Ano 24 – Número 40 – 03 de Outubro de 2022

Informe Econômico

Os preços descontam tudo: a reação do mercado ao primeiro turno

Ao contrário do que se lia em muitas matérias e do que os gestores de ativos diziam em entrevistas: o mercado tem medo do impacto que uma nova gestão de esquerda pode ter sobre o preço dos negócios no futuro, a oscilação nos preços no mercado pós-primeiro turno traz essa mensagem. Os grandes gestores podem até adotar discurso mais apaziguador, mas os preços não mentem. A análise política não é o nosso foco, porém é impossível ignorar os efeitos que a política exerce sobre a economia, e como os ativos financeiros atuam sobre as expectativas dos agentes econômicos. Nessa segunda-feira (3/10), a reação do mercado ao primeiro turno do pleito presidencial foi positiva e o nosso objetivo é tentar entender os motivos. Contudo, apenas saberemos se estamos vivendo um momento de entrada de otimismo ou apenas de alívio, quando, nos próximos dias, esse movimento se confirmar.

O primeiro motivo para essa reação positiva diz respeito ao que as pesquisas apontavam e o resultado das urnas. Os investidores se prepararam para a vitória do ex-presidente no primeiro turno e adotaram uma postura de aversão ao risco, bem como evitaram, ou abriram posições de venda as principais estatais listadas. O mesmo ocorreu no mercado de juros, onde também houve uma aposta na compra de taxa.

Outro ponto, diz respeito perfil da economia num futuro mandato. Ainda que muitos investidores digam que o ex-presidente tem uma imagem positiva frente aos investidores estrangeiros, a campanha, do ponto de vista da economia, não passou essa segurança. Muito se falou de um “cheque em branco” para o ex-presidente, que alegou ter feito um bom governo do ponto de vista econômico, e que não havia motivos para a preocupação dos agentes de mercado. Na campanha de segundo turno será inevitável que o ex-presidente aponte nomes para a condução da sua área econômica.

Outro ponto que sustenta o otimismo é a composição do Congresso e do Senado, que ganhou representatividade mais para a direita. Essa composição gera uma assimetria de risco favorável, na medida em que caso o atual presidente seja reeleito, haverá um amplo apoio para a realização das reformas estruturais que o Brasil precisa, e isso é um indicativo de maior potencial de crescimento no longo prazo. Por outro lado, a atual configuração do legislativo também gera um incentivo para que o ex-presidente, caso seja eleito, não consiga mudar drasticamente os rumos da política econômica e desfaça reformas e desestatizações, ou seja, o País recebe algum grau de proteção contra o retrocesso imediato.

Em resumo, o mercado pode ter entendido o resultado como um sinal de força do atual presidente e um congresso que torna o custo de um retrocesso para a heterodoxia econômica muito maior. Como um jogo de campeonato do tipo mata-mata, a primeira partida foi jogada e o ex-presidente tem uma vantagem,  mas agora tudo recomeça.

O risco global aumenta e a Europa voltou ao centro das atenções

A Zona do Euro parece estar vivendo a tempestade perfeita: aumento da inflação, aperto nas taxa de juros, desvalorização do Euro em relação ao Dólar, além de uma guerra em sua vizinhança que se estende por um período muito mais longo do que o esperado.

O colapso da matriz energética europeia com a eclosão da guerra, e mais recentemente com a parada de fornecimento dos gasodutos vindos da Rússia, tem aumentado o risco econômico e financeiro na região, empresas que até poucos meses se financiavam com taxas próximas de 1% a.a., agora tem que enfrentar uma análise de crédito mais rigorosa e custos crescentes que já estão na faixa dos 1,5% a 3,5% a.a., a depender do porte da empresa.

