O ano de 2023 foi de grandes dificuldades para a Indústria gaúcha como demonstraram todos os indicadores de conjuntura. O cenário econômico carregado de incerteza, demanda fraca, mundo em desaceleração, juros altos e dificuldade de acesso ao crédito, além dos problemas climáticos, gerou quedas intensas na atividade industrial, baixos níveis de confiança e elevados patamares de ociosidade. E, segundo a Pesquisa Investimentos na Indústria do RS 2023-2024, elaborada pela FIERGS, comprometeu também os investimentos do setor. A pesquisa foi realizada de 1º a 11 de dezembro de 2023, com a participação de 223 empresas gaúchas pequenas, médias e grandes.
De fato, 64,1% das indústrias gaúchas investiram em 2023, uma redução de 7,8 p.p. em relação a 2022. O percentual foi o quarto menor da série iniciada em 2010 e o mais baixo dos últimos três anos, muito distante dos níveis do início dos anos 2010 (acima de 80%) perdidos na grande crise de 2014-2016. A boa notícia é que o resultado de 2023 superou em 10,1 p.p. o previsto pelas empresas no início do mesmo ano, quando somente 54,0% afirmaram que pretendiam investir.
Empresas que investiram por ano
(Total de empresas – em % de respostas)
O grau de efetivação dos planos de investimento também foi baixo e caiu em 2023 frente ao ano anterior. Apenas quatro em cada dez empresas (40,2%) que tinham planos de investimentos para 2023 os realizou totalmente como planejado. Esse também foi o quarto menor patamar da série, 8,4 p.p. inferiores a 2022.
De acordo com os empresários gaúchos, a incerteza econômica, com 68,6% das citações das empresas, a queda nas receitas (60,0%) e a expectativa de demanda insuficiente (57,2%) foram, entre outros, os maiores entraves à efetivação dos investimentos pela indústria gaúcha para 2023. De fato, a incerteza desde o final de 2022 faz parte do cenário econômico nacional, sobretudo com relação às questões fiscais. As menores receitas restringem a principal fonte de recursos para investir: o capital próprio. A demanda insuficiente, especialmente a interna, foi, segundo a Sondagem Industrial do RS – pesquisa mensal elaborada pela FIERGS –, o maior problema enfrentado pelo setor em 2023.
Outros dois importantes fatores restritivos à execução dos investimentos planejados para 2023 foram as novas incertezas setoriais ou do ramo de atividade e os entraves tributários: 55,4% e 51,6% das empresas, respectivamente, afirmaram que os dois itens estavam entre as principais dificuldades enfrentadas.
Vale destacar, por fim, que a instabilidade ou insegurança jurídica foi a sétima maior dificuldade encontrada para investir no ano passado, marcada por 42,9% das empresas que tinham tal pretensão (atrás do aumento dos custos dos insumos com 47,8% das respostas). O percentual significativo está em sintonia com a Sondagem Industrial do RS, que mostrou a insegurança jurídica ganhando relevância inédita entre os principais obstáculos enfrentados pelo setor em 2023.
Dificuldades para realizar investimentos em 2023
(Total das empresas que tinham planos de investir anual – em % de respostas)
A maior parte dos investimentos da indústria gaúcha em 2023 foi, como sempre, financiada com recursos próprios, segundo a pesquisa. Em média, 59,0% do total, próximo do patamar observado em 2022 (57,0%). Entre os recursos de terceiros, a maior parcela veio dos bancos comerciais: 10,0% do total investido (8,0% dos privados e 2,0% dos públicos). Já os bancos oficiais de desenvolvimento participaram com somente 6,0% do total investido.
A aquisição de máquinas e equipamentos novos foi de longe a principal natureza do investimento da indústria gaúcha em 2023, realizado por 71,8% das empresas, cujo objetivo principal (53,9% das empresas) foi mecanizar a produção industrial. Ou seja, as empresas compraram máquinas que precisam do manuseio humano para executar a tarefa. Com relação à origem de fabricação, 57,3% das empresas afirmaram que a principal aquisição foi nacional e o restante estrangeira.
