Ano 25 – Número 8 – 27 de fevereiro de 2023

Informe Econômico

Otra vaca: viva pero loca. Qual o impacto de curto prazo nas exportações?

Embora o Brasil seja apontado como tendo o menor grau de risco para o mal da Vaca Louca, pela Organização Mundial da Saúde Animal, ocorreu, há poucas semanas, um caso da doença em uma propriedade no Estado do Pará. A última vez em que houveram relatos relacionados à doença em território nacional ocorreram em MG e MT, remontando a 2021.

Na ocasião, no acumulado de 2021, o RS apresentava China (US$ 113,3 milhões), Reino Unido (US$ 56,1 milhões) e Estados Unidos (US$ 39,7 milhões), como os principais destinos de carne de gado. No primeiro mês após o choque da doença, as exportações de carne de boi in natura e carne industrializada, para a China, caíram 78,2%, comparando-se com o mês imediatamente anterior. Muito afetadas pelo acordo comercial firmado entre esses dois países em 2015, de cessar a exportação quando houvesse casos da doença. O surto, identificada no início de setembro, contribuiu para a queda nas encomendas do produto em outubro e na ausência de exportação em novembro. O fluxo de comércio normalizou-se, aproximadamente, 3 meses após o ocorrido. A receita, no entanto, só voltou aos mesmos patamares em ago/22. O tempo necessário para a recuperação depende de fatores endógenos –  como o tempo de resposta das autoridades sanitárias e da habilidade de negociação dos representantes comerciais – e de fatores exógenos: como a velocidade de difusão da doença, a qual parece estar sob controle.

Em janeiro do ano corrente, o RS exportou Carne de gado, principalmente, para China (US$ 8,2 milhões), Reino Unido (US$ 5,6 milhões) e Angola (US$ 2,4 milhões). Em termos de quantidades, esses países importaram 4,2 mil toneladas desses produtos. Comparando-se o acumulado dos últimos 12 meses com o mesmo período do ano passado, houve um incremento de 36% na receita, de 15,6% nas quantidades e de 18,5% nos preços.

A identificação da enfermidade ocorreu ao final do mês corrente, a maior parte do efeito adverso deverá ocorrer nas encomendas dos próximos meses, isto é, espera-se pouco impacto nas exportações de fevereiro e maiores nos meses subsequentes, a depender do tempo de resolução do problema. No entanto, destaca-se: atribui-se como baixa a possibilidade de alastramento da doença em nosso país. Além disso, dado a possibilidade do efeito substituição, é factível que outros produtos do complexo de carnes tenham suas demandas aumentadas. Tratando-se da China, a demanda por suínos deve apresentar incremento.

Indústria gaúcha iniciou o ano com a produção e o emprego em baixa

Segundo a Sondagem Industrial do RS, pesquisa de opinião empresarial divulgada pela FIERGS, 2023 iniciou com sinais de desaquecimento para o setor. Em linhas gerais, os desempenhos dos indicadores vieram abaixo do padrão para o primeiro mês do ano e as expectativas não indicam mudança no cenário.

O índice de produção industrial registrou 43,7 pontos em janeiro, indicando, abaixo de 50, queda da produção em relação a dezembro, desempenho abaixo da quase estabilidade sugerida pela média histórica de 49,8 pontos do mês. A produção gaúcha não cresce há cinco meses.

Com isso, o emprego industrial registrou a quarta redução consecutiva em janeiro. O índice do número de empregados foi de 47,8 pontos.

Em outro sinal claro de desaquecimento no início de 2023, a utilização da capacidade instalada (UCI) atingiu 67,0% em janeiro, uma estabilidade relativamente a dezembro, mas 1,5 p.p. da média de UCI para o primeiro mês do ano. No mesmo sentido, o índice de UCI em relação a usual atingiu o menor patamar desde junho de 2020: 39,4 pontos. É a maior distância entre o nível observado de UCI e o considerado normal pelos empresários nos últimos 31 meses.

A Sondagem mostrou também que os estoques de produtos finais iniciaram o ano em queda em relação a dezembro – índice de evolução em 47,9 pontos (abaixo de 50) –, mas continuaram acima do esperado pelas empresas – índice de estoques em relação ao planejado em 51,4 pontos (acima de 50). A indústria gaúcha registra acúmulo de estoques indesejados desde setembro de 2021.

Para os próximos seis meses, as expectativas dos empresários em fevereiro de 2023 permanecem pouco otimistas – índices acima, mas muito próximos dos 50 pontos – e sem grandes alterações em relação às apuradas em janeiro. As expectativas de demanda (50,9), quantidade exportada (52,0) e compras de matérias-primas (50,5 pontos) permaneceram positivas. Já o índice do número de empregados subiu de 48,1 para 50,4 pontos, voltando a indicar crescimento, quase uma estabilidade, após três meses de perspectivas negativas. 

