Ano 26 – Número 15 – 15 de Abril de 2024

Informe Econômico

Investimentos da indústria gaúcha caíram no ano passado

O ano de 2023 foi de grandes dificuldades para a Indústria gaúcha como demonstraram todos os indicadores de conjuntura. O cenário econômico carregado de incerteza, demanda fraca, mundo em desaceleração, juros altos e dificuldade de acesso ao crédito, além dos problemas climáticos, gerou quedas intensas na atividade industrial, baixos níveis de confiança e elevados patamares de ociosidade. E, segundo a Pesquisa Investimentos na Indústria do RS 2023-2024, elaborada pela FIERGS, comprometeu também os investimentos do setor. A pesquisa foi realizada de 1º a 11 de dezembro de 2023, com a participação de 223 empresas gaúchas pequenas, médias e grandes.

De fato, 64,1% das indústrias gaúchas investiram em 2023, uma redução de 7,8 p.p. em relação a 2022. O percentual foi o quarto menor da série iniciada em 2010 e o mais baixo dos últimos três anos, muito distante dos níveis do início dos anos 2010 (acima de 80%) perdidos na grande crise de 2014-2016. A boa notícia é que o resultado de 2023 superou em 10,1 p.p. o previsto pelas empresas no início do mesmo ano, quando somente 54,0% afirmaram que pretendiam investir.

Empresas que investiram por ano

(Total de empresas – em % de respostas)

Fonte: UEE/FIERGS.

O grau de efetivação dos planos de investimento também foi baixo e caiu em 2023 frente ao ano anterior. Apenas quatro em cada dez empresas (40,2%) que tinham planos de investimentos para 2023 os realizou totalmente como planejado. Esse também foi o quarto menor patamar da série, 8,4 p.p. inferiores a 2022.

De acordo com os empresários gaúchos, a incerteza econômica, com 68,6% das citações das empresas, a queda nas receitas (60,0%) e a expectativa de demanda insuficiente (57,2%) foram, entre outros, os maiores entraves à efetivação dos investimentos pela indústria gaúcha para 2023. De fato, a incerteza desde o final de 2022 faz parte do cenário econômico nacional, sobretudo com relação às questões fiscais. As menores receitas restringem a principal fonte de recursos para investir: o capital próprio. A demanda insuficiente, especialmente a interna, foi, segundo a Sondagem Industrial do RS – pesquisa mensal elaborada pela FIERGS –, o maior problema enfrentado pelo setor em 2023.

Outros dois importantes fatores restritivos à execução dos investimentos planejados para 2023 foram as novas incertezas setoriais ou do ramo de atividade e os entraves tributários: 55,4% e 51,6% das empresas, respectivamente, afirmaram que os dois itens estavam entre as principais dificuldades enfrentadas.

Vale destacar, por fim, que a instabilidade ou insegurança jurídica foi a sétima maior dificuldade encontrada para investir no ano passado, marcada por 42,9% das empresas que tinham tal pretensão (atrás do aumento dos custos dos insumos com 47,8% das respostas). O percentual significativo está em sintonia com a Sondagem Industrial do RS, que mostrou a insegurança jurídica ganhando relevância inédita entre os principais obstáculos enfrentados pelo setor em 2023.

Dificuldades para realizar investimentos em 2023

(Total das empresas que tinham planos de investir anual – em % de respostas)

Fonte: UEE/FIERGS.

A maior parte dos investimentos da indústria gaúcha em 2023 foi, como sempre, financiada com recursos próprios, segundo a pesquisa. Em média, 59,0% do total, próximo do patamar observado em 2022 (57,0%). Entre os recursos de terceiros, a maior parcela veio dos bancos comerciais: 10,0% do total investido (8,0% dos privados e 2,0% dos públicos). Já os bancos oficiais de desenvolvimento participaram com somente 6,0% do total investido.

A aquisição de máquinas e equipamentos novos foi de longe a principal natureza do investimento da indústria gaúcha em 2023, realizado por 71,8% das empresas, cujo objetivo principal (53,9% das empresas) foi mecanizar a produção industrial. Ou seja, as empresas compraram máquinas que precisam do manuseio humano para executar a tarefa. Com relação à origem de fabricação, 57,3% das empresas afirmaram que a principal aquisição foi nacional e o restante estrangeira.

A inovação tecnológica – incorporação de novas tecnologias e inovações adquiridas ou desenvolvidas em projetos de P&D – foi a ação estratégica mais visada pelos investimentos realizados em 2023: dois terços das empresas tinham esse propósito (66,7%).

