O choque climático que atingiu o Rio Grande do Sul em maio de 2024, além de interromper o processo produtivo nas plantas industriais localizadas nos municípios atingidos, obstruiu rotas de recebimento de insumos para as fábricas e dificultou o escoamento da produção. Dezoito dos 23 segmentos da Indústria de Transformação gaúcha apresentaram retração em suas vendas externas quando comparados a maio de 2023. Embora tenha registrado faturamento de US$ 1,2 bilhão com as exportações, a Indústria de Transformação do RS vendeu US$ 282,5 milhões a menos do que no mesmo período do ano anterior, uma queda de 19,3%. Esse desempenho foi influenciado diretamente por uma menor quantidade (-18,9%) de produtos enviados ao mercado externo, visto que preços médios (-0,6%) movimentaram-se pouco. De fato, o choque climático contribuiu para aprofundar o desempenho negativo dos embarques da Indústria de Transformação do RS, que têm apresentado trajetória descendente desde jan/23. Essas exportações ficaram US$ 227,9 milhões (-16,2%) abaixo da média verificada para o mês de maio nos últimos três anos e US$ 57,6 milhões (-4,7%) menores do que nossas estimativas sem o choque climático apontavam.
Exportações da Indústria de Transformação gaúcha
(Média Móvel de 12 meses | Índice de base fixa jan/20 = 100)
Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração: UEE/FIERGS.
É importante que se frise que o ciclo de produção não ocorre necessariamente dentro do mês, isto é, há mercadorias que demoram semanas para serem fabricadas e outras meses, de modo que os dados apresentados apenas apresentam o que foi enviado efetivamente no mês de referência. Dito de outra forma, o que é exportado já foi produzido em períodos anteriores, não levando em consideração mercadorias em processo de fabricação, o que justifica a queda não ser tão grande com relação ao que projetávamos.
O resultado de Alimentos (US$ 373,1 milhões | -US$ 214,3 milhões | -36,5%) foi influenciado principalmente por uma menor quantidade (-34,2%) de mercadorias enviadas ao mercado externo, preços apresentaram retração de 3,4%. Quanto aos ramos de produção dessa indústria, Óleos vegetais em bruto (US$ 119,1 milhões | -US$ 160,0 milhões) embarcou suas mercadorias principalmente para a Coreia do Sul (US$ 48,2 milhões | +US$ 47,5 milhões), o Abate de aves (US$ 101,2 milhões | -US$ 31,3 milhões) teve seus produtos comprados majoritariamente pelos Emirados Árabes Unidos (US$ 16,9 milhões | +US$ 3,9 milhões) e, por fim, o Abate de suínos (US$ 49,4 milhões | -US$ 2,8 milhões) enviou a maior parte de sua produção para a China (US$ 19,5 milhões | -US$ 13,8 milhões). Salienta-se, no entanto, que embora suas plantas industriais estejam espalhadas pelo Rio Grande do Sul, a maior parte estava localizada[1] em municípios atingidos pelo choque climático. Porto Alegre, por exemplo, apresenta 365 dessas indústrias ou 7,3% do total do RS. Pelotas (197 | 3,9%), Caxias do Sul (176 | 3,5%), Passo Fundo (104 | 2,1%), Canoas (83 | 1,7%), Gravataí (82 | 1,6%), Lajeado (78 | 1,6%) e Santa Maria (78 | 1,6%), que também abrigam parcelas relevantes de fábricas desse segmento, também foram impactadas.
Em segundo lugar, o segmento de Tabaco apresentou US$ 206,5 milhões em exportações. A movimentação foi positiva visto o incremento de US$ 58,3 milhões nas receitas (+39,4%) e o mix de desempenho das quantidades (+14,3%) e dos preços (+22,0%) apontando para uma demanda externa ainda forte para os produtos dessa indústria. O Processamento industrial do tabaco (US$ 196,2 milhões | +US$ 62,1 milhões) foi o principal destaque, com produtos embarcados principalmente para a Bélgica (US$ 69,4 milhões | +US$ 14,4 milhões).
