Ano 24 – Número 39 – 29 de setembro de 2022

Informe Econômico

Segundo semestre deve ser melhor para o RS, após impactos da estiagem

Revisamos a projeção para a variação do PIB do RS em 2022 de -4% para -2,2%, taxa compatível com um crescimento de 4,6% no segundo semestre de 2022 em relação ao mesmo período de 2021.

A atividade econômica do Rio Grande do Sul registrou queda de 3,5% no segundo trimestre de 2022 na comparação com o trimestre imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal, conforme dados de DEE/SPGG. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, a queda no PIB gaúcho foi ainda maior, de 11,5%.

Como esperado, os maiores impactos da estiagem apareceram nos resultados do PIB do segundo trimestre. A combinação de falta de chuvas e uma base de comparação muito elevada por conta da safra de grãos recorde do ano passado fez o PIB da Agropecuária registrar a maior queda da série histórica, com início em 2022: -65,6% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, com fortes quedas de produção nas principais culturas agrícolas: soja (-54,3%), milho (-31,6%) e arroz (-9,8%).

O setor de Serviços continuou em crescimento, com avanço 3,8% frente ao período de abril a junho de 2021, na esteira da reabertura da economia e volta das atividades presenciais, sendo beneficiado pela demanda reprimida da pandemia e recuperação parcial da renda real das famílias ao longo do ano. Os destaques positivos vieram do Comércio (+5,1%), Outros serviços (+11,1%) e Serviços de informação (+6,7%).

Um bom sinal veio do setor Industrial (+7,3% na comparação com o mesmo período de 2021): após um início de ano negativo, todos os subsetores apresentaram crescimento no segundo trimestre e com taxas superiores ao Brasil na comparação com o mesmo período de 2021. Os maiores crescimentos foram em Energia e saneamento (+18,1%) e na Construção (+10,6%). O primeiro beneficiado pela normalização das chuvas, e o segundo pela execução de obras devido ao ciclo eleitoral, bem como pelos efeitos defasados das baixas taxas de juros que vigoraram até 2021. Porém, por conta de seu peso no PIB do setor de cerca de 70%, a maior contribuição para o resultado veio do crescimento da Transformação (+4,5%). Contudo, é preciso mencionar que as altas da produção de dois segmentos puxaram decisivamente a taxa geral: Máquinas e equipamentos (+15,6%; sob influência da boa safra no centro do País e das exportações) e Veículos (+42,2%; pela volta das atividades de uma grande fabricante de automóveis).

Um ponto a ser destacado é o quanto o nível da atividade econômica gaúcha mudou em curto período. No segundo trimestre de 2021, o RS atingiu seu maior nível de PIB da série histórica, sob influência da safra recorde de grãos e uma recuperação muito forte da indústria após as perdas da pandemia. Atualmente, apenas um ano depois, o PIB retornou ao nível de 2012, ano também marcado por condições climáticas severas. A boa notícia é que com as condições climáticas colaborando, a volta deve ser rápida e já deve começar no restante do ano corrente.

Para o segundo semestre, a safra de inverno deve ajudar a recuperar um pouco as perdas da safra de verão na Agropecuária. Contudo, além da menor representatividade no PIB, como a área plantada também deve apresentar forte crescimento nas culturas de inverno, a produtividade – índice que conta para o PIB – não deve crescer tanto. Segundo levantamento do IBGE de agosto, o rendimento médio da safra de trigo no RS – principal cultura de inverno – deve crescer 8,3% em 2022 frente a 2021, com aumento de 29,0% na produção e 19,1% na área plantada.

O setor de Serviços deve continuar colhendo os frutos da melhora no mercado de trabalho, que tem mostrado resiliência na geração de empregos e aumento da renda disponível. A Indústria, por sua vez, também se beneficia da demanda externa ainda aquecida via exportações, dos menores problemas nas cadeias de insumos e de empresários industriais confiantes, apesar dos juros elevados que prejudicam os investimentos.

Dado o resultado muito negativo do primeiro semestre (-8,4% frente ao mesmo período de 2021), a economia gaúcha precisa crescer 9,3% no segundo semestre para que o resultado do ano fique zerado. Portanto, é muito provável que o PIB do RS apresente uma queda no acumulado de 2022 contra 2021, mesmo com a Indústria e os Serviços fechando com crescimento.

Nossas expectativas apontam que a Agropecuária deve fechar o ano com retração de 40,9%, ao passo que a Indústria deve crescer 1,7% e os Serviços 2,2%. Com isso, revisamos nossa projeção para a variação do PIB do RS em 2022 de -4% para -2,2%, taxa compatível com um crescimento de 4,6% no segundo semestre de 2022 em relação ao mesmo período de 2021.

