Ano 25 – Número 39 – 2 de outubro de 2023

Informe Econômico

Indústria gaúcha ajusta estoques após quase dois anos de acúmulo

A Sondagem Industrial do RS mostrou um cenário relativamente positivo para a indústria em agosto de 2023 se comparado aos meses anteriores. A produção voltou a crescer e os estoques retornaram aos níveis desejados após quase dois anos de excesso, enquanto o emprego continuou em queda. As expectativas dos empresários melhoraram, mas o otimismo segue contido, com projeções de aumento da demanda e estabilidade do emprego. A intenção de investir, da mesma forma, aumentou, mas segue moderada.

Após quatro meses de quedas seguidas, a produção industrial gaúcha cresceu em agosto em relação a julho. O índice atingiu 52,4 pontos, acima da marca de 50 que distingue o cenário de expansão do de retração. É apenas o segundo avanço da produção em um ano e parte disso pode ser atribuída a dois dias úteis a mais.

Índice de evolução da produção

(Em pontos).

Fonte: Sondagem Industrial/FIERGS.
*Obs.: Acima (abaixo) de 50 pontos, o índice mostra alta (queda) em relação ao mês anterior.

Já o emprego permaneceu em queda. O índice registrou 47,8 pontos em agosto ante 44,8 pontos em julho, mostrando que o emprego no setor caiu em agosto com menor intensidade do que no mês anterior, visto que ambos os meses ficaram abaixo de 50. A tendência de queda do emprego é longa, pois o índice não supera essa marca desde setembro de 2022.

Em agosto, a indústria gaúcha utilizou 71,0% da capacidade instalada (UCI), 1,0 p.p. acima de julho. Já o índice de UCI em relação a usual passou de 40,7 para 42,9 pontos, revelando que os empresários consideraram aquele patamar de UCI abaixo do normal, ainda que mais próximo se comparado a julho. A UCI está no nível usual para o mês quando o índice atinge 50 pontos.

Índice de UCI efetiva em relação ao nível usual

(Em pontos).

Fonte: Sondagem Industrial/FIERGS.
*Obs: Acima (abaixo) de 50 pontos, o índice mostra UCI acima (abaixo) do nível usual para o mês.

Além da alta da produção, a outra boa notícia da Sondagem de agosto é a regularização dos estoques. O índice de evolução mensal nos 50,0 pontos mostrou estabilidade dos níveis em relação a julho, enquanto o índice em relação ao planejado pelas empresas nos 49,7 pontos ficou muito próximo de 50, indicando estoques ajustados após 23 meses seguidos de acúmulo. Na comparação com outubro de 2022, que foi momento crítico do excesso de estoques desse período, o índice mostrou queda de 5,5 pontos.

Índice de estoques em relação ao planejado

(Em pontos).

Fonte: Sondagem Industrial/FIERGS.
*Obs.: O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam estoques acima (abaixo) do planejado do para o mês.

O cenário mais positivo para indústria em agosto animou os empresários, que mostraram maior otimismo com relação aos próximos seis meses. Todos os índices de expectativas em setembro cresceram relativamente a agosto, mas seguiram em patamares modestos (acima, mas muito próximos dos 50 pontos e abaixo de suas médias históricas). De fato, os empresários projetam crescimento da demanda (53,3 pontos em setembro ante 51,4 em agosto), inclusive das exportações (51,8 ante 47,1), e das compras de matérias primas (51,4 ante 49,2). O crescimento da demanda, contudo, não deve ser acompanhado de aumento do emprego, que, nas perspectivas dos empresários, deve ficar estável (49,9 pontos).

Índice de expectativas para a demanda nos próximos seis meses

(Em pontos*)

Fonte: Sondagem Industrial/FIERGS.
*Obs.: O índice varia de zero a 100 pontos, acima de 50 indica expetativa de crescimento.

O maior otimismo impactou positivamente a disposição de investir. O Índice de intenção de investir cresceu de 51,8 de agosto para 52,6 pontos em setembro, mas continua em patamar moderado, pouco acima da média de 51,3 pontos e bem distante dos 62,1 pontos de setembro de 2022, pico mais próximo. Em setembro, 55,6% das empresas mostravam disposição de investir nos seis meses seguintes.

Índice de intenção de investir nos próximos seis meses

(Em pontos*)

Fonte: Sondagem Industrial/FIERGS.
*Obs.: O índice varia de zero (nenhuma empresa tem intenção) a 100 (todas têm intenção), quanto maior o índice, maior a intenção para investir.