O Banco Central Europeu está em uma posição extremamente desconfortável, ao mesmo tempo em que precisa agir contra a maior inflação da história do Euro, o inverno está prestes a iniciar e uma diminuição da atividade econômica pode ter impactos sociais, políticos e econômicos difíceis de mensurar para a região. Diante desse quadro, o aumento de 75 pontos base na taxa de juros na reunião do dia 8 de setembro já produz efeitos adversos sobre a dívida soberana dos países e balanço de bancos da região. O seguro contra risco de default do Banco Credit Suisse chegou ao maior nível desde a crise de 2008. O CDS (Credit Default Swap) precificou uma chance de 21% do banco ter um default nos próximos 5 anos. O mercado coloca o risco no preço mas não acreditamos na dissolução do banco, que está naquela categoria do Too Big to Fail.

Ainda nesse mar de ruídos, as eleições na Itália reavivaram o risco de saída do país do Euro e os juros da dívida atingiram o maior patamar desde a crise de 2012. Enfim, as dores do parto de sair de um estado de taxas juros zero (e negativas) para as taxas positivas tem sido sentida por todo o continente, e isso ocorre num momento de extrema fragilidade geopolítica.

Ainda não temos elementos para acreditar num evento extremo de default de instituição financeira ou ruptura de algum país com a União Europeia ou Zona do Euro. O efeito demonstrativo do que ocorreu com o Brexit serve para afastar qualquer político dessa empreitada. A saída do Reino Unido foi demorada, não trouxe os benefícios econômicos e sociais esperados, além de ter custado a cadeira de três primeiros ministros.

Por fim, a preocupação com o cenário externo não se restringe à Europa. Na China e nos EUA os riscos também tem se elevado, e o cenário externo, com riscos de recessão tem preocupado mais do que o brasileiro.

A China, a política monetária dos EUA e os custos de produção de Aço

As flutuações do preço do aço dependem diretamente dos custos de produção: minérios e energia, bem como das expectativas de crescimento da economia mundial. Atualmente, estamos vendo que essa equação se tornou mais complexa, por conta do cenário econômico de desaceleração com custos de energia elevados.

Os fortes movimentos nos preço do minério de ferro decorrem das características da estrutura de mercado dessa commodity. Tendo em vista que há uma elevada restrição para o aumento na oferta mundial do produto, tendo como principais fatores para essa rigidez o elevado custo de expansão da capacidade de extração e a estrutura oligopolizada do mercado. Desse modo, variações na estrutura da demanda e as expectativas de crescimento da economia tendem a gerar mudanças significativas na cotação do produto final.

Por sua vez, o quadro energético global já tem sido amplamente abordado. A cotação do gás natural tem apresentado aumentos substanciais na Europa, tendo como resultado para o setor o desligamento de altos-fornos em diferentes países, tais como a Alemanha, Polônia, República Tcheca, Espanha e Itália. Assim, a queda abrupta na produção de aço é outro ingrediente a ser considerado nessa equação.

Do ponto de vista da demanda, a construção civil chinesa, maior demandante de aço no mundo há mais de uma década, apresentou na primeira metade do ano de 2022 queda de 87% na quantidade de lançamentos de novos empreendimentos.

Por sua vez, no Ocidente, a política monetária do EUA começou a se mostrar mais dura. O aumento das taxas de juros afeta diretamente as expectativas quanto desempenho do mercado imobiliário americano, outra peça-chave para a entender esse mercado.

Nos próximos meses espera-se que os EUA continuem a aumentar as taxas de juros para conter a inflação e que o mercado chinês de construção civil não apresente recuperação ligeira a ponto de pressionar as cotações de minério de ferro. Ao mesmo tempo, não se espera que a crise energética na Europa será resolvida de maneira imediata.

Assim, no que tange ao mercado do aço, temos duas forças contrárias, uma que indica a diminuição no consumo mundial e outra que implica no aumento dos custos e encarece a oferta. No curto prazo, imaginamos que o resultante dessas forças continue pressionando as cotações de aço para baixo. Entrando ainda mais fundo no campo das especulações, imaginamos que esse movimento possa reverter no segundo trimestre do próximo ano, que é para quando projetamos uma melhora na liquidez dos mercados globais.

