O ciclo negativo, que se instalou na indústria gaúcha no último trimestre de 2022 e se estendeu por todo 2023, não deu sinais de reversão em dezembro. O ano terminou com quedas na produção e no emprego, aumento na ociosidade e acúmulo, ainda que menor, de estoques. As principais causas, na avaliação dos empresários, seguem as mesmas: demanda interna insuficiente, elevada carga tributária e juros altos. Os empresários, contudo, voltaram a ficar otimistas no início de 2024, projetando crescimento da demanda, inclusive, das exportações, e do emprego, além de maior disposição para investir nos próximos seis meses.
O índice de produção da indústria gaúcha registrou 39,6 pontos no último mês do ano passado. Em uma escala de zero a 100, o valor ficou abaixo dos 50 pontos, o que indica queda da produção em relação a novembro, e abaixo da média histórica do mês (41,2 pontos), mostrando que o desempenho foi pior que o esperado. Com essa, foram nove quedas da produção e três altas mensais ao longo de 2023.
O quadro adverso à produção segue impactando o emprego da indústria gaúcha, que manteve a trajetória negativa em dezembro, completando quinze meses de quedas ininterruptas. Medido da mesma forma que a produção, o índice do número de empregados em dezembro foi de 47,1 pontos, resultado em linha com o previsto para mês, que tem como média histórica 47,2 pontos.
Volume de Produção no mês
(Em pontos)
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Número de empregados no mês
(Em pontos)
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Em mais um sinal de desaquecimento, a utilização da capacidade instalada (UCI) ficou em 66,0% em dezembro de 2023, uma redução de 4,0 p.p. ante novembro e 1,8 p.p. menor que a média histórica do mês. O índice de UCI em relação ao usual, que considera o patamar comum para o mês, atingiu 40,8 pontos no último mês do ano. O valor mostra que a UCI ficou bem abaixo do normal – dado pelos 50 pontos – e ainda mais distante do que estava em novembro (42,8 pontos). Ou seja, na avaliação dos empresários, a diferença para a UCI normal foi maior em dezembro do que em novembro.
Utilização da capacidade instalada – Grau médio no mês
(Em %)
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Utilização da capacidade instalada (UCI) em relação à usual no mês
(Em pontos)
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Notícia positiva da Sondagem de dezembro é que a menor produção levou à queda nos estoques de produtos finais pela primeira vez desde janeiro de 2023: o índice de evolução dos estoques registrou 48,3 pontos. A redução aproximou, mas não foi suficiente para levá-los aos níveis desejados pelas empresas, conforme revelou o índice de estoques em relação ao planejado, que caiu de 52,6 para 51,2 pontos, mas permaneceu acima dos 50 pontos.
Evolução de estoques de produto final no mês
(Em pontos)
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Índice de estoque efetivo em relação ao planejado
(Em pontos)
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A Sondagem, no seu bloco trimestral, mostrou um alívio na situação financeira das empresas na passagem do terceiro para o quarto trimestre do ano passado. O índice de satisfação com as condições financeiras subiu de 49,2 para 51,7 pontos, mostrando que os empresários gaúchos passaram a avaliá-las como satisfatórias. Com relação à margem de lucro operacional, porém, a insatisfação permanece, ainda que menor, conforme mostra o aumento do índice de 43,8 para 44,7 pontos no período. Os índices variam de zero a 100 pontos, acima (abaixo) de 50 indicam (in) satisfação.
Paralelamente, as empresas gaúchas revelaram condições de crédito menos adversas no quarto trimestre de 2023. O índice de acesso ao crédito alcançou 44,5 pontos, o maior valor desde o último trimestre de 2020, 3,1 pontos acima do terceiro trimestre de 2023. O valor do índice (abaixo de 50) e a alta indicam que a dificuldade de acesso ao crédito persiste, mas diminuiu. Em relação ao preço das matérias-primas, o índice de preço médio ficou em 53,5 pontos no último trimestre de 2023, o que denota aumento dos preços em relação ao trimestre anterior, após dois trimestres seguidos de quedas.
