrial do Estado (IDI-RS), divulgado no dia 5 de setembro pela FIERGS, recuou 3,8% na passagem de junho para julho com ajuste sazonal, acumulando queda de 3,7% nos primeiros sete meses de 2023 ante o mesmo período de 2022. Portanto, a desaceleração da indústria gaúcha, iniciada em meados do ano passado, segue em curso. O setor continua impactado pelos juros elevados, a baixa confiança dos empresários, a incerteza quanto aos rumos da economia e o cenário externo desafiador.

Exportações da Indústria de Transformação cresceram em agosto, mas acumulado do ano ainda apresenta queda

A Indústria de Transformação do RS apresentou, em agosto de 2023, faturamento de US$ 1,6 bilhão com as exportações. Comparando-se com o mesmo período do ano passado verificou-se avanço nominal de US$ 26,5 milhões, crescimento de 1,7%. No acumulado do ano, de janeiro a agosto, as exportações da Transformação do estado registram retração de 2,6%, frente ao mesmo período do ano passado. O efeito preponderante para explicar a variação da receita em agosto ficou por conta das quantidades dos produtos exportados, que apresentaram avanço de 7,9%. Não obstante, dos 23 segmentos exportadores da Indústria de Transformação gaúcha, apenas 11 apresentaram avanço nas receitas ante agosto de 2022.

O segmento com maior faturamento em agosto, o de Alimentos, apresentou receita de US$ 504,3 milhões (+US$ 23,0 milhões | +4,8%). O efeito preponderante para explicar a variação da receita em agosto ficou por conta das quantidades dos produtos exportados, que aumentaram 10,3%, enquanto os preços médios caíram 5,0%. O produto mais embarcado do segmento foi farelo de soja (US$ 181,0 milhões), o qual apresentou avanço de 74,8% em relação a agosto do ano anterior. Concomitante a isso, carne de frango in natura (US$ 74,7 milhões), o segundo produto com maior faturamento de exportação do segmento, apresentou retração de 34,3%. Enquanto farelo de soja foi demandado principalmente pelo Vietnã (US$ 62,4 milhões), que tem ganhado peso na pauta de exportações do RS devido à estiagem que assola a região asiática, a carne de frango teve China (US$ 11,5 milhões) e Arábia Saudita (US$ 9,3 milhões) como principais destinos. Vale destacar que embora as exportações do produto tenham aumentado para a China (+41,1%), houve queda de 44,0% para o país árabe, comprador histórico do produto.

Em segundo lugar, o segmento de Tabaco apresentou faturamento de US$ 280,8 milhões (+US$ 111,5 milhões | +65,8%). Para o segmento, tanto preços médios (+10,8%) quanto quantidades (+49,6%) dos produtos exportados registraram incremento no período, configurando um mercado externo mais aquecido para os produtos do Tabaco. Bélgica (US$ 91,7 milhões | +US$ 46,6 milhões), Estados Unidos (US$ 21,1 milhões | -US$ 15,2 milhões) e Países Baixos (US$ 18,0 milhões | +US$ 16,7 milhões) foram os principais destinos dos embarques. A queda da produção indiana, um dos maiores produtores do segmento, tem servido para melhorar a demanda pela produção gaúcha. Justificando, em parte, os maiores preços médios e quantidades exportadas do segmento.

O terceiro segmento com maior destaque em agosto, o de Máquinas e equipamentos, apresentou faturamento de US$ 174,4 milhões (+US$ 68,5 milhões | +64,7%). Para o segmento, tanto preços médios dos produtos exportados (+26,6%) quanto as quantidades (+30,1%) apresentaram incremento quando comparados a agosto de 2022. A maior demanda teve como principais destinos a China (US$ 72,7 milhões | +US$ 71,6 milhões), o Paraguai (US$ 48,0 milhões | +US$ 7,3 milhões) e os Estados Unidos (US$ 14,2 milhões | +US$ 3,8 milhões). A demanda chinesa centrou-se em aparelhos para filtrar ou depurar (US$ 72,7 milhões), em especial aqueles utilizados especificamente para a filtragem de água (US$ 64,8 milhões). Quantos aos demais produtos mais embarcados do segmento, destacaram-se tratores (US$ 23,8 milhões) e máquinas e aparelhos de uso agrícola (US$ 21,6 milhões).