A inovação tecnológica – incorporação de novas tecnologias e inovações adquiridas ou desenvolvidas em projetos de P&D – foi a ação estratégica mais visada pelos investimentos realizados em 2023: dois terços das empresas tinham esse propósito (66,7%).
A pesquisa mostrou que, para 2024, se confirmadas as perspectivas dos empresários, os investimentos da indústria gaúcha devem recuar ao menor patamar da série histórica iniciada em 2010. Somente 61,3% das indústrias gaúchas pretendem investir neste ano, 2,8 p.p. abaixo do percentual de empresas que investiram em 2023. As expectativas pouco animadoras para o investimento em 2024 são compatíveis com os baixos níveis de confiança dos empresários. Vale destacar que a pesquisa foi realizada entre os dias 1º e 11 de dezembro de 2023, portanto, durante as discussões de aumento da alíquota modal de ICMS de 17% para 19,5% e antes da edição dos decretos que cortam incentivos de ICMS, que ocorreu em 16 de dezembro do ano passado.
Investimentos efetivos e intenção de investimentos
(Total das empresas – % de respostas)
Aumentos ou melhorias do processo produtivo atual e da capacidade instalada são os dois maiores objetivos dos investimentos previstos para 2024, citado por 39,8% e 38,2% das empresas, respectivamente, tendo ainda, em menor medida, a finalidade de introduzir novos produtos e processos produtivos. Tais resultados revelam que a busca por maior eficiência e competitividade, mais do que a capacidade instalada, orienta os investimentos previstos para 2024.
Objetivo do investimento planejado para 2024
(Total das empresas que pretendem investir – em % de respostas)
A maioria (64,7%) das empresas gaúchas aponta que usará recursos próprios para financiar os investimentos previstos, que terão como foco principal o mercado interno, alvo, exclusivo ou prioritário, de 65,6% das empresas que planejam investir.
Atividade industrial gaúcha cresceu pelo segundo mês seguido
O Índice de Desempenho Industrial (IDI/RS) cresceu 2,2% em fevereiro de 2024 na comparação com janeiro feito o ajuste sazonal. Foi a segunda alta seguida da atividade industrial gaúcha (+4,9% no total), o que não acontecia desde agosto de 2022. Com isso, o índice retorna aos níveis de maio de 2023, ainda distante de recuperar as perdas recentes – 7,7% abaixo de agosto de 2022 –, mas 7,3% acima do patamar pré-pandemia.
Cinco dos seis componentes do IDI/RS apresentaram alta na base mensal ajustada. A exceção foi o emprego, que caiu 0,2% e não cresce há dez meses, enquanto os destaques foram as compras industriais (+4,5%) e o faturamento real (+2,4%), que aumentaram, respectivamente, pelo terceiro e segundo mês consecutivos. Também avançaram no período, as horas trabalhadas na produção (+1,6%), a utilização da capacidade instalada (+0,7 p.p.), de 79,4% para 80,1%, e a massa salarial real (+0,4%).
Índice de desempenho industrial (IDI-RS)
(Índice de base fixa mensal – 2006=100)
Na comparação com meses iguais do ano anterior, o IDI/RS caiu 0,7% em fevereiro, a menos intensa das quatorze taxas negativas seguidas nessa métrica, devido, além do desempenho positivo na margem, ao calendário atípico, com 29 dias no mês em 2024. Com isso, o IDI/RS fechou o primeiro bimestre de 2024 com uma redução de 2,1% relativamente à igual período de 2023, repercutindo as quedas do faturamento real (-5,7%), das compras industriais (-3,1%), das horas trabalhadas na produção (-2,5%) e do emprego (-1,4%). No campo positivo, apenas a massa salarial real (+2,3%) e a UCI (+0,4 p.p.).