PIB do RS cresceu 2,3% no segundo trimestre

Na semana passada, dia 27 de setembro, o Departamento de Economia e Estatística do RS DEE/SPGG divulgou os dados do PIB do do Rio Grande do Sul, referentes ao 2°T/2023. Nesse informe apresentam-se os resultados principais que impactaram a economia gaúcha assim como perspectivas para os próximos trimestres.

A economia do Rio Grande do Sul registrou crescimento de 2,3% no segundo trimestre de 2023 em relação aos primeiros três meses do ano, na série com ajuste sazonal, após queda de 0,2% no trimestre anterior (dado revisado de -0,7%). No Brasil, o PIB apresentou alta de 0,9% na mesma base de comparação. A expansão do PIB gaúcho no período contou com aumentos nos três grandes setores da economia: Agropecuária (+4,1%), Indústria (+3,3%) e Serviços (+0,4%), sendo que os dois primeiros contavam com uma baixa base de comparação por conta das quedas de 21,5% e de 4,3% no primeiro trimestre, respectivamente. Apenas o setor de Serviços segue com crescimento consistente, completando o 12º trimestre consecutivo de alta na margem (no primeiro trimestre o avanço foi de 0,3%).

PIB – Rio Grande do Sul

(Var. % real)

2ºtrim23/ 1ºtrim23*2ºtrim23/ 2ºtrim22Acum. em 2023Acum. em 4 tri.
PIB2,37,54,51,5
Agropecuária4,144,029,814,0
Indústria3,3-5,0-5,9-1,8
Extrativa mineral-0,6-1,8-1,10,2
Transformação5,2-4,8-7,4-3,3
Energia e saneamento (SIUP)**0,9-12,6-6,00,3
Construção-0,1-1,6-0,42,3
Serviços0,42,63,03,5
Fonte: DEE/SPGG-RS. *Com ajuste sazonal. **Serviços Industriais de Utilidade Pública (eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana).

Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, o PIB do RS registrou aumento de 7,5%, desempenho superior ao registrado no Brasil (+3,4%). Os destaques setoriais foram:

  • A Agropecuária registrou alta de 44,0% na comparação interanual. Como a estiagem de 2023 foi menos intensa do que a de 2022, a produção agrícola no segundo trimestre do ano apresentou crescimento, sendo soja (+36,0%) e milho (+31,8%) os destaques positivos e o arroz (-8,0%) apresentando queda.
  • Na Indústria (-5,0%), os quatro subsetores apresentaram retração: Energia e Saneamento (-12,6%), Transformação (-4,8%), Extrativa Mineral (-1,8%) e Construção (-1,6%). Especificamente na Indústria de Transformação, 8 das 14 atividades apresentaram resultado negativo, entre elas destacaram-se Produtos de metal (-20,3%), Produtos derivados de petróleo e biocombustíveis (-10,3%) e Metalurgia (-9,5%). Quanto às altas, destacaram-se Bebidas (+12,3%), Tabaco (+7,1%), Químicos (+5,1%) e Minerais não-metálicos (+4,6%).
  • Nos Serviços (+2,6%), os destaques positivos ficaram por conta de Intermediação financeira e seguros (+9,0%) e Serviços de informação (+5,6%). Único destaque negativo, o Comércio apresentou retração de 1,3%. Vale destacar que, embora tenha ocorrido bons resultados nas atividades de Comércio de veículos (+25,3%) e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (+8,2%), esses aumentos não foram suficientes para conter os efeitos da retração. Quanto aos destaques negativos dentro do Comércio, as vendas de Outros artigos de uso pessoal (-15,2%) e de Tecidos, vestuários e calçados (-13,1%) foram os principais segmentos a puxar o resultado para baixo.

Análise e perspectivas

Nos últimos quatro anos, em três deles o Rio Grande do Sul foi impacto pela falta de chuvas, o que afetou negativamente a produção agrícola. A intensidade da estiagem em 2023 foi menor em relação a do ano anterior, o que explica o efeito de base verificado na Agropecuária, que se expandiu. O evento contribuiu para a expansão do PIB gaúcho nas comparações com 2022, juntamente com o bom desempenho no setor de Serviços, que contou com estímulos governamentais no ramo de comércio de veículos e segue sentindo os efeitos do impulso fiscal federal e de um mercado de trabalho ainda resiliente. A Indústria, apesar do crescimento na margem, continua com o baixo dinamismo verificado desde meados do ano passado. A menor demanda por investimentos na economia brasileira, impactada por juros altos, incertezas e baixa confiança, pega em cheio a Indústria de Transformação gaúcha que tem como tradição a produção de bens de capital pelo setor metalmecânico.