A pesquisa mostrou que, para 2024, se confirmadas as perspectivas dos empresários, os investimentos da indústria gaúcha devem recuar ao menor patamar da série histórica iniciada em 2010. Somente 61,3% das indústrias gaúchas pretendem investir neste ano, 2,8 p.p. abaixo do percentual de empresas que investiram em 2023. As expectativas pouco animadoras para o investimento em 2024 são compatíveis com os baixos níveis de confiança dos empresários. Vale destacar que a pesquisa foi realizada entre os dias 1º e 11 de dezembro de 2023, portanto, durante as discussões de aumento da alíquota modal de ICMS de 17% para 19,5% e antes da edição dos decretos que cortam incentivos de ICMS, que ocorreu em 16 de dezembro do ano passado.

Investimentos efetivos e intenção de investimentos

(Total das empresas – % de respostas)

Fonte: FIERGS/UEE. Pesquisa Investimentos na Indústria RS. * A pesquisa iniciou em 2010, portanto, não há dados para a intenção, apenas efetivo. ** Para 2024, há apenas a intenção, pois o ano está apenas começando.

Aumentos ou melhorias do processo produtivo atual e da capacidade instalada são os dois maiores objetivos dos investimentos previstos para 2024, citado por 39,8% e 38,2% das empresas, respectivamente, tendo ainda, em menor medida, a finalidade de introduzir novos produtos e processos produtivos. Tais resultados revelam que a busca por maior eficiência e competitividade, mais do que a capacidade instalada, orienta os investimentos previstos para 2024.

Objetivo do investimento planejado para 2024

(Total das empresas que pretendem investir – em % de respostas)

Fonte: FIERGS/UEE. Pesquisa Investimentos na Indústria RS.

A maioria (64,7%) das empresas gaúchas aponta que usará recursos próprios para financiar os investimentos previstos, que terão como foco principal o mercado interno, alvo, exclusivo ou prioritário, de 65,6% das empresas que planejam investir.


Atividade industrial gaúcha cresceu pelo segundo mês seguido

O Índice de Desempenho Industrial (IDI/RS) cresceu 2,2% em fevereiro de 2024 na comparação com janeiro feito o ajuste sazonal. Foi a segunda alta seguida da atividade industrial gaúcha (+4,9% no total), o que não acontecia desde agosto de 2022. Com isso, o índice retorna aos níveis de maio de 2023, ainda distante de recuperar as perdas recentes – 7,7% abaixo de agosto de 2022 –, mas 7,3% acima do patamar pré-pandemia.

Cinco dos seis componentes do IDI/RS apresentaram alta na base mensal ajustada. A exceção foi o emprego, que caiu 0,2% e não cresce há dez meses, enquanto os destaques foram as compras industriais (+4,5%) e o faturamento real (+2,4%), que aumentaram, respectivamente, pelo terceiro e segundo mês consecutivos. Também avançaram no período, as horas trabalhadas na produção (+1,6%), a utilização da capacidade instalada (+0,7 p.p.), de 79,4% para 80,1%, e a massa salarial real (+0,4%).

Índice de desempenho industrial (IDI-RS)

(Índice de base fixa mensal – 2006=100)

Fonte: UEE/FIERGS.

Na comparação com meses iguais do ano anterior, o IDI/RS caiu 0,7% em fevereiro, a menos intensa das quatorze taxas negativas seguidas nessa métrica, devido, além do desempenho positivo na margem, ao calendário atípico, com 29 dias no mês em 2024. Com isso, o IDI/RS fechou o primeiro bimestre de 2024 com uma redução de 2,1% relativamente à igual período de 2023, repercutindo as quedas do faturamento real (-5,7%), das compras industriais (-3,1%), das horas trabalhadas na produção (-2,5%) e do emprego (-1,4%). No campo positivo, apenas a massa salarial real (+2,3%) e a UCI (+0,4 p.p.). 

Indicadores Industriais do Rio Grande do Sul – Fevereiro de 2024

Variação %
Mês anterior*Mês ano anteriorAc. ano
Índice de desempenho industrial2,2-0,7-2,1
Faturamento real2,4-5,0-5,7
Horas Trabalhadas na produção1,6-0,8-2,5
Emprego-0,2-1,5-1,4
Massa salarial real0,43,32,3
UCI (em p.p.)0,70,50,4
Compras Industriais4,51,3-3,1
*Série dessazonalizada

Na comparação com o primeiro bimestre de 2023, nove dos dezesseis setores que compõem a pesquisa tiveram redução na atividade industrial. As maiores influências negativas partiram de Máquinas e equipamentos (-6,0%), Alimentos (-3,1%) e Couros e calçados (-3,4%). Na outra ponta, os setores de Tabaco, (+23,4%), Químicos, derivados de petróleo e biocombustíveis (+3,9%), Metalurgia (+15,0%) e Móveis (+4,7%) forneceram os principais impactos positivos.