Índice de satisfação com a situação financeira
(Em pontos)
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Índice de satisfação com a margem de lucro
(Em pontos)
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Índice de facilidade para acessar o crédito
(Em pontos)
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Índice de evolução do preço da matéria-prima
(Em pontos)
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Ainda no bloco trimestral, a Sondagem revelou que a demanda interna insuficiente, a elevada carga tributária e as taxas de juros iniciaram e terminaram o ano como os três principais fatores que limitaram o desempenho das empresas em 2023. Os três itens ocupam as primeiras posições do ranking de problemas enfrentados pelo setor desde o 3º trimestre de 2022, quando a indústria equacionou os gargalos nas cadeias de suprimento provocados pela pandemia.
A demanda interna insuficiente foi o maior obstáculo nos quatro trimestres de 2023, mas recebeu no último o menor percentual de respostas: 39,4% das empresas (4,7 p.p. abaixo do anterior). A elevada carga tributária foi escolhida por 32,0% das empresas ante 33,0% do trimestre anterior. As taxas de juros elevadas registraram 26,3% das citações das empresas, o menor patamar desde o primeiro trimestre de 2022 e 2,1 p.p. menor do que o observado no terceiro trimestre.
A insegurança jurídica foi o quarto maior problema enfrentado pela indústria gaúcha no último trimestre do ano, assinalada por 17,7% das empresas. Vale ressaltar que esse foi o maior percentual já registrado, superando o pico anterior de 15,2% do terceiro trimestre e, de longe, a média histórica de 7,3%. A relevância da insegurança jurídica como obstáculo começou a crescer a partir do terceiro trimestre de 2022. A média histórica de citações até então era de 5,8%, passando para 14,9% nos trimestres seguintes até aqui.
O quinto maior entrave foi a competição desleal (informalidade, contrabando, dumping, etc.) que cresceu de 11,7% no terceiro para 16,6% das citações no quarto trimestre de 2023. Destaque final, para o problema da falta ou alto custo das matérias-primas que passou de 7,1% para 12,6%, a maior alta entre todos os problemas.
Principais problemas enfrentados no trimestre
(Percentual de respostas)
TRIMESTRE | ||
---|---|---|
3º/2023 | 4º/2023 | |
Demanda interna insuficiente | 44,2% | 39,4% |
Elevada carga tributária | 33,0% | 32,0% |
Taxas de juros elevadas | 28,4% | 26,3% |
Insegurança jurídica | 15,2% | 17,7% |
Competição desleal | 11,7% | 16,6% |
Demanda externa insuficiente | 17,8% | 15,4% |
Falta ou alto custo de trabalhador qualificado | 17,8% | 14,9% |
Burocracia excessiva | 16,2% | 14,9% |
Inadimplência dos clientes | 14,7% | 13,7% |
Falta de capital de giro | 14,2% | 13,7% |
Falta ou alto custo da matéria-prima | 7,1% | 12,6% |
Competição com importados | 11,7% | 10,3% |
Falta ou alto custo de energia | 4,1% | 7,4% |
Dificuldades na logística de transporte | 4,1% | 6,9% |
Falta de financiamento de longo prazo | 7,6% | 6,9% |
Taxa de câmbio | 8,1% | 5,7% |
Nenhum | 4,1% | 3,4% |
Outros | 4,1% | 2,3% |
Se o cenário em dezembro segue bastante desfavorável, em janeiro de 2024, os empresários gaúchos voltaram a projetar crescimento da demanda nos próximos seis meses. De fato, a melhor notícia da Sondagem foram o retorno de todos os índices de expectativas ao campo positivo, exibindo os maiores valores desde outubro de 2022. O índice de demanda cresceu de 48,4 em dezembro para 55,3 pontos em janeiro e o de exportações, de 49,8 para 54,0 pontos. Os índices variam de zero a 100 pontos, sendo que acima de 50 indicam expectativas de crescimento. Com a projeção otimista para a demanda, a indústria planeja aumentar o emprego (51,2 pontos), o que não ocorria desde março de 2023, e as compras de matérias-primas (54,9 pontos).
Índice de expectativas de demanda
(Em pontos)
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Índice de expectativas de emprego
(Em pontos)
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Índice de expectativas de compras de matérias-primas
(Em pontos)
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Índice de expectativas de exportações
(Em pontos)
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Com a projeção de um cenário mais favorável à frente, aumentou a disposição de investir da indústria gaúcha no primeiro mês de 2024. O índice de intenção de investir cresceu de 53,8 para 55,1 pontos na virada do ano, também o maior índice desde outubro de 2022 (57,9 pontos) e acima da média histórica de 51,3 pontos. Em janeiro de 2024, 59,0% dos empresários gaúchos exibiam disposição de investir nos seis meses seguintes.
