Ano 25 – Número 19 – 15 de maio de 2023

Informe Econômico

Recente movimento das exportações da indústria de transformação do RS

As exportações da Indústria de Transformação gaúcha apresentaram uma queda de 15,1%, comparando-se abril de 2023 com relação ao mesmo período do ano que passou. O índice de quantidades exportadas, em especial, apontou retração de 11,9%. Embora haja diferentes razões para se explicar os movimentos recentes das exportações gaúchas, o que tem apresentado maior preponderância é o relacionado a um mercado externo menos aquecido. A partir de um Índice de Aquecimento Externo (IAE), vamos analisar quais são os principais motivos e traçar perspectivas para os próximos meses. De maneira geral, índices têm a característica de poder agregar dados de maneira direta e simples. Desse modo, pode-se inferir o comportamento médio dos principais dados relevantes por meio de uma ferramenta enxuta.

 Dentre os principais parceiros comerciais do Rio Grande do Sul estão China, Estados Unidos e Argentina, no entanto há mais nações que compõem o quadro de compradores internacionais. Para levar em consideração os demais, a literatura econômica normalmente faz uso do Índice de Entorno Econômico (IEC). O cômputo desse índice, embora seja de fácil implementação, esbarra na frequência requerida dos dados, isto é, visto o índice ser computado a partir de dados do PIB (uma medida de aquecimento econômico de nossos parceiros comerciais), só é possível termos resultados na mesma frequência que o PIB desses parceiros (na melhor das hipóteses em frequência trimestral).

Para contornar esse problema utilizamos o que é conhecido na literatura econômica de variável proxy. Essa variável apresenta como principal característica o comovimento com as variáveis de interesse. Desse modo, quando nossos parceiros comerciais apresentam aquecimento, a proxy apresentará aumentos e vice e versa. Para se computar o peso de cada um dos parceiros comerciais no índice utilizou-se a relação de longo prazo (comumente referida como cointegração). O Índice de Aquecimento Externo (IAE), portanto, apresenta a característica de sintetizar os movimentos de demanda externa pelos produtos da Indústria de Transformação gaúcha, vide gráfico abaixo.

O IAE, embora tenha avançado bastante entre janeiro de 2021 e outubro do ano passado, começou a apresentar desaceleração no início desse ano. A explicação para tal desaquecimento é um maior nível de taxas de juros nas principais economias do globo. Vê-se que o movimento, acumulado em 12 meses, é idêntico ao observado na dinâmica das exportações da transformação gaúcha. Embora as principais economias do globo pareçam estar chegando ao ponto de inflexão da inflação, muito provavelmente a taxa de juros irá permanecer em patamar elevado por um período maior de tempo. O movimento das taxas, bastante inercial, é necessário para ancorar as expectativas de inflação. Não havendo choques exógenos imprevistos espera-se que as exportações fiquem de lado nos próximos meses ou caiam (esse último movimento já percebido na queda das quantidades exportadas).  No gráfico consta a média móvel de 12 meses das exportações da Indústria de Transformação gaúcha.

Exportações da Indústria da Transformação gaúcha e IAE

(Índice de base fixa jan/15=100)

Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração: UEE/FIERGS.

Argentina aumenta taxa de juros para 97% ao ano

Como já se comentou em informes anteriores, a inflação é composta de dois componentes principais, sendo o primeiro relacionado ao descompasso entre oferta e demanda e o segundo relacionado às expectativas de inflação. Para conter o avanço dos preços, os Bancos Centrais se baseiam no que ficou conhecido como Regra de Taylor. Segundo a regra, a taxa de juros deve responder mais do que proporcionalmente a aumentos na taxa de inflação. Isto é, para que os preços estejam sob controle, os juros reais (taxa de juros nominal menos expectativa de inflação) precisam ser positivos. Adicionalmente, com o passar do tempo identificou-se que por meio da estabilização dos preços o crescimento produto também acabava se estabilizando, esse resultado ficou conhecido como Divina Coincidência. Desse modo a estabilização dos preços é um dos pontos cruciais para que qualquer economia possa crescer de maneira estável. Voltemos nossa atenção agora para a Argentina.