O terceiro segmento com maior receita com exportações em maio de 2024, Químicos, apresentou faturamento de US$ 99,6 milhões (-US$ 3,5 milhões | -3,4%). O desempenho dos preços médios (+31,4%) e do quantum (-26,5%) apontam para um cenário de oferta menos expansiva. Desse segmento, destacou-se o ramo de Resinas termoplásticas (US$ 58,3 milhões | +US$ 5,9 milhões) cujos principais embarques foram para a Bélgica (US$ 11,7 milhões | +US$ 3,2 milhões).
Vale destacar também, na comparação de maio de 2024 em relação ao mesmo período do ano passado, os resultados positivos de Celulose e papel (US$ 89,8 milhões | +US$ 18,7 milhões | +26,4%) e Coque de derivados do petróleo (US$ 39,5 milhões | +US$ 18,7 milhões | +89,5%) e os negativos de Couro e calçados (US$ 70,9 milhões | -US$ 1,1 milhão | -1,6%), de Veículos automotores (US$ 64,3 milhões | -US$ 46,0 milhões | -41,7%), de Máquinas e equipamentos (US$ 56,3 milhões | -US$ 54,0 milhões | -49,0%) e de Produtos de metal (US$ 49,4 milhões | -US$ 23,5 milhões | -15,2%).
O Rio Grande do Sul importou US$ 772,2 milhões em mercadorias estrangeiras em maio de 2024, retração de US$ 540,9 milhões frente ao mesmo período de 2023 (-41,2%). Dada a complementaridade da estrutura produtiva do Rio Grande do Sul com o mercado externo, a menor demanda gaúcha por Bens intermediários (US$ 473,2 milhões | -US$ 191,2 milhões | -28,8%) e por Bens de capital (US$ 122,2 milhões | -US$ 90,3 milhões | -42,5%) sinaliza um mercado interno menos aquecido, visto o menor consumo, por parte da indústria do RS, por insumos e por maquinário utilizados diretamente no processo produtivo. A maior parte dos produtos importados pelo estado foram os pertencentes ao segmento de Químicos (US$ 226,6 milhões | -US$ 104,8 milhões | -31,6%), principalmente aqueles relacionados aos Intermediários para fertilizantes (US$ 93,3 milhões | -US$ 30,9 milhões), adquiridos majoritariamente do Marrocos (US$ 35,7 milhões | -US$ 3,2 milhões) e da Arábia Saudita (US$ 31,9 milhões | -US$ 11,5 milhões).
[1] Utilizou-se os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) referente ao ano de 2022 para o levantamento das localizações geográficas das fábricas, realizou-se um filtro para se retirar do estudo final estabelecimentos com zero empregados.
AEROPORTO SALGADO FILHO FECHADO
O Aeroporto Internacional Salgado Filho, localizado na cidade de Porto Alegre, tem maior peso para as importações do que para as exportações. Em maio, exportou-se US$ 1,2 milhão pela Inspetoria da Receita Federal (IRF) do Aeroporto, no mesmo período do ano anterior eram US$ 4,3 milhões, ou seja, US$ 3,1 milhões a menos (-72,1%). Quanto às importações, houve US$ 3,5 milhões em compras por meio dessa IRF, valor US$ 37,5 milhões (-91,5%) menor do que o verificado em maio de 2023. Vale fazer a ressalva de que o aeroporto teve suas operações interrompidas a partir do dia 3 de maio, o que justifica em parte, certo volume embarcado por esse ponto antes de seu fechamento.
A utilização de uma via aérea, para transação comercial de bens, geralmente ocorre quando o produto objeto da negociação apresenta boa relação valor agregado e baixo volume. Isso é possível de ser verificado pelo que passa por esse terminal de embarque. Pelo lado das vendas, por exemplo, Produtos do refino de petróleo (Querosene para aviação, na totalidade) (US$ 1,1 milhão | -US$ 0,5 milhão) e Outros equipamentos e aparelhos elétricos (US$ 0,1 milhão | -US$ 0,0) foram os principais ramos a utilizar a IRF do Aeroporto como local de embarque em maio. Pelo lado das compras, destacaram-se os recebimentos de produtos dos ramos de Componentes eletrônicos (US$ 0,9 milhão | -US$ 4,6 milhões) e Aparelhos e equipamentos de medida, teste e controle (US$ 0,4 milhão | -US$ 2,7 milhões).