Indicadores Industriais do Rio Grande do Sul – Fevereiro de 2024
Variação % | |||
---|---|---|---|
Mês anterior* | Mês ano anterior | Ac. ano | |
Índice de desempenho industrial | 2,2 | -0,7 | -2,1 |
Faturamento real | 2,4 | -5,0 | -5,7 |
Horas Trabalhadas na produção | 1,6 | -0,8 | -2,5 |
Emprego | -0,2 | -1,5 | -1,4 |
Massa salarial real | 0,4 | 3,3 | 2,3 |
UCI (em p.p.) | 0,7 | 0,5 | 0,4 |
Compras Industriais | 4,5 | 1,3 | -3,1 |
Na comparação com o primeiro bimestre de 2023, nove dos dezesseis setores que compõem a pesquisa tiveram redução na atividade industrial. As maiores influências negativas partiram de Máquinas e equipamentos (-6,0%), Alimentos (-3,1%) e Couros e calçados (-3,4%). Na outra ponta, os setores de Tabaco, (+23,4%), Químicos, derivados de petróleo e biocombustíveis (+3,9%), Metalurgia (+15,0%) e Móveis (+4,7%) forneceram os principais impactos positivos.
Índice de desempenho industrial do RS – Setorial
(Variação jan-fev 2024/23 – %)
Os Indicadores Industriais do RS mostram que a atividade industrial, após um longo período de queda, esboçou uma forte reação nesse início de ano na margem. Vale lembrar, porém, que a volatilidade vem caracterizando o comportamento recente do setor.
De fato, o cenário econômico não registrou mudanças relevantes. Os juros e a inflação estão em declínio, mas a incerteza persiste em níveis elevados. A questão fiscal, as indefinições acerca da Reforma Tributária, a demanda fraca, e, no âmbito local, os cortes de incentivos fiscais de ICMS, mantêm a confiança do empresário em patamares baixos, resultando num quadro bastante adverso aos investimentos, que é um fator relevante para o desempenho da indústria gaúcha.
Portanto, dificilmente a atividade industrial manterá, nos próximos meses, a alta intensa verificada no primeiro bimestre do ano. A conjuntura é mais compatível com um crescimento lento e gradual, ainda com oscilações mensais, devendo encerrar o ano no campo positivo em razão da baixa base de comparação do ano passado, impactado também pelos eventos climáticos atípicos. O efeito carregamento do primeiro bimestre de 2024 para o restante do ano já é positivo em 1,0%. Ou seja, se mantiver o mesmo patamar (na média) até o fim de 2024, a atividade industrial gaúcha crescerá 1,0% neste ano.
DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA
Produto Interno Bruto1
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Agropecuária | 4,2 | 0,0 | -1,1 | 15,1 | 0,5 |
Indústria | -3,0 | 5,0 | 1,5 | 1,6 | 1,3 |
Serviços | -3,7 | 4,8 | 4,3 | 2,4 | 1,7 |
Total | -3,3 | 4,8 | 3,0 | 2,9 | 1,5 |
Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Em R$ | 7,610 | 9,012 | 9,915 | 10,856 | 11,482 |
Em US$2 | 1,476 | 1,670 | 1,920 | 2,170 | 2,295 |
Inflação (% a.a.)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
IGP-M | 23,1 | 17,8 | 5,5 | -3,2 | 4,0 |
INPC | 5,4 | 10,2 | 5,9 | 3,7 | 4,1 |
IPCA | 4,5 | 10,1 | 5,8 | 4,6 | 4,1 |
Produção Física Industrial (% a.a.)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Extrativa Mineral | -3,4 | 1,0 | -3,2 | 7,0 | 1,7 |
Transformação | -4,6 | 4,3 | -0,4 | -1,0 | 1,1 |
Indústria Total3 | -4,5 | 3,9 | -0,7 | 0,2 | 1,4 |
Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Agropecuária | 37 | 146 | 64 | 35 | 30 |
Indústria | 143 | 720 | 441 | 286 | 221 |
Indústria de Transformação | 45 | 439 | 214 | 103 | 109 |
Construção | 95 | 245 | 193 | 159 | 99 |
Extrativa e SIUP4 | 4 | 36 | 35 | 24 | 13 |
