Ano 25 – Número 36 – 11 de setembro de 2023

Informe Econômico

Mais uma surpresa na economia brasileira: PIB cresceu 0,9% no 2º trimestre de 2023

Mais uma vez, o PIB brasileiro surpreendeu positivamente. O crescimento foi de 0,9% no segundo trimestre de 2023 em relação ao trimestre imediatamente anterior (1ºT/23), na série com ajuste sazonal. As expectativas indicavam um crescimento de apenas 0,3%. Vale lembrar que no primeiro trimestre o crescimento esperado era de 1,2% e o resultado foi de 1,8%. É o oitavo trimestre consecutivo em que a atividade apresenta alta nessa base de comparação. Com esse resultado, a atividade econômica do país opera 7,4% acima do patamar pré-pandemia (4ºT/19) e atinge o ponto mais alto da série histórica.

2ºtrim23/ 1ºtrim23*2ºtrim23/ 2ºtrim22Acum. em 2023Acum. em 4 trim.
PIB0,93,43,73,2
OFERTA
Agropecuária-0,917,017,911,2
Indústria0,91,51,72,2
Extrativa mineral1,88,88,23,5
Transformação0,3-1,7-1,30,0
Energia e saneamento (SIUP)0,44,85,68,1
Construção0,70,30,92,9
Serviços0,62,32,63,3
DEMANDA
Consumo das famílias0,93,03,23,9
Consumo do governo0,72,92,01,4
Formação bruta de capital fixo0,1-2,6-0,91,7
Exportação de bens e serviços2,912,19,79,8
Importação de bens e serviços (-)4,52,12,14,9
Fonte: IBGE. *Com ajuste sazonal. SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública.

Na comparação trimestre contra mesmo trimestre do ano anterior, o PIB registrou alta de 3,4% com destaques para o crescimento em todos os grandes setores. Os bons números das safras de soja (+24,5%), milho (+13,7%) e algodão (+10,2%) fizeram o setor Agropecuário crescer 17,0% no 2ºT/23 ante mesmo período de 2022. Vale relembrar que no 1ºT/23 a Agro cresceu 18,8%. Os Serviços (+2,3%) tiveram impacto importante no número do trimestre, com alta em todas os seus segmentos. A Indústria, por sua vez, cresceu 1,5%, resultado, sobremaneira, dos bons números das Indústrias Extrativas (+8,8%) e Energia e Saneamento (+4,8%). A Construção também cresceu (+0,3%), alcançando a décima primeira alta consecutiva nessa base de comparação. Já a Indústria de Transformação (-1,7%) apresentou a segunda queda nesse ano, com as maiores influências negativas vindas de Químicos, Máquinas e equipamentos, Produtos de madeira e Máquinas e aparelhos elétricos.

Pela ótica da demanda, ainda na comparação com o 2º trimestre de 2022, houve alta no Consumo das famílias (+3,0%), influenciada pelo arrefecimento da inflação, pelos reajustes nos programas de distribuição de renda, pela melhora no mercado de trabalho e aumento do crédito, em termos reais. O Consumo do governo também cresceu (+2,9%). Os investimentos (Formação bruta de capital fixo) tiveram uma forte contração de 2,6%, principalmente, pela retração na produção de bens de capital. O setor externo, por sua vez, contribuiu positivamente para o resultado, dado que as Exportações (+12,1%) cresceram mais do que as Importações (+2,1%).

Em suma, no acumulado do ano, o PIB apresenta alta de 3,7% frente ao mesmo período de 2022, com crescimento em todos os grandes setores econômicos: Agropecuária (+17,9%), Indústria (+1,7%) e Serviços (+2,6%). Na Indústria, o destaque do ano tem sido o setor Extrativo (+8,2%) e de Energia e Saneamento (+5,6%). A Indústria de Transformação tem sentido com maior intensidade os efeitos adversos da baixa dinâmica da atividade econômica brasileira, ao recuar 1,3% ao longo do primeiro semestre de 2023.

Análises e perspectivas para os próximos trimestres

Mesmo diante das surpresas positivas do PIB, a desaceleração esperada aconteceu, ainda que de forma menos intensa do que a projetada. O setor de Serviços, que tem relação estreita com o consumo das famílias, segue com bons resultados, influenciado pelo mercado de trabalho resiliente, o impulso fiscal promovido pelo governo federal, a queda da inflação e o aumento do crédito para pessoas físicas em termos reais. A Agropecuária ainda contabiliza os efeitos de uma safra recorde, que puxou o crescimento no primeiro trimestre e, mesmo com a queda na passagem para o segundo trimestre, apresenta uma alta bastante expressiva frente ao respectivo período do ano anterior. Na Indústria, o setor extrativo tem puxado o crescimento, com os reflexos aparecendo também nos bons números das exportações. A Construção, por conta de seu ciclo longo de produção, ainda colhe os frutos de um período de juros baixos, mas já há sinais de desaceleração.