Índice de desempenho industrial do RS – Setorial

(Variação jan-fev 2024/23 – %)

Fonte: UEE/FIERGS.

Os Indicadores Industriais do RS mostram que a atividade industrial, após um longo período de queda, esboçou uma forte reação nesse início de ano na margem. Vale lembrar, porém, que a volatilidade vem caracterizando o comportamento recente do setor.

De fato, o cenário econômico não registrou mudanças relevantes. Os juros e a inflação estão em declínio, mas a incerteza persiste em níveis elevados. A questão fiscal, as indefinições acerca da Reforma Tributária, a demanda fraca, e, no âmbito local, os cortes de incentivos fiscais de ICMS, mantêm a confiança do empresário em patamares baixos, resultando num quadro bastante adverso aos investimentos, que é um fator relevante para o desempenho da indústria gaúcha.

Portanto, dificilmente a atividade industrial manterá, nos próximos meses, a alta intensa verificada no primeiro bimestre do ano. A conjuntura é mais compatível com um crescimento lento e gradual, ainda com oscilações mensais, devendo encerrar o ano no campo positivo em razão da baixa base de comparação do ano passado, impactado também pelos eventos climáticos atípicos. O efeito carregamento do primeiro bimestre de 2024 para o restante do ano já é positivo em 1,0%. Ou seja, se mantiver o mesmo patamar (na média) até o fim de 2024, a atividade industrial gaúcha crescerá 1,0% neste ano.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20202021202220232024*
Agropecuária4,20,0-1,115,10,5
Indústria-3,05,01,51,61,3
Serviços-3,74,84,32,41,7
Total-3,34,83,02,91,5
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20202021202220232024*
Em R$7,6109,0129,91510,85611,482
Em US$21,4761,6701,9202,1702,295
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS.

Inflação (% a.a.)

20202021202220232024*
IGP-M 23,117,85,5-3,24,0
INPC5,410,25,93,74,1
IPCA4,510,15,84,64,1
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20202021202220232024*
Extrativa Mineral-3,41,0-3,27,01,7
Transformação-4,64,3-0,4-1,01,1
Indústria Total3-4,53,9-0,70,21,4
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20202021202220232024*
Agropecuária37146643530
Indústria143720441286221
Indústria de Transformação45439214103109
Construção9524519315999
Extrativa e SIUP4436352413
Serviços-3721.9141.5081.163706
Total-1922.7802.0131.484956
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20202021202220232024*
Fim do ano14,211,17,97,47,6
Média do ano13,813,29,38,07,9
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20202021202220232024*
Exportações209,2280,8334,1339,7336,8
Importações158,8219,4272,6240,8241,6
Balança Comercial50,461,461,598,895,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Moeda e Juros

20202021202220232024*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)2,009,2513,7511,759,50
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)5,205,585,224,845,08
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS.

Setor Público (% do PIB)

20202021202220232024*
Resultado Primário-9,20,71,3-2,3-1,2
Juros Nominais-4,1-5,0-5,9-6,6-6,3
Resultado Nominal-13,3-4,3-4,6-8,9-7,5
Dívida Líquida do Setor Público61,455,857,160,564,5
Dívida Bruta do Governo Geral86,978,372,974,979,2
*Projeção UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20202021202220232024*
Agropecuária-29,653,0-45,616,337,1
Indústria-6,18,11,9-4,01,8
Serviços-5,04,43,62,71,5
Total-7,29,3-5,21,74,7
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20202021202220232024*
Em R$470,942581,284592,683640,299697,880
Em US$291,317107,747114,752128,189140,983
*Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20202021202220232024*
Agropecuária27311
Indústria-14729-96
Indústria de Transformação04322-65
Construção-157-21
Extrativa e SIUP30-11-10
Serviços-4290685514
Total-411441004721
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20202021202220232024*
Fim do ano8,68,14,65,25,0
Média do ano9,38,76,15,35,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20202021202220232024*
Exportações14,121,122,622,323,0
Indústria de Transformação10,414,417,716,817,1
Importações7,611,716,013,815,4
Balança Comercial6,59,46,68,57,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20202021202220232024*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)36,245,743,344,746,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Indicadores Industriais (% a.a.)

20202021202220232024*
Faturamento real-3,18,95,9-7,22,1
Compras industriais-5,531,2-0,5-14,87,5
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)-4,55,7-0,7-3,31,0
Massa salarial real-9,05,310,92,80,6
Emprego-1,96,75,9-0,80,2
Horas trabalhadas na produção-5,515,28,4-3,51,5
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS-4,712,94,1-5,62,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20202021202220232024*
Produção Física Industrial4 (% a.a.)-5,59,01,1-4,72,3
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Não houve alterações nas projeções de 2024.
Economia Gaúcha: Não houve alterações nas projeções de 2024.

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