Ano 25 – Número 41 – 16 de outubro de 2023

Informe Econômico

Em 2022, o Setor Público Consolidado apresentou superávit estrutural de 0,71% do PIB

As contas públicas são afetadas pelo ciclo econômico, bem como por eventos não recorrentes que impactam diretamente o nível financeiro, mas que não representam uma mudança na posição fiscal do país. Por exemplo, no ano passado, o preço do barril de petróleo, por conta da Guerra no Leste Europeu, atingiu suas máximas em muitos anos. A consequência foi a elevação das receitas do Governo Central: os Dividendos da Petrobras adicionaram aos cofres públicos R$ 58,8 bilhões em 2022, maior volume da série histórica iniciada em 1997. Veja que essas oscilações são temporárias, embora ajudaram o Governo Central a chegar ao primeiro superávit primário (0,56% do PIB) desde 2013.

Pela necessidade de se calcular o resultado primário livre de eventos não recorrentes e de efeitos cíclicos da atividade econômica, a Secretaria de Política Econômica (SPE) propôs uma metodologia de mensuração do Resultado Fiscal Estrutural (RFE). Esse indicador é divulgado anualmente e procura decompor o resultado primário do Setor Público Consolidado em três componentes: estrutural, cíclico e não recorrente.

Em 2022, o Resultado Primário do Setor Público Consolidado foi de 1,28% do PIB (R$ 126,0 bilhões). Desse valor, 0,57 p.p. foram por razões econômicas temporárias e/ou oscilatórias: -0,18 p.p. devido ao componente cíclico e 0,75 p.p. de responsabilidade de eventos não recorrentes. Portanto, excluindo esses efeitos, o Setor Público Consolidado deveria ter sido superavitário em 0,71% do PIB. Esse é o segundo ano consecutivo em que o Setor Público apresenta superávit estrutural. Contudo, desde 2017 é possível observar uma contração, ano após ano, do déficit (-1,35% em 2017, -0,91% em 2018, -0,75% em 2019 e -0,25% em 2020). No entanto, mesmo com o resultado positivo, se comparado a 2021, quando o superávit estrutural foi de 2,1% do PIB, houve deterioração do quadro fiscal.

Resultado Primário do Setor Público Consolidado

Estrutural vs. Convencional

(Em % do PIB)

Fonte: Secretaria de política econômica/ Ministério da Fazenda. Elaboração:UEE/FIERGS.

O Resultado Primário Estrutural também é decomposto conforme a esfera de Governo que constitui o Setor Público Consolidado: Governo Central, Regional (estados e municípios) e Empresas Estatais. Em 2022, o número positivo do Setor Público decorreu, sobremaneira, aos Entes Subnacionais que obtiveram resultado estrutural superavitário em 0,7% do PIB. O Governo Central, por sua vez, foi estruturalmente deficitário em 0,1% do PIB, enquanto seu resultado sem a exclusão dos eventos cíclicos e transitórios foi superavitário em 0,6% do PIB. Portanto, o primeiro superávit após nove anos de déficit fiscal nas contas do Governo Central foi resultado de eventos transitórios, devido à, por exemplo, elevação dos preços do barril de petróleo e aos altos níveis de inflação.

Resultado primário estrutural por esfera de governo

(Em % do PIB)

Setor PúblicoGoverno CentralEstados e Municípios
 Resultado primárioResultado  estruturalResultado primárioResultado  estruturalResultado primárioResultado  estrutural
20102,620,792,030,340,530,39
20112,941,522,130,960,750,50
20122,180,691,790,560,450,18
20131,71-0,151,41-0,170,310,03
2014-0,56-1,60-0,35-1,23-0,13-0,29
2015-1,86-0,29-1,95-0,740,160,52
2016-2,48-1,42-2,54-2,050,070,65
2017-1,68-1,35-1,80-2,040,110,69
2018-1,55-0,91-1,66-1,400,050,43
2019-0,84-0,75-1,20-1,340,210,43
2020-9,24-0,25-9,79-0,550,510,26
20210,732,05-0,400,761,101,26
20221,280,710,56-0,050,660,70
Fonte: Secretaria de política econômica/ Ministério da Fazenda. Elaboração: UEE/FIERGS.