A grande notícia negativa vem da atividade com maior peso do setor industrial. A Indústria de Transformação apresentou mais uma queda e tem os piores resultados entre os subsetores da Indústria em todas as bases de comparação. O nível atual de seu PIB está próximo ao observado em 2016. Impactado pela alta dos juros e a baixa confiança dos empresários, os reflexos também foram observados na Formação Bruta de Capital Fixo, que teve forte queda. No mesmo sentido, as taxas de poupança e investimento da economia também caíram. Esses resultados são preocupantes, pois esses indicadores apontam a capacidade do país crescer de forma sustentável no futuro.

O segundo semestre de 2023 deve ainda contar com diversos elementos que ajudam a sustentar a economia relativamente aquecida, como os estímulos fiscais, a redução da inflação, queda nos juros e o mercado de trabalho com bons números de emprego e renda. Mesmo que haja uma desaceleração nos próximos meses, o crescimento do ano deve ser maior que os 2% que projetávamos até então. O simples carregamento estatístico aponta para isso: caso a economia fique estagnada no mesmo nível do segundo trimestre, o crescimento do ano será de 3,1%.

Queda da atividade industrial gaúcha se intensifica no início do segundo semestre

A pesquisa Indicadores industriais do RS de julho de 2023 mostrou perdas fortes e generalizadas no início do segundo semestre, tanto na margem quanto nas comparações anuais. O Índice de Desempenho Industrial (IDI-RS) caiu pelo segundo mês consecutivo em julho, em 3,8% ante o mês anterior na série com ajuste sazonal. Nos últimos onze meses, o índice, com oito baixas, duas altas e uma estabilização, recuou 12,9%, atingindo o menor patamar desde outubro de 2020, apenas 1,2% (eram 16,1% há um ano) acima do pré-pandemia.

Índice de desempenho industrial (IDI-RS)

(Índice de base fixa mensal – 2006=100)

Fonte: UEE/FIERGS

O IDI-RS mede o nível de atividade da indústria gaúcha por meio da combinação de seis variáveis pesquisadas pelos Indicadores Industriais do RS. Em julho, todas elas registraram desempenho negativo na série com ajuste sazonal. As quedas expressivas das compras industriais (-8,5%) e do faturamento real (-4,6%) exerceram as maiores influências. As horas trabalhadas na produção e a utilização da capacidade instalada (UCI) recuaram 2,3% e 1,0 ponto percentual (para 76,7%, patamar mais baixo desde agosto de 2020), respectivamente. No mercado de trabalho do setor, o emprego caiu 0,3% e a massa salarial real, 0,5%.

Em relação a julho do ano passado, a atividade industrial medida pelo IDI-RS apresentou queda de 9,3%, a sétima consecutiva e a mais intensa desde junho de 2020 nessa métrica, acentuando o saldo negativo do ano de -2,7% em junho para -3,7% em julho, quando comparados aos mesmos períodos de 2022. Em 2023, as compras industriais (-11,4%) continuam sendo o destaque negativo entre os componentes do IDI-RS, mostrando retrações também no faturamento real (-4,5%), na UCI (-3,2 p.p.) e nas horas trabalhadas na produção (-1,4%). Já o emprego (+0,4%) e a massa salarial real (+5,9%) ainda sustentam taxas positivas, mas em clara trajetória de desaceleração.

Indicadores Industriais do Rio Grande do Sul – Julho de 2023

Variação %
Mês anterior*Mês ano anteriorAc. ano
Índice de desempenho industrial-3,8-9,3-3,7
Faturamento real-4,6-9,6-4,5
Horas Trabalhadas na produção-2,3-6,2-1,4
Emprego-0,3-1,70,4
Massa salarial real-0,50,85,9
UCI (em p.p.)-1,0-6,2-3,2
Compras Industriais-8,5-23,0-11,4
*Série dessazonalizada.

Na comparação anual, dos 16 setores industriais pesquisados, 9 mostraram o recuo da atividade em 2023. Como sempre, o desempenho da indústria gaúcha reflete o comportamento do segmento metalmecânico, que é bastante negativo em 2023: Máquinas e equipamentos (-4,2%), Veículos Automotores (-4,8%), Produtos de metal (-8,1%) e Metalurgia (-16,8%).  O setor de Químicos, refino de petróleo e biocombustíveis (-3,2%) também forneceu contribuição negativa relevante. Por outro lado, os avanços mais importantes vieram de Alimentos (+1,8%) e Equipamentos de informática eletrônicos (+11,1%), Tabaco (+5,5%) e Móveis (+3,4%).