O cenário externo desafiador, com desaceleração da economia em diversos países, deve continuar impactando as vendas externas da Indústria gaúcha. Para os próximos seis meses, as expectativas dos empresários industriais, levantadas pela Sondagem Industrial do RS, apontam para queda na quantidade exportada. Em agosto, o índice foi de 47,7 pontos, abaixo dos 49,4 pontos de julho e caindo para o menor nível desde junho de 2020 (41,7 pontos). O índice varia de 0 a 100 pontos, sendo que valores abaixo de 50 indicam expectativas de queda nas exportações.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20192020202120222023*
Agropecuária0,44,20,3-1,711,0
Indústria-0,7-3,04,81,60,8
Serviços1,5-3,75,24,21,4
TOTAL1,2-3,35,02,92,0
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$7,3897,6108,8999,91510,599
Em US$21,8731,4761,6491,9202,119
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS.

Inflação (% a.a.)

20192020202120222023*
IGP-M 7,323,117,85,5-2,7
INPC4,55,410,25,94,6
IPCA4,34,510,15,84,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Extrativa Mineral-9,7-3,41,0-3,24,6
Transformação0,2-4,64,3-0,40,0
Indústria Total3-1,1-4,53,9-0,70,5
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária13371466435
Indústria97149719442299
Indústria de Transformação1348439215147
Construção7197245193134
Extrativa e SIUP4133363519
Serviços534-3781.9121.515941
TOTAL644-1932.7782.0211.276
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano11,114,211,17,97,3
Média do ano12,013,89,37,97,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações221,1209,2280,8334,5304,0
Importações185,9158,8219,4272,7239,5
Balança Comercial35,250,461,461,864,5
*Projeção UEE/FIERGS.

Moeda e Juros

20192020202120222023*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)4,502,009,2513,7512,00
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)54,028,97,4-6,5-5,2
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)4,035,205,585,224,95
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS.

Setor Público (% do PIB)

20192020202120222023*
Resultado Primário-0,8-9,20,71,3-1,2
Juros Nominais-5,0-4,1-5,0-5,9-6,0
Resultado Nominal-5,8-13,3-4,3-4,6-7,2
Dívida Líquida do Setor Público54,761,455,857,161,0
Dívida Bruta do Governo Geral74,486,978,372,374,3
*Projeção UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20192020202120222023*
Agropecuária3,0-29,560,2-45,619,8
Indústria0,2-6,111,22,2-2,0
Serviços0,8-5,04,23,72,0
TOTAL1,1-7,210,6-5,12,5
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$482,464470,942584,602594,055638,133
Em US$2122,28291,317108,362115,018127,599
*Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária01732
Indústria-60472912
Indústria de Transformação-20432210
Construção-40572
Extrativa e SIUP700-100
Serviços26-43906840
TOTAL20-4214410054
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano7,38,68,14,64,6
Média do ano8,19,38,76,15,0
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações17,314,121,122,619,7
Industriais12,510,414,117,216,1
Importações10,37,611,716,014,6
Balança Comercial6,96,59,46,65,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20192020202120222023*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)35,736,245,743,344,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Indicadores Industriais (% a.a.)

20192020202120222023*
Faturamento real3,0-3,18,95,9-3,7
Compras industriais-2,7-5,531,2-0,5-8,9
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)0,7-4,55,7-0,7-3,0
Massa salarial real-0,8-9,05,310,93,9
Emprego0,0-1,96,75,9-0,2
Horas trabalhadas na produção-0,9-5,515,28,4-1,0
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS0,1-4,712,94,1-3,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)2,5-5,59,01,1-3,3
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Não houve alterações
Economia Gaúcha: Não houve alterações.
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.

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