Para a próxima divulgação no ano que vem, é esperado que o resultado estrutural se torne ainda menor, adentrando em território deficitário. Pela ótica das receitas, em 2023, observamos a queda da arrecadação, motivado pela queda dos preços das commodities, da retração da atividade na Indústria de Transformação e decisões de redução de alíquotas de impostos de competência regional e federal. Essas decisões são permanentes e pouco tem a ver com o ciclo econômico ou medidas extraordinárias. Do lado das despesas, o ano foi intensivo em expansão fiscal, com gastos permanentes sendo deliberados ao longo dos meses, como é o caso dos reajustes dos servidores e expansão dos benefícios sociais.

IPCA avança 0,26% em setembro, mas fica abaixo do consenso de mercado

Na passagem de agosto para setembro, o IPCA avançou 0,26%, abaixo do consenso de mercado (0,35%), mas acima do observado no mês anterior (0,23% em agosto ante julho). No acumulado em 12 meses, a inflação alcançou 5,2%, acelerando com relação ao mês de agosto devido à saída da deflação do mês de set/22 (-0,29%). No ano, o IPCA já acumula alta de 3,50%, acima do centro da meta de 3,25%.

Com relação às aberturas da inflação acompanhadas pelo Banco Central, houve deflação em Alimentos (-1,02%) – pelo quarto mês consecutivo, acumulando queda no ano de 2,8% – e de Bens industriais (-0,19%). Com relação a esse último, as retrações nos preços para o mês de setembro não são comuns, aparecendo pela última vez em 2016. O número foi resultado da queda dos itens de Higiene pessoal (-0,66%), Automóvel usado (-0,58%), Aparelho telefônico (-0,64%) e Refrigerador (-1,39%). Por outro lado, houve aceleração dos preços de Serviços, elevando em 0,50% em setembro ante 0,08% do mês anterior. O aumento é resultado das oscilações de preços das Passagens aéreas (+13,47%) e Serviços pessoais (+0,47%).

Aberturas do IPCA

(Em % | Acumulado em 12 meses)

Fonte: Banco Central. Elaboração: UEE/FIERGS.

Com relação aos grupos, 12 dos 19 que compõem o IPCA apresentaram avanço no mês. Os maiores impactos positivos ficaram por conta de Transportes (+1,4%) – resultado do aumento dos preços dos combustíveis e veículos próprios (devido ao programa de redução dos preços dos carros populares) – Combustíveis e energia (+0,79%) e Serviços de saúde (+0,63%). Por outro lado, os impactos negativos vieram de Alimentação no domicílio (-1,02%) – devido à queda de itens como Carnes (-2,10%), Leite e derivados (-2,17%) e de Tubérculos, raízes e legumes (-3,78%) – e de Cuidados pessoais (-0,66%).

O destaque na leitura do mês foi a queda do índice de difusão, responsável por mostrar a proporção de itens que tiveram elevação de preços no período: de 53,05% em agosto para 42,71% em setembro – o menor número desde julho de 2017. Quanto aos núcleos de inflação, houve continuidade do processo de descompressão, com queda no acumulado em 12 meses para 5,1% em setembro, ante 5,4% em agosto. Foi o décimo terceiro mês com quedas consecutivas, no entanto, ainda encontra-se acima da banda superior da meta de inflação para 2023 (4,75%).

Sobre o cenário inflacionário, há forças agindo em ambas direções. Do lado baixista, com o patamar dos reservatórios em níveis elevados, a tendência é que seja mantido a bandeira verde para a energia elétrica. Além disso, os preços dos Bens industriais também devem arrefecer, em especial pela normalização das cadeias de produção. Pelo lado altista, a escala das tensões no Oriente Médio tem pressionado os preços do petróleo, o que poderá reverberar em aumento de preços de combustíveis. Outra fonte de incerteza é quanto à possibilidade de um El Niño mais intenso, que também pode vir a impactar nos preços dos alimentos. Em nosso cenário, dado as últimas leituras, acreditamos que o IPCA encerre 2023 em 4,7% e chegue a 4,1% no ano de 2024.