Economia global mais fraca favorece o preço do aço no mercado interno

O minério de ferro é a principal matéria-prima para a produção de diferentes tipos de aço. Em agosto de 2022 a sua cotação atingiu US$109,0 por tonelada seca, um aumento de 18,2% ante o período pré-pandemia (2019), porém uma expressiva queda de 53,0% frente ao ano passado. No mercado interno, os preços do aço acompanharam na direção, mas numa magnitude menor. Nos últimos 12 meses, foi registrada uma queda de 22,1% em média, sendo que Laminados à quente, Laminados à frio e Chapas grossas apresentaram quedas de 20,6%, 26,3% e 19,6%, respectivamente.

Essa contração deve-se, principalmente, aos menores custos de insumos. O Brasil não sofre as mesmas pressões que sofrem os países da Europa quanto ao preço do gás natural, ainda que o seu preço dependa de cotação internacional. Desse modo, é possível que economia brasileira tenha aumentado a sua competitividade no setor.  Por exemplo, em 12 meses até agosto, as exportações de produtos metalúrgicos crescem a uma taxa de 69%.

Outra face desse resultado é que talvez o setor já esteja sofrendo com a desaceleração das atividades de alguns setores no mercado interno e tem buscado escoar a produção para o exterior. Ainda que o setor de construção civil, historicamente um dos principais demandantes de aço, tem apresentado bons resultados com aumentos nos lançamentos de novos empreendimentos.

Se a desaceleração da economia internacional se aprofundar, as quedas devem permanecer, e o setor de metalurgia, destaque nos últimos anos e muito ligado ao ciclo econômico, deve mostrar contração.

Preços de diferentes ligas de Aço
(Em mil R$/ton)

Laminados à quente

Preço R$/tonVar. %Var. R$
set/21set/2222/2122/21
Laminado à quente de 3,75 à 12,5mm x SAE 1008/1012/A368,586,80-20,8%-1,78
Laminado à quente 2,00mm x SAE 1008/1012/ASTM A368,947,14-20,2%-1,81
Laminado à quente 3,00mm x SAE 1008/1012/ASTM A368,776,93-20,9%-1,84
LQ decapado e oleado 4,75mm x SAE 1008/1012/ASTM A369,017,21-20,0%-1,80
Laminado à quente de 3,75 à 12,5mm x Civil 3509,207,27-20,9%-1,92
Laminado à quente de 3,75 à 12,5mm x COR 4209,047,14-21,0%-1,90
Laminado à quente de 3,75 à 12,5mm x COR 5009,797,82-20,2%-1,97
Laminado à quente de 3,75 à 12,5mm x ASTM A5729,207,27-20,9%-1,92
Laminado à quente de 3,75 à 12,5mm x SAE 1045/10509,867,82-20,7%-2,04
Xadrez de 4,75 à 8,00mm x QC10,728,50-20,7%-2,22
Média9,317,39-20,6%-1,92
Fonte: Infomet.

Laminados à frio

Preço em R$/tonVar. %Var. R$
set/21set/2222/2122/21
Laminado à frio de 1,20 à 1,50mm x SAE 1006/100810,858,03-25,9%-2,81
Laminado à frio 0,45mm x SAE 1006/100812,018,84-26,4%-3,18
Laminado à frio 0,50mm x SAE 1006/100811,658,60-26,2%-3,05
Laminado à frio 0,60mm x SAE 1006/100811,528,52-26,1%-3,01
Laminado à frio 0,75mm x SAE 1006/100811,498,44-26,6%-3,06
Laminado à frio 0,90mm x SAE 1006/100811,348,36-26,3%-2,99
Média11,488,46-26,3%-3,02
Fonte: Infomet.