Por fim, a indústria gaúcha se mostrou mais propensa a investir. O índice de intenção de investimento aumentou de 50,6 em janeiro para 52,2 pontos em fevereiro. O valor, pouco acima de média histórica de 51,2, denota uma intenção moderada. De fato, em fevereiro de 2023, 53,6% das empresas gaúchas pretendiam investir nos seis meses seguintes.

Pelo segundo ano consecutivo, RS encerra com Fiscal no positivo

Em 2022, as contas públicas gaúchas apresentaram superávit orçamentário de R$ 3,3 bi, superando os valores positivos na ordem de R$ 2,6 bi ocorridos em 2021. Com relação ao Primário, o superávit foi de R$ 1,4 bi, inferior aos R$ 4,7 bi vistos no ano anterior.

Dentre os 26 Estados + DF, o RS ocupa a quinta colocação entre as UFs que apresentaram o maior resultado orçamentário, perdendo somente para SP, PR, RJ e GO. Diferentemente do que ocorreu em 2021, as receitas não exerceram o papel principal para a formação do superávit primário. Em 2022, o que ocorreu foi uma retração tanto das despesas quanto das receitas, no entanto, a queda dos gastos públicos foi muito maior do que a arrecadação.

A Receita Total Efetiva (que exclui as receitas intraorçamentárias) somou R$ 56,6 bi em 2022, queda real de 5,9% em relação a 2021. A retração deveu-se ao declínio das Receitas Correntes (-5,1% em termos reais), em especial de Tributos e Taxas (-9,9% real), resultado, sobremaneira, dos dois cortes nas alíquotas de ICMS ocorridas em 2022. Dado que, parte do ICMS é distribuído aos municípios gaúchos de forma obrigatória, a queda na arrecadação reverberou sobre as transferências, onde R$ 1,1 bi deixou de ser destinado a esses locais em 2022 (seja por meio do FUNDEB ou qualquer outra forma).

Pelo lado da Despesa Efetiva, o total empenhado em 2022 foi de R$ 53,3 bilhões, valor 7,8% menor (em termos reais) do que o ano anterior. Essa queda ocorreu devido a redução do dispêndio com a Dívida. O total empenhado em 2022, com relação aos pagamentos de Juros, Encargos e Amortização somou R$ 857,0 mi, redução de 81,5% em termos reais, em relação a 2021. Essa queda é resultado da adesão do RS ao Regime de Recuperação Fiscal, o qual gerou algumas benesses ao Estado, como a suspensão da dívida com terceiros (no primeiro ano) e o refinanciamento do saldo acumulado das parcelas não pagas.

Por outro lado, houve aumento nominal de R$ 2,0 bi no dispêndio de Pessoal e encargos sociais, decorrentes dos reajustes concedidos aos professores (que variou de 5,5% a 32%) e aos servidores em geral (6% de aumento). Considerando a inflação acumulada em 2022 de 5,8% (IPCA), a despesa com Pessoal avançou apenas 0,5%, resultado das reformas estruturantes que o Estado passou nos últimos 4 anos. Vale também destacar o salto dos Investimentos, que passaram de R$ 2,3 bi em 2021 para R$ 3,4 bi em 2022 (em termos nominais), evidências do Programa Avançar, com destaque aos valores destinados a obras de conservação de rodovias e pavimentação.

De modo geral, o quadro fiscal gaúcho apresentou bom desempenho em 2022. O desafio para 2023 será equilibrar três pilares: receitas, que não virão em magnitude igual ao observado nos últimos dois anos, demandas represadas da população, e, principalmente, o pagamento das parcelas da dívida. Mais do que nunca, o RS precisa focar em seu crescimento.

Os efeitos da Guerra entre Rússia e Ucrânia sobre a economia do BR

Na semana passada, completou um ano da instauração da guerra entre a Rússia e Ucrânia. Diante disso, quais foram as suas consequências sobre a economia brasileira?

Primeiramente, devemos lembrar que a Rússia e a Ucrânia são países produtores de algumas commodities relevantes, tais como as energéticas (petróleo, gás natural e carvão), os fertilizantes e os grãos (trigo e milho). Consequentemente, o mundo sentiu a elevação dos preços desses bens em 2022: 60,0%, 62,6% e 21,4%, respectivamente. O aumento de preços culminou na intensificação do processo inflacionário global, que já havia dado seus primeiros sinais em 2021, durante o processo de reabertura pós-covid.

No Brasil, a inflação medida pelo IPCA, atingiu seu pico no mês de abril, ao acumular alta de 12,1% em 12 meses. Itens como os combustíveis aumentaram 11,2% entre março e maio de 2022, período em que o barril do petróleo chegou a alcançar US$ 120. Além disso, itens que levam em sua composição farinha de trigo – produto pelo qual Rússia e Ucrânia são responsáveis por cerca de 30% das exportações mundiais – também tiveram seus preços pressionados. A farinha de trigo, o pão francês e o macarrão, por exemplo, no acumulado em 12 meses, sofreram aumentos de 30,8%, 18,2% e 20,3%, respectivamente, em 2022.