Vale destacar ainda que o Salgado Filho, no acumulado de janeiro a dezembro de 2023, foi importante local de recebimento de produtos dos ramos de Artigos ópticos (60,5% do total comprado pelo RS), Medicamentos para uso veterinário (94,2%) e Produtos farmoquímicos (58,5%).
PORTO DE RIO GRANDE EM FUNCIONAMENTO, MAS LOGÍSTICA FOI PREJUDICADA
O porto localizado no município de Rio Grande é o principal local de embarque das exportações gaúchas. Embora essa cidade tenha decretado estado de calamidade, o porto está a pleno funcionamento, sendo possível sua utilização tanto para o recebimento de mercadorias quanto para o envio ao mercado externo. Outros locais de escoamento da produção, os portos de Itajaí e de São Francisco do Sul (ambos localizados em Santa Catarina) e a Alfândega de Uruguaiana também estão em funcionamento.
Embora os principais locais de embarque estejam em pleno funcionamento, as rotas que ligam as plantas industriais até os portos e alfândegas foram bastante afetadas. Os trajetos ainda em funcionamento tornam os deslocamentos mais longos e demorados devido à pressão extra em poucas rodovias. Esse cenário contribui para maiores custos de transporte para a Indústria gaúcha, afetando tanto o produto final processado quando os insumos utilizados no processo produtivo. Cabe ainda fazer a ressalva que a enxurrada acabou por trazer quantidade elevada de sedimentos para o leito da Lagoa dos Patos e, consequentemente, podem prejudicar o porto.
Anexo Estatístico
Exportações da Indústria de Transformação do RS – CNAE 2.0
(US$ milhões)
Resultado Mensal
mai/23 | mai/24 | Var.(%) | Var.US$ | |
---|---|---|---|---|
Alimentos | 587,4 | 373,1 | -36,5 | -214,3 |
Tabaco | 148,2 | 206,5 | 39,4 | 58,3 |
Químicos | 103,1 | 99,6 | -3,4 | -3,5 |
Celulose e papel | 71,1 | 89,8 | 26,4 | 18,7 |
Couro e calçados | 72,1 | 70,9 | -1,6 | -1,1 |
Veículos automotores | 110,3 | 64,3 | -41,7 | -46,0 |
Máquinas e equipamentos | 110,3 | 56,3 | -49,0 | -54,0 |
Produtos de metal | 64,6 | 49,4 | -23,5 | -15,2 |
Coque e derivados do pet. | 20,8 | 39,5 | 89,5 | 18,7 |
Borracha e plástico | 32,9 | 25,9 | -21,3 | -7,0 |
Outros | 139,4 | 102,3 | -26,6 | -37,1 |
Indústria de Transformação | 1.460,3 | 1.177,8 | -19,3 | -282,5 |
Resultado Acumulado
jan-mai/23 | jan-mai/24 | Var. (%) | Var.US$ | |
---|---|---|---|---|
Alimentos | 2.466,2 | 1.954,3 | -20,8 | -512,0 |
Tabaco | 853,0 | 926,3 | 8,6 | 73,4 |
Químicos | 510,6 | 543,3 | 6,4 | 32,8 |
Celulose e papel | 485,2 | 440,8 | -9,2 | -44,4 |
Máquinas e equipamentos | 543,4 | 384,4 | -29,3 | -159,1 |
Couro e calçados | 389,8 | 381,2 | -2,2 | -8,5 |
Veículos automotores | 462,0 | 339,8 | -26,4 | -122,1 |
Produtos de metal | 288,6 | 274,2 | -5,0 | -14,3 |
Coque e derivados do pet. | 145,6 | 178,1 | 22,3 | 32,5 |
Madeira | 196,6 | 166,1 | -15,5 | -30,5 |
Outros | 574,6 | 554,0 | -3,6 | -20,6 |
Indústria de Transformação | 6.915,4 | 6.142,6 | -11,2 | -772,8 |
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