PIB do Rio Grande do Sul
(Var. % real)

2ºtrim22/ 1ºtrim22*2ºtrim22/ 2ºtrim21Acum. em 2022Acum. em 4 trim.
PIB-3,5-11,5-8,4-2,4
Agropecuária-38,3-65,6-57,5-44,5
Indústria3,07,32,93,2
Extrativa mineral0,86,57,16,8
Transformação1,74,50,82,1
Energia e saneamento (SIUP)**18,418,15,20,6
Construção4,310,69,59,1
Serviços1,63,83,54,4
Fonte: DEE/Seplag-RS. *Com ajuste sazonal. **Serviços Industriais de Utilidade Pública (eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana).

Pelo segundo ano seguido, contas públicas devem encerrar no positivo

O Setor Público Consolidado apresentou superávit primário de R$ 230,6 bilhões (2,5% do PIB), no acumulado em 12 meses até julho/2022. Tanto o Governo Central quanto os entes Subnacionais contribuíram para esse resultado, enquanto o primeiro foi superavitário em R$ 109,9 bi (1,2% do PIB) o segundo em R$ 115,6 bi (1,2% do PIB).

Um fato novo sobre as finanças públicas desse ano é o protagonismo das contas Federais com relação ao desempenho do Setor Público Consolidado. O superávit primário na ordem de R$ 64,7 bilhões de 2021 só foi possível devido aos esforços dos entes Subnacionais que fecharam o ano no positivo. No entanto, 2022 tem sido diferente, após 86 meses consecutivos em déficit primário no acumulado em 12 meses, o Governo Central adentrou 2022 no positivo e assim se manteve na maior parte dos meses observados até aqui.

Dentre os fatores que levaram aos bons números do Governo Central, primeiramente, está a inflação alta, que fez a arrecadação crescer em níveis históricos. Em segundo lugar, vale destacar o esforço do Governo em tentar contingenciar o gasto público, principalmente de Pessoal e Previdenciário. No acumulado em 12 meses até julho/2022, essa rubrica enfrentou decréscimo real de 4,9% (-R$ 57,3 bilhões). Adicionalmente, o montante de receitas advindas de Dividendos e Participações também trouxeram fôlego às receitas do governo (crescimento real de 301,8% no acumulado dos últimos 12 meses até julho/22).

O cenário de 2022 já está dado, projetamos que o Setor Público Consolidado deverá alcançar superávit primário de 1,0% do PIB. Esse número deve ter colaboração menor das contas regionais, dado os efeitos da PEC do Combustíveis. As grandes discussões sobre as finanças públicas devem ficar sobre 2023, ano que deverá ser marcado por pressões sobre gastos vindos de todas as direções (manutenção do atual nível do Auxílio Brasil, reajuste linear do funcionalismo, revisão das despesas discricionárias), queda no ritmo da arrecadação e o risco fiscal que deve se fazer presente nas discussões sobre o novo arcabouço fiscal brasileiro, presente na pauta da próxima legislatura.

Resultado Primário do Setor Público Consolidado
(Em % do PIB | Acumulado em 12 meses)

Fonte: Banco Central

Produção industrial gaúcha ganha intensidade e expectativas melhoram

A Sondagem Industrial do RS, divulgada pela FIERGS, descreve um cenário positivo em agosto: alta da produção e do emprego e menor ociosidade. O excesso de estoques foi a nota negativa. Para os próximos meses, os empresários preveem mais demanda, contratações e investimentos. Os índices variam de 0 a 100 pontos, tendo os 50 como marca divisória dos resultados positivos e negativos.

O índice da produção registrou 56,9 pontos em agosto, o que significa avanço da produção ante o mês anterior, o quarto seguido. O valor ficou acima da média dos meses de agosto (53,6), denotando um avanço além do sugerido pela sazonalidade.

No 26º aumento consecutivo em agosto, o emprego também superou o comportamento médio do mês. De fato, o índice de emprego alcançou 53,2 pontos, sendo que a média do mês é de 49,5 pontos.

Com 75,0% em agosto, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) superou em 3 p.p. a de julho e em 4 p.p. a média histórica do mês, atingindo o maior patamar do ano. O índice de UCI em relação a usual foi de 50,1 pontos no mês, também o maior valor do ano. Isso significa que, na avaliação dos empresários, a indústria operou no nível normal de UCI para o mês, sendo que vinha abaixo desde dezembro de 2021.

 O dado negativo da Sondagem de agosto ficou por conta dos estoques de produtos finais, que seguem em  níveis excessivos desde outubro de 2021. O índice que os mede em relação ao planejado pelas empresas atingiu 52,2 pontos, 0,6 ponto maior que julho – acima de 50 indica estoques além do previsto –, o que, além da demanda inferior à prevista, pode gerar dificuldade para a produção industrial nos próximos meses.