Mas nem só de malefícios o Brasil viveu com o aumento dos preços das commodities. A alta do preço do petróleo impulsionou o faturamento das empresas petrolíferas, entre elas a Petrobrás, o qual gerou para os cofres públicos um total de R$ 56,9 bi em Dividendos e Participações, valor que em 2019 havia sido de R$ 1,6 bi. O mesmo ocorreu com o caixa dos Estados, que foram beneficiados pelo aumento do ICMS advindo de Petróleo, Combustíveis e Lubrificantes. Entre março e junho de 2022, quando o preço dos combustíveis disparava no mercado interno, o volume de arrecadação vindo desses bens aumentou 23,6% em termos reais.

Por fim, o avanço dos preços das commodities reverberou sobre as exportações brasileiras, que encerraram 2022 somando US$ 334,1 bi. Com o advento da guerra, o mundo passou a rever seus parceiros comerciais de commodities e o Brasil passou a aumentar suas exportações de milho, pelo qual se elevaram em 194,7% em 2022. A União Europeia, grupo diretamente afetado pela escassez de produtos vindos dos países envolvidos no conflito, aumentou sua demanda por milho brasileiro em 249,2%, somando um total de US$ 2,2 bi em 2022, frente aos US$ 647,5 mi do ano anterior.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

2019202020212022*2023*
Agropecuária0,44,20,3-1,33,0
Indústria-0,7-3,04,81,51,0
Serviços1,5-3,75,24,00,8
TOTAL1,2-3,35,03,11,0
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

2019202020212022*2023*
Em R$7,3897,6108,8999,70810,314
Em US$21,8731,4761,6491,8791,965
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS

Inflação (% a.a.)

20192020202120222023*
IGP-M 7,323,117,85,54,7
INPC4,55,410,25,95,7
IPCA4,34,510,15,85,6
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Extrativa Mineral-9,7-3,41,0-3,2-0,1
Transformação0,2-4,64,3-0,41,2
Indústria Total3-1,1-4,53,9-0,71,1
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária13371466515
Indústria97149721446129
Indústria de Transformação134844021763
Construção719724519458
Extrativa e SIUP413337358
Serviços534-3781.9091.527406
TOTAL644-1932.7772.038550
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

2019202020212022*2023*
Fim do ano11,114,211,18,08,5
Média do ano12,013,813,29,38,8
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações221,1209,2280,8334,5276,0
Importações185,9158,8219,4272,7220,0
Balança Comercial35,250,461,461,856,0
*Projeção UEE/FIERGS

Moeda e Juros

20192020202120222023*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)4,502,009,2513,7513,75
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)54,028,97,4-6,52,5
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)4,035,205,585,225,35
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS

Setor Público (% do PIB)

20192020202120222023*
Resultado Primário-0,8-9,40,81,3-1,4
Juros Nominais-5,0-4,2-5,2-6,0-6,6
Resultado Nominal-5,8-13,6-4,4-4,7-8,0
Dívida Líquida do Setor Público54,762,557,357,561,0
Dívida Bruta do Governo Geral74,488,680,373,579,9
*Projeção UEE/FIERGS

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

2019202020212022*2023*
Agropecuária3,0-29,567,0-33,538,7
Indústria0,2-5,69,72,51,2
Serviços0,8-4,64,14,01,5
TOTAL1,1-6,810,4-2,55,0
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

2019202020212022*2023*
Em R$482,464480,173576,979595,135657,560
Em US$2122,28293,107106,959115,216125,299
*Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária01441
Indústria-60482912
Indústria de Transformação-20432210
Construção-40573
Extrativa e SIUP700-110
Serviços26-43906824
TOTAL20-4314110138
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

2019202020212022*2023*
Fim do ano7,38,68,15,76,0
Média do ano8,19,38,76,46,2
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações17,314,121,122,418,7
Industriais12,510,414,117,216,1
Importações10,37,611,716,013,5
Balança Comercial6,96,59,46,45,2
*Projeção UEE/FIERGS

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20192020202120222023*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)35,736,245,743,345,0
*Projeção UEE/FIERGS

Indicadores Industriais (% a.a.)

20192020202120222023*
Faturamento real3,0-3,18,96,13,4
Compras industriais-2,7-5,531,22,72,1
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)0,7-4,65,7-1,10,7
Massa salarial real-0,8-9,35,310,83,3
Emprego0,0-1,96,75,91,6
Horas trabalhadas na produção-1,0-5,715,28,32,5
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS0,1-4,812,94,72,1
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

2019202020212022*2023*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)2,5-5,59,01,11,4
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS

Informações sobre as atualizações das projeções:

Economia Brasileira: Não houve alterações.

Economia Gaúcha: Não houve alterações.

As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.

Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul

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