Atividade industrial gaúcha voltou a crescer em agosto, mas registra forte queda no ano

Após dois meses de queda, o Índice de Desempenho Industrial gaúcho (IDI/RS) cresceu 3,0% em agosto na comparação ajustada sazonalmente com julho. Nos últimos doze meses, essa foi apenas a terceira alta na margem, registrando ainda oito quedas e uma estabilidade. Com isso, o IDI/RS estava, em agosto de 2023, 9,9% abaixo de agosto de 2022, mês que antecedeu o ciclo negativo em curso. Em relação ao nível pré-pandemia, a comparação ainda é positiva, de 4,5%, mas eram 16,0% em agosto do ano passado. 

Índice de desempenho industrial (IDI-RS)

(Índice de base fixa mensal – 2006=100)

Fonte: UEE/FIERGS.

O IDI/RS mede o nível de atividade da indústria gaúcha com base em seis variáveis, sendo que apenas o emprego registrou queda em agosto, de 0,2% relação a julho com ajuste sazonal. A última alta do emprego foi em abril. As demais cresceram, com destaque para o faturamento real (+4,5%) e as compras industriais (+5,4%). A indústria gaúcha também aumentou as horas trabalhadas na produção, em 1,1%, a utilização da capacidade instalada (UCI), em 1,0 p.p. (de 77,3% para 78,3%), e a massa salarial real (+0,2%).

Considerando as variações interanuais, o quadro segue predominantemente negativo tanto na comparação com o agosto quanto no acumulado do ano. Em relação ao mesmo mês de 2022, a atividade industrial gaúcha recuou pela oitava vez seguida, de -9,5% em agosto de 2023, que, mesmo contando com a mesma quantidade de dias úteis, foi a taxa mais baixa do ano.  Assim, a queda no ano acelerou para -4,4% em agosto (-3,6% até julho) na comparação com os oito primeiros meses de 2022.

Na abertura por componentes do IDI/RS, à exceção da massa salarial real (+5,2%) e do emprego (+0,1%), que, apesar das desacelerações, ainda se mantêm no campo positivo, os demais integrantes contribuíram para o resultado negativo, na comparação entre os primeiros oito meses de 2023 e o período equivalente de 2022: compras industriais (-13,0%), faturamento real (-5,3%), UCI (- 3,2 p.p.) e as horas trabalhadas na produção (-2,2%).

Indicadores Industriais do Rio Grande do Sul – Agosto de 2023

Variação %
Mês anterior*Mês ano anteriorAc. ano
Índice de desempenho industrial3,0-9,5-4,4
Faturamento real4,5-10,5-5,3
Horas Trabalhadas na produção1,1-7,4-2,2
Emprego-0,2-1,90,1
Massa salarial real0,20,65,2
UCI (em p.p.)1,0-4,0-3,2
Compras Industriais5,4-23,8-13,0
Fonte: UEE/FIERGS. *Série dessazonalizada.

As taxas negativas também são maioria na abertura por setores: 10 dos 16 pesquisados na comparação entre janeiro e agosto de 2023 e 2022. As quedas de Veículos automotores (-6,3%), Máquinas e equipamentos (-5,1%) e Produtos de metal (-8,2%) forneceram as principais influências negativas. As altas mais relevantes vieram de Móveis (+3,9%), Tabaco (+4,2%) e Equipamentos de informática e eletrônicos (+4,0%).

Índice de desempenho industrial do RS – Setorial

(Variação jan-ago 2023/22 – %)

Fonte: UEE/FIERGS.