Para o restante do ano, além dos fatores conjunturais que impactam negativamente o setor produtivo – juros ainda elevados, incerteza fiscal, baixa confiança e cenário externo turbulento –, as condições climáticas severas trouxeram e ainda trazem prejuízos à atividade econômica de diversos municípios do estado e devem aparecer no resultado do terceiro trimestre. A região do Vale do Taquari, muito afetada pelas enchentes, tem peso relevante na produção de alimentos do RS (carne de suínos e de frangos, laticínios, ração animal), bem como importantes indústrias dos segmentos de químicos, couros e calçados. Sem contar os entraves logísticos em decorrência de pontes e vias de acesso obstruídas que aumentam os custos logísticos para escoamento da produção e recebimento de insumos.

Mesmo assim, é muito provável que o PIB do RS feche o ano de 2023 com crescimento, puxado pela Agropecuária e os Serviços e com contribuição negativa da Indústria. Com os novos dados, em breve atualizaremos nossa projeção que atualmente é de crescimento de 2,5% para a economia gaúcha no ano.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20192020202120222023*
Agropecuária0,44,20,3-1,711,0
Indústria-0,7-3,04,81,60,8
Serviços1,5-3,75,24,21,4
TOTAL1,2-3,35,02,92,0
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$7,3897,6108,8999,91510,599
Em US$21,8731,4761,6491,9202,119
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS.

Inflação (% a.a.)

20192020202120222023*
IGP-M 7,323,117,85,5-2,7
INPC4,55,410,25,94,6
IPCA4,34,510,15,84,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Extrativa Mineral-9,7-3,41,0-3,24,6
Transformação0,2-4,64,3-0,40,0
Indústria Total3-1,1-4,53,9-0,70,5
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária13371466435
Indústria97149719442299
Indústria de Transformação1348439215147
Construção7197245193134
Extrativa e SIUP4133363519
Serviços534-3781.9121.515941
TOTAL644-1932.7782.0211.276
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano11,114,211,17,97,3
Média do ano12,013,89,37,97,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações221,1209,2280,8334,5304,0
Importações185,9158,8219,4272,7239,5
Balança Comercial35,250,461,461,864,5
*Projeção UEE/FIERGS.

Moeda e Juros

20192020202120222023*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)4,502,009,2513,7512,00
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)54,028,97,4-6,5-5,2
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)4,035,205,585,224,95
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS.

Setor Público (% do PIB)

20192020202120222023*
Resultado Primário-0,8-9,20,71,3-1,2
Juros Nominais-5,0-4,1-5,0-5,9-6,0
Resultado Nominal-5,8-13,3-4,3-4,6-7,2
Dívida Líquida do Setor Público54,761,455,857,161,0
Dívida Bruta do Governo Geral74,486,978,372,374,3
*Projeção UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20192020202120222023*
Agropecuária3,0-29,560,2-45,619,8
Indústria0,2-6,111,22,2-2,0
Serviços0,8-5,04,23,72,0
TOTAL1,1-7,210,6-5,12,5
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20192020202120222023*
Em R$482,464470,942584,602594,055638,133
Em US$2122,28291,317108,362115,018127,599
*Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20192020202120222023*
Agropecuária01732
Indústria-60472912
Indústria de Transformação-20432210
Construção-40572
Extrativa e SIUP700-100
Serviços26-43906840
TOTAL20-4214410054
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20192020202120222023*
Fim do ano7,38,68,14,64,6
Média do ano8,19,38,76,15,0
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20192020202120222023*
Exportações17,314,121,122,619,7
Industriais12,510,414,117,216,1
Importações10,37,611,716,014,6
Balança Comercial6,96,59,46,65,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20192020202120222023*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)35,736,245,743,344,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Indicadores Industriais (% a.a.)

20192020202120222023*
Faturamento real3,0-3,18,95,9-3,7
Compras industriais-2,7-5,531,2-0,5-8,9
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)0,7-4,55,7-0,7-3,0
Massa salarial real-0,8-9,05,310,93,9
Emprego0,0-1,96,75,9-0,2
Horas trabalhadas na produção-0,9-5,515,28,4-1,0
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS0,1-4,712,94,1-3,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20192020202120222023*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)2,5-5,59,01,1-3,3
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Não houve alterações
Economia Gaúcha: Não houve alterações.
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.

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