Intenção de Investir
(Em pontos)
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Evolução Mensal | ||||
---|---|---|---|---|
Indicador | Nov/23 | Dez/23* | Média Histórica | O que representa (mês de referência) |
PRODUÇÃO | 48,5 | 39,6 | 49,2 | Queda da produção |
NÚMERO DE EMPREGADOS | 47,3 | 47,1 | 48,8 | Queda do emprego |
UTIL. DA CAP. INSTALADA (UCI) – % | 70,0 | 66,0 | 70,1 | Queda da UCI |
UCI EFETIVA-USUAL | 42,8 | 40,8 | 43,7 | UCI abaixo do nível usual |
EVOLUÇÃO DOS ESTOQUES | 52,7 | 48,3 | 50,6 | Queda dos estoques |
ESTOQUE EFETIVO-PLANEJADO | 52,6 | 51,2 | 51,8 | Estoques acima do planejado |
Condição Financeira no Trimestre | ||||
---|---|---|---|---|
Indicador | 3º/23 | 4°/23 | Média Histórica | O que representa (período de referência) |
MARGEM DE LUCRO OPERACIONAL | 43,8 | 44,7 | 42,0 | Margem de lucro insatisfatória |
SITUAÇÃO FINANCEIRA | 49,2 | 51,7 | 48,1 | Situação satisfatória |
ACESSO AO CRÉDITO | 41,4 | 44,5 | 41,1 | Acesso ao crédito difícil |
PREÇO MÉDIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS | 49,7 | 53,5 | 64,5 | Aumento dos preços |
Expectativas – Próximos Seis Meses | ||||
---|---|---|---|---|
Indicador | Dez/23 | Jan/24* | Média Histórica | O que representa (mês de referência) |
DEMANDA | 48,8 | 55,3 | 55,2 | Expectativa de aumento |
NÚMERO DE EMPREGADOS | 48,7 | 51,2 | 50,3 | Expectativa de aumento |
COMPRAS DE MATÉRIAS-PRIMAS | 48,4 | 54,9 | 53,4 | Expectativa de aumento |
QUANTIDADE EXPORTADA | 49,8 | 54,0 | 52,4 | Expectativa de aumento |
INTENÇÃO DE INVESTIR | 53,8 | 55,1 | 51,3 | Maior intenção de investir |
Perfil da Amostra: 175 empresas, sendo 40 pequenas, 58 médias e 77 grandes.
Período de Coleta: 02 a 16/01/2024.
A Sondagem Industrial do RS é elaborada pela Unidade de Estudos Econômicos (FIERGS) em conjunto com Unidade de Política Econômica da CNI. As informações solicitadas são de natureza qualitativa e resultam do levantamento direto com base em questionário próprio. Cada pergunta permite cinco alternativas excludentes a respeito da evolução ou expectativa de evolução da variável em questão. As alternativas estão associadas, da pior para a melhor, aos escores 0, 25, 50, 75 e 100. As perguntas relativas ao nível de atividade, a evolução dos estoques tem como referência o mês anterior. As perguntas relativas a UCI usual e a estoques planejados/desejados tem como referência o próprio mês. As perguntas relativas à situação financeira, margens de lucro, acesso ao crédito e os principais problemas referem-se ao trimestre. As questões de expectativas referem-se aos próximos seis meses. O indicador de cada questão é obtido ponderando-se os escores pelas respectivas frequências relativas das respostas. Os resultados gerais para cada uma das perguntas são obtidos mediante a ponderação dos índices dos grupos de empresas “Pequenas” (entre 10 a 49 empregados), “Médias” (entre 50 e 249 empregados) e “Grandes” (250 empregados ou mais) utilizando-se como peso a variável segundo a EE/TEM competência 2009. A metodologia de geração das amostras é a Amostragem Probabilística de Proporções. O tamanho da amostra do RS baseou-se no critério de porte das empresas com margem de erro de 10% e Nível de confiança de 90%.
Unidade de Estudos Econômicos
Contatos: (51) 3347-8731 | economia@fiergs.org.br
Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul | https://observatoriodaindustriars.org.br/