A inflação ao consumidor acumulada em 12 meses do país portenho encontra-se em 108,8%, no mês passado estava em 104,2%. Embora seja óbvio que a pandemia e o conflito no leste europeu tenham contribuído para o descontrole de preços, a maior parte da culpa da inflação alta não pode ser imputada somente a esses dois fatores. A quantidade de moeda em poder do público, desde a posse (2019) de Fernandes, expandiu-se em mais de 280%, enquanto os preços ao consumidor expandiram-se em aproximadamente 9,5 vezes desde sua posse. Para reancorar as expectativas de inflação e a credibilidade do Banco Central (que não apresenta quaisquer autonomia, tal qual o brasileiro), o ajuste monetário terá que ser duro. Com o aumento de 6 p.p. anunciado nessa segunda-feira, a taxa de juros nominal argentina subiu para 97%. Embora o patamar nominal da taxa esteja alto – isto comparado ao atual patamar de 13,75% da taxa brasileira –, o juro real permanece negativo.

O descontrole monetário argentino também impactou o câmbio que apresenta trajetória ascendente, pressionando ainda mais os preços ao consumidor do país. Os inúmeros planos para conter o avanço do Dólar mostram-se, até o momento, apenas paliativos. Para os próximos meses, o desempenho argentino é difícil de ser previsto. Sem um Banco Central crível não há garantias de ajuste monetário para que a Divina Coincidência faça seu papel. Por outro lado, caso o BC consiga implementar os movimentos necessários para conter o avanço da inflação, esperam-se maiores taxas de juros nominais.

Atividade industrial do RS encerrou o primeiro trimestre estável

O Índice de Desempenho Industrial gaúcho (IDI/RS) ficou estável (-0,1%) em março, na série com ajuste sazonal, seguindo a tendência vista em fevereiro (+0,1%), depois de duas quedas seguidas – -0,7% em dezembro e -3,0% em janeiro –.  O índice em março de 2023 segue bem acima (+8,1%) do nível pré-pandemia (fevereiro de 2020), mas caiu 6,7% desde setembro do ano passado.

Os componentes do IDI/RS mais diretamente ligados à produção cresceram em março: faturamento real (+2,9%), horas trabalhadas na produção (+0,8%), utilização da capacidade instalada (+0,4 p.p.) e compras industriais (+1,2%). Entre os relacionados ao mercado de trabalho, o emprego, que não cresce há seis meses, ficou estável e a massa salarial (-1,2%) caiu.

Índice de Desempenho Industrial (IDI/RS)

(Índice de base fixa mensal média 2006=100 – Dessazonalizado)

                                Fonte: FIERGS – Indicadores Industriais do RS.

Nas comparações anuais, o IDI/RS no terceiro mês de 2023, mesmo com dois dias úteis a mais, recuou 2,3% em relação ao mesmo mês de 2022, mantendo o sinal negativo desde que interrompeu a sequência positiva de 28 meses em janeiro de 2023. No acumulado do ano até março de 2023, a redução foi de 2,0% (-1,8% até fevereiro) em relação ao período equivalente do ano passado.

A desagregação por componentes revela que o destaque negativo ficou por conta das compras industriais, com queda de 11,0% na comparação com o primeiro trimestre de 2022. Também pesaram negativamente sobre o índice de atividade os recuos do faturamento real (-1,2%) e da UCI (-1,5 p.p.). Os demais componentes, as horas trabalhadas na produção (+0,5%), o emprego (+1,5%) e a massa salarial real (+7,5%) registraram altas no mesmo período.

Indicadores Industriais do RS

(Março de 2023)

Variação %
Mês anterior*Mês ano anteriorAc. ano
Índice de desempenho industrial-0,1-2,3-2,0
Faturamento real2,9-0,1-1,2
Horas Trabalhadas na produção0,8-1,10,5
Emprego0,00,81,5
Massa salarial real-1,23,47,5
UCI (em p.p.)0,4-0,5-1,5
Compras Industriais1,2-11,3-11,0
*Série dessassonalizada

A queda anual da atividade industrial atingiu 10 dos 16 setores analisados, com os maiores impactos dados pelos desempenhos de Produtos de metal (-7,3%), Químicos, derivados de petróleo e biocombustíveis (-5,3%), Máquinas e equipamentos (-2,7%) e Metalurgia (-19,5%). As altas mais relevantes foram de Alimentos (+3,1%), Couros e calçados (+4,3%) e Equipamentos de informática e produtos eletrônicos (+6,0%).

Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS – Setorial

(Variação jan-mar 2023/2022 – %)

                                Fonte: FIERGS – Indicadores Industriais do RS.

Os Indicadores Industriais de março mostraram que a atividade industrial gaúcha estagnou na margem no final do primeiro trimestre, interrompendo o declínio observado desde setembro do ano passado, trajetória que se reflete nas perdas interanuais.

Demanda insuficiente, sobretudo a doméstica, elevados níveis de incerteza econômica e juros altos continuam sendo os maiores obstáculos à atividade do setor, impactando negativamente a confiança do empresário e, por consequência, os investimentos e a geração de emprego.

Sem perspectiva de mudança substancial no curto prazo, tal cenário não permite prever uma retomada da atividade industrial nos próximos meses, que deve acompanhar o baixo dinamismo previsto para a economia brasileira. O carregamento estatístico do primeiro trimestre para o ano é negativo em 2,6%, ou seja, se o IDI/RS manter o atual nível até o fim de 2023, deverá cair 2,6% neste ano em relação a 2022.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20192020202120222023*
Agropecuária0,44,20,3-1,73,0
Indústria-0,7-3,04,81,61,0
Serviços1,5-3,75,24,20,8
TOTAL1,2-3,35,02,91,0
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$7,3897,6108,8999,91510,576
Em US$21,8731,4761,6491,9202,015
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS

Inflação (% a.a.)

20192020202120222023*
IGP-M 7,323,117,85,54,7
INPC4,55,410,25,95,8
IPCA4,34,510,15,86,2
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Extrativa Mineral-9,7-3,41,0-3,2-0,1
Transformação0,2-4,64,3-0,41,2
Indústria Total3-1,1-4,53,9-0,71,1
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária13371466515
Indústria97149722446129
Indústria de Transformação134844021763
Construção719724519458
Extrativa e SIUP413337358
Serviços534-3781.9091.527406
TOTAL644-1932.7772.038550
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano11,114,211,17,98,5
Média do ano12,013,813,29,38,8
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações221,1209,2280,8334,5276,0
Importações185,9158,8219,4272,7220,0
Balança Comercial35,250,461,461,856,0
*Projeção UEE/FIERGS

Moeda e Juros

20192020202120222023*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)4,502,009,2513,7513,75
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)54,028,97,4-6,52,5
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)4,035,205,585,225,35
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS

Setor Público (% do PIB)

20192020202120222023*
Resultado Primário-0,8-9,40,81,3-1,4
Juros Nominais-5,0-4,2-5,2-6,0-6,6
Resultado Nominal-5,8-13,6-4,4-4,7-8,0
Dívida Líquida do Setor Público54,762,557,357,561,0
Dívida Bruta do Governo Geral74,488,680,373,579,9
*Projeção UEE/FIERGS

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20192020202120222023*
Agropecuária3,0-29,560,2-45,638,7
Indústria0,2-6,111,22,21,2
Serviços0,8-5,04,13,71,5
TOTAL1,1-7,210,6-5,15,0
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$482,464470,942584,602594,968659,929
Em US$2122,28291,317108,362115,195125,299
*Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária01441
Indústria-60482912
Indústria de Transformação-20432210
Construção-40573
Extrativa e SIUP700-110
Serviços26-43906824
TOTAL20-4314110138
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano7,38,68,14,66,0
Média do ano8,19,38,76,16,2
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações17,314,121,122,418,7
Industriais12,510,414,117,216,1
Importações10,37,611,716,013,5
Balança Comercial6,96,59,46,45,2
*Projeção UEE/FIERGS

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20192020202120222023*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)35,736,245,743,345,0
*Projeção UEE/FIERGS

Indicadores Industriais (% a.a.)

20192020202120222023*
Faturamento real3,0-3,18,96,13,4
Compras industriais-2,7-5,531,22,72,1
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)0,7-4,55,6-1,10,7
Massa salarial real-0,8-9,05,310,83,3
Emprego0,0-1,96,75,91,6
Horas trabalhadas na produção-0,9-5,515,28,32,5
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS0,1-4,712,94,72,1
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)2,5-5,59,01,11,4
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Não houve alterações.
Economia Gaúcha: Não houve alterações.
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Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul

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