Serviços | -372 | 1.914 | 1.508 | 1.163 | 706 |
Total | -192 | 2.780 | 2.013 | 1.484 | 956 |
Taxa de desemprego (%)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Fim do ano | 14,2 | 11,1 | 7,9 | 7,4 | 7,6 |
Média do ano | 13,8 | 13,2 | 9,3 | 8,0 | 7,9 |
Setor Externo (US$ bilhões)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Exportações | 209,2 | 280,8 | 334,1 | 339,7 | 336,8 |
Importações | 158,8 | 219,4 | 272,6 | 240,8 | 241,6 |
Balança Comercial | 50,4 | 61,4 | 61,5 | 98,8 | 95,2 |
Moeda e Juros
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.) | 2,00 | 9,25 | 13,75 | 11,75 | 9,50 |
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$) | 5,20 | 5,58 | 5,22 | 4,84 | 5,08 |
Setor Público (% do PIB)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Resultado Primário | -9,2 | 0,7 | 1,3 | -2,3 | -1,2 |
Juros Nominais | -4,1 | -5,0 | -5,9 | -6,6 | -6,3 |
Resultado Nominal | -13,3 | -4,3 | -4,6 | -8,9 | -7,5 |
Dívida Líquida do Setor Público | 61,4 | 55,8 | 57,1 | 60,5 | 64,5 |
Dívida Bruta do Governo Geral | 86,9 | 78,3 | 72,9 | 74,9 | 79,2 |
DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA
Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Agropecuária | -29,6 | 53,0 | -45,6 | 16,3 | 37,1 |
Indústria | -6,1 | 8,1 | 1,9 | -4,0 | 1,8 |
Serviços | -5,0 | 4,4 | 3,6 | 2,7 | 1,5 |
Total | -7,2 | 9,3 | -5,2 | 1,7 | 4,7 |
Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Em R$ | 470,942 | 581,284 | 592,683 | 640,299 | 697,880 |
Em US$2 | 91,317 | 107,747 | 114,752 | 128,189 | 140,983 |
Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Agropecuária | 2 | 7 | 3 | 1 | 1 |
Indústria | -1 | 47 | 29 | -9 | 6 |
Indústria de Transformação | 0 | 43 | 22 | -6 | 5 |
Construção | -1 | 5 | 7 | -2 | 1 |
Extrativa e SIUP3 | 0 | -1 | 1 | -1 | 0 |
Serviços | -42 | 90 | 68 | 55 | 14 |
Total | -41 | 144 | 100 | 47 | 21 |
Taxa de desemprego (%)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Fim do ano | 8,6 | 8,1 | 4,6 | 5,2 | 5,0 |
Média do ano | 9,3 | 8,7 | 6,1 | 5,3 | 5,2 |
Setor Externo (US$ bilhões)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Exportações | 14,1 | 21,1 | 22,6 | 22,3 | 23,0 |
Indústria de Transformação | 10,4 | 14,4 | 17,7 | 16,8 | 17,1 |
Importações | 7,6 | 11,7 | 16,0 | 13,8 | 15,4 |
Balança Comercial | 6,5 | 9,4 | 6,6 | 8,5 | 7,6 |
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões) | 36,2 | 45,7 | 43,3 | 44,7 | 46,8 |
Indicadores Industriais (% a.a.)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Faturamento real | -3,1 | 8,9 | 5,9 | -7,2 | 2,1 |
Compras industriais | -5,5 | 31,2 | -0,5 | -14,8 | 7,5 |
Utilização da capacidade instalada (em p.p.) | -4,5 | 5,7 | -0,7 | -3,3 | 1,0 |
Massa salarial real | -9,0 | 5,3 | 10,9 | 2,8 | 0,6 |
Emprego | -1,9 | 6,7 | 5,9 | -0,8 | 0,2 |
Horas trabalhadas na produção | -5,5 | 15,2 | 8,4 | -3,5 | 1,5 |
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS | -4,7 | 12,9 | 4,1 | -5,6 | 2,8 |
Produção Física Industrial (% a.a.)
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024* | |
---|---|---|---|---|---|
Produção Física Industrial4 (% a.a.) | -5,5 | 9,0 | 1,1 | -4,7 | 2,3 |
Informações sobre as atualizações das projeções: Economia Brasileira: Não houve alterações nas projeções de 2024. Economia Gaúcha: Não houve alterações nas projeções de 2024. As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. |
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