Chapas grossas

Preço em R$/tonVar. %Var. R$
set/21set/2222/2122/21
Chapa grossa de 9,50 à 37,50mm x ASTM A369,107,31-19,6%-1,79
Chapa grossa 6,30mm x ASTM A369,917,97-19,6%-1,94
Chapa grossa 8,00mm x ASTM A369,597,68-19,9%-1,91
Chapa grossa de 44,5 à 63,0mm x ASTM A369,607,75-19,3%-1,85
Chapa grossa de 75,0 à 100,0mm x ASTM A369,907,97-19,5%-1,94
Média9,627,74-19,6%-1,89
Fonte: Infomet.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20182019202020212022*
Agropecuária1,30,43,8-0,21,3
Indústria0,7-0,7-3,44,51,0
Serviços2,11,5-4,34,73,6
TOTAL1,81,2-3,94,62,8
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20182019202020212022*
Em R$7,0047,3897,4688,6799,536
Em US$21,9161,8731,4481,6091,847
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS

Inflação (% a.a.)

20182019202020212022*
IGP-M 7,67,323,117,810,4
INPC3,44,55,410,26,3
IPCA3,74,34,510,16,0
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

20182019202020212022*
Extrativa Mineral0,0-9,7-3,41,11,2
Transformação1,10,2-4,64,31,9
Indústria Total31,0-1,1-4,53,91,5
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20182019202020212022
Agropecuária2,213,036,5146,161,0
Indústria23,997,2148,7721,2478,9
Indústria de Transformação1,213,248,0439,7256,3
Construção11,470,797,3245,0194,6
Extrativa e SIUP411,213,33,536,528,0
Serviços520,2533,8-378,01.904,41.527,2
TOTAL546,4644,1-192,72.771,62.067,1
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

20182019202020212022*
Fim do ano11,711,114,211,18,0
Média do ano12,412,013,813,29,3
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

20182019202020212022*
Exportações231,9221,1209,2280,4295,9
Importações185,3185,9158,8219,4226,4
Balança Comercial46,635,250,461,069,5
*Projeção UEE/FIERGS

Moeda e Juros

20182019202020212022*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)6,504,502,009,2513,75
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)517,14,028,97,4-7,7
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)3,854,035,205,585,15
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS

Setor Público (% do PIB)

20182019202020212022*
Resultado Primário-1,6-0,8-9,40,81,0
Juros Nominais-5,4-5,0-4,2-5,2-7,0
Resultado Nominal-7,0-5,8-13,6-4,4-6,0
Dívida Líquida do Setor Público52,854,762,557,359,1
Dívida Bruta do Governo Geral75,374,488,680,378,2
*Projeção UEE/FIERGS

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20182019202020212022*
Agropecuária-7,13,0-29,567,5-40,9
Indústria2,80,2-5,69,71,4
Serviços2,60,8-4,64,12,2
TOTAL2,01,1-6,810,4-2,2
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20182019202020212022*
Em R$457,294482,464480,173582,968598,164
Em US$2125,108122,28293,107108,059116,147
*Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20182019202020212022*
Agropecuária-1,4-0,10,53,71,9
Indústria1,5-5,5-0,247,534,7
Indústria de Transformação0,9-1,50,142,927,7
Construção0,9-4,0-0,35,37,5
Extrativa e SIUP7-0,20,00,0-0,6-0,5
Serviços20,426,0-42,989,767,2
TOTAL20,520,4-42,6141,0103,8
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

20182019202020212022*
Fim do ano7,57,38,68,15,7
Média do ano8,28,19,38,76,3
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

20182019202020212022*
Exportações21,017,314,121,122,4
Industriais15,112,510,514,115,1
Importações11,310,37,611,712,8
Balança Comercial9,86,96,59,49,6
*Projeção UEE/FIERGS

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20182019202020212022*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)34,835,736,245,749,5
*Projeção UEE/FIERGS

Indicadores Industriais (% a.a.)

20182019202020212022*
Faturamento real2,73,0-3,18,71,6
Compras industriais10,0-2,7-5,531,04,2
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)1,60,7-4,65,70,3
Massa salarial real-1,3-0,8-9,34,60,4
Emprego0,90,0-1,96,71,4
Horas trabalhadas na produção0,0-1,0-5,715,13,3
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS2,60,1-4,812,81,7
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

20182019202020212022*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)5,92,5-5,58,81,0
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS

Informações sobre as atualizações das projeções:

Não houve alterações.

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