Índice de desempenho industrial do RS – Setorial

(Variação jan-jul 2023/22 – %)

Fonte: UEE/FIERGS

Em resumo, os Indicadores Industriais do RS de julho mostraram que o quadro negativo segue intenso, desencadeado pela incerteza gerada com relação à mudança de governo e ao cenário macroeconômico, naquele momento, de inflação e juros em alta, que abalaram a confiança empresarial, desacelerando a demanda interna, sobretudo os investimentos.

Para os próximos meses, as avaliações menos negativas para a economia brasileira dos empresários gaúchos colhidas pela Sondagem Industrial, num cenário amenizado por juros, inflação e incerteza menores, sinalizam alguma melhora relativa da atividade do setor, mas com pouco espaço para aceleração. O excesso de estoques reportados pela mesma publicação é um obstáculo adicional. Nesse sentido, a indústria gaúcha não deve recompor as perdas acumuladas até aqui. Se o IDI-RS estabilizar na margem no nível médio dos últimos três meses até o final do ano, registrará uma queda de 5,1% (herança estatística) em 2023 ante 2022.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20192020202120222023*
Agropecuária0,44,20,3-1,711,0
Indústria-0,7-3,04,81,60,8
Serviços1,5-3,75,24,21,4
TOTAL1,2-3,35,02,92,0
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$7,3897,6108,8999,91510,599
Em US$21,8731,4761,6491,9202,119
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS.

Inflação (% a.a.)

20192020202120222023*
IGP-M 7,323,117,85,5-2,7
INPC4,55,410,25,94,6
IPCA4,34,510,15,84,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Extrativa Mineral-9,7-3,41,0-3,24,6
Transformação0,2-4,64,3-0,40,0
Indústria Total3-1,1-4,53,9-0,70,5
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária13371466435
Indústria97149719442299
Indústria de Transformação1348439215147
Construção7197245193134
Extrativa e SIUP4133363519
Serviços534-3781.9121.515941
TOTAL644-1932.7782.0211.276
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano11,114,211,17,97,3
Média do ano12,013,89,37,97,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações221,1209,2280,8334,5304,0
Importações185,9158,8219,4272,7239,5
Balança Comercial35,250,461,461,864,5
*Projeção UEE/FIERGS.

Moeda e Juros

20192020202120222023*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)4,502,009,2513,7512,00
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)54,028,97,4-6,5-5,2
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)4,035,205,585,224,95
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS.

Setor Público (% do PIB)

20192020202120222023*
Resultado Primário-0,8-9,20,71,3-1,2
Juros Nominais-5,0-4,1-5,0-5,9-6,0
Resultado Nominal-5,8-13,3-4,3-4,6-7,2
Dívida Líquida do Setor Público54,761,455,857,161,0
Dívida Bruta do Governo Geral74,486,978,372,374,3
*Projeção UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20192020202120222023*
Agropecuária3,0-29,560,2-45,619,8
Indústria0,2-6,111,22,2-2,0
Serviços0,8-5,04,23,72,0
TOTAL1,1-7,210,6-5,12,5
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$482,464470,942584,602594,055638,133
Em US$2122,28291,317108,362115,018127,599
*Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária01732
Indústria-60472912
Indústria de Transformação-20432210
Construção-40572
Extrativa e SIUP700-100
Serviços26-43906840
TOTAL20-4214410054
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano7,38,68,14,64,6
Média do ano8,19,38,76,15,0
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações17,314,121,122,619,7
Industriais12,510,414,117,216,1
Importações10,37,611,716,014,6
Balança Comercial6,96,59,46,65,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20192020202120222023*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)35,736,245,743,344,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Indicadores Industriais (% a.a.)

20192020202120222023*
Faturamento real3,0-3,18,95,9-3,7
Compras industriais-2,7-5,531,2-0,5-8,9
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)0,7-4,55,7-0,7-3,0
Massa salarial real-0,8-9,05,310,93,9
Emprego0,0-1,96,75,9-0,2
Horas trabalhadas na produção-0,9-5,515,28,4-1,0
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS0,1-4,712,94,1-3,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)2,5-5,59,01,1-3,3
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Não houve alterações
Economia Gaúcha: Não houve alterações.
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