Os resultados positivos dos Indicadores Industriais do RS na margem em agosto (em relação a julho) sugerem uma acomodação, comportamento esperado após duas quedas seguidas em uma trajetória volátil. As comparações mais longas, que anulam as oscilações mensais, mostram, contudo, que o setor continuou sua fase recessiva, com perdas ainda mais intensas na comparação com 2022. A principal causa é a demanda interna insuficiente, sobretudo, à queda dos investimentos, resultado dos elevados níveis de incerteza econômica, da política monetária ainda contracionista, apesar do ciclo de cortes iniciado em agosto, e dos baixos patamares de confiança.

Nesse cenário, a atividade industrial gaúcha ainda não mostrou sinais de que possa reverter a tendência negativa e recuperar, ou até mesmo desacelerar, as perdas, perspectiva que ficou ainda mais improvável com eventos climáticos críticos que atingem o estado e devem aparecer nas estatísticas nos próximos meses.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20192020202120222023*
Agropecuária0,44,20,3-1,713,2
Indústria-0,7-3,04,81,61,3
Serviços1,5-3,75,24,22,4
TOTAL1,2-3,35,02,93,0
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$7,3897,6108,8999,91510,693
Em US$21,8731,4761,6491,9202,137
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS.

Inflação (% a.a.)

20192020202120222023*
IGP-M 7,323,117,85,5-3,7
INPC4,55,410,25,93,9
IPCA4,34,510,15,84,7
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Extrativa Mineral-9,7-3,41,0-3,24,6
Transformação0,2-4,64,3-0,40,0
Indústria Total3-1,1-4,53,9-0,70,5
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária13371466435
Indústria97149719442299
Indústria de Transformação1348439215147
Construção7197245193134
Extrativa e SIUP4133363519
Serviços534-3781.9121.515941
TOTAL644-1932.7782.0211.276
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano11,114,211,17,97,3
Média do ano12,013,89,37,97,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações221,1209,2280,8334,5304,0
Importações185,9158,8219,4272,7239,5
Balança Comercial35,250,461,461,864,5
*Projeção UEE/FIERGS.

Moeda e Juros

20192020202120222023*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)4,502,009,2513,7511,75
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)54,028,97,4-6,5-3,3
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)4,035,205,585,225,05
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS.

Setor Público (% do PIB)

20192020202120222023*
Resultado Primário-0,8-9,20,71,3-1,2
Juros Nominais-5,0-4,1-5,0-5,9-6,0
Resultado Nominal-5,8-13,3-4,3-4,6-7,2
Dívida Líquida do Setor Público54,761,455,857,161,0
Dívida Bruta do Governo Geral74,486,978,372,374,3
*Projeção UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20192020202120222023*
Agropecuária3,0-29,560,2-45,619,8
Indústria0,2-6,111,22,2-2,0
Serviços0,8-5,04,23,72,0
TOTAL1,1-7,210,6-5,12,5
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$482,464470,942584,602594,055638,133
Em US$2122,28291,317108,362115,018127,599
*Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária01732
Indústria-60472912
Indústria de Transformação-20432210
Construção-40572
Extrativa e SIUP700-100
Serviços26-43906840
TOTAL20-4214410054
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano7,38,68,14,64,6
Média do ano8,19,38,76,15,0
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações17,314,121,122,619,7
Industriais12,510,414,117,216,1
Importações10,37,611,716,014,6
Balança Comercial6,96,59,46,65,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20192020202120222023*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)35,736,245,743,344,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Indicadores Industriais (% a.a.)

20192020202120222023*
Faturamento real3,0-3,18,95,9-3,7
Compras industriais-2,7-5,531,2-0,5-8,9
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)0,7-4,55,7-0,7-3,0
Massa salarial real-0,8-9,05,310,93,9
Emprego0,0-1,96,75,9-0,2
Horas trabalhadas na produção-0,9-5,515,28,4-1,0
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS0,1-4,712,94,1-3,3
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)2,5-5,59,01,1-3,3
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Foram modificadas as projeções para o PIB, medidas de Inflação, Taxa de câmbio e Selic.
Economia Gaúcha: Não houve alterações.
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