A Sondagem mostrou ainda que o cenário positivo em agosto aumentou o otimismo dos empresários gaúchos, que preveem, para os próximos seis meses, maior demanda e mais contratações. O índice de demanda, em 61,7 pontos no mês de setembro, e o de emprego, em 54,9 pontos, cresceram 1,4 e 1,0 ponto, respectivamente, ante agosto. Os empresários projetam também aumentar as exportações (54,1 pontos) e as compras de matérias-primas (58,3 pontos).

Por fim, o índice de intenção de investir para os próximos seis meses ficou em 62,1 pontos em setembro, uma alta de 2,7 ante agosto. É o maior valor desde março de 2014 (62,4), 10,9 pontos acima da média histórica. O índice varia de zero a cem e quanto mais próximo de cem, maior é a propensão de investir. Em setembro, sete em cada dez empresas informaram que pretendem investir nos próximos seis meses.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20182019202020212022*
Agropecuária1,30,43,8-0,21,3
Indústria0,7-0,7-3,44,51,0
Serviços2,11,5-4,34,73,6
TOTAL1,81,2-3,94,62,8
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20182019202020212022*
Em R$7,0047,3897,4688,6799,536
Em US$21,9161,8731,4481,6091,847
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS

Inflação (% a.a.)

20182019202020212022*
IGP-M 7,67,323,117,810,4
INPC3,44,55,410,26,3
IPCA3,74,34,510,16,0
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

20182019202020212022*
Extrativa Mineral0,0-9,7-3,41,11,2
Transformação1,10,2-4,64,31,9
Indústria Total31,0-1,1-4,53,91,5
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20182019202020212022
Agropecuária2,213,036,5146,161,0
Indústria23,997,2148,7721,2478,9
Indústria de Transformação1,213,248,0439,7256,3
Construção11,470,797,3245,0194,6
Extrativa e SIUP411,213,33,536,528,0
Serviços520,2533,8-378,01.904,41.527,2
TOTAL546,4644,1-192,72.771,62.067,1
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

20182019202020212022*
Fim do ano11,711,114,211,18,0
Média do ano12,412,013,813,29,3
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

20182019202020212022*
Exportações231,9221,1209,2280,4295,9
Importações185,3185,9158,8219,4226,4
Balança Comercial46,635,250,461,069,5
*Projeção UEE/FIERGS

Moeda e Juros

20182019202020212022*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)6,504,502,009,2513,75
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)517,14,028,97,4-7,7
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)3,854,035,205,585,15
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS

Setor Público (% do PIB)

20182019202020212022*
Resultado Primário-1,6-0,8-9,40,81,0
Juros Nominais-5,4-5,0-4,2-5,2-7,0
Resultado Nominal-7,0-5,8-13,6-4,4-6,0
Dívida Líquida do Setor Público52,854,762,557,359,1
Dívida Bruta do Governo Geral75,374,488,680,378,2
*Projeção UEE/FIERGS

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20182019202020212022*
Agropecuária-7,13,0-29,567,5-40,9
Indústria2,80,2-5,69,71,4
Serviços2,60,8-4,64,12,2
TOTAL2,01,1-6,810,4-2,2
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20182019202020212022*
Em R$457,294482,464480,173582,968598,164
Em US$2125,108122,28293,107108,059116,147
*Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20182019202020212022*
Agropecuária-1,4-0,10,53,71,9
Indústria1,5-5,5-0,247,534,7
Indústria de Transformação0,9-1,50,142,927,7
Construção0,9-4,0-0,35,37,5
Extrativa e SIUP7-0,20,00,0-0,6-0,5
Serviços20,426,0-42,989,767,2
TOTAL20,520,4-42,6141,0103,8
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

20182019202020212022*
Fim do ano7,57,38,68,15,7
Média do ano8,28,19,38,76,3
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

20182019202020212022*
Exportações21,017,314,121,122,4
Industriais15,112,510,514,115,1
Importações11,310,37,611,712,8
Balança Comercial9,86,96,59,49,6
*Projeção UEE/FIERGS

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20182019202020212022*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)34,835,736,245,749,5
*Projeção UEE/FIERGS

Indicadores Industriais (% a.a.)

20182019202020212022*
Faturamento real2,73,0-3,18,71,6
Compras industriais10,0-2,7-5,531,04,2
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)1,60,7-4,65,70,3
Massa salarial real-1,3-0,8-9,34,60,4
Emprego0,90,0-1,96,71,4
Horas trabalhadas na produção0,0-1,0-5,715,13,3
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS2,60,1-4,812,81,7
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

20182019202020212022*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)5,92,5-5,58,81,0
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS

Informações sobre as atualizações das projeções:

No cenário nacional foram atualizadas as projeções para o Setor Público e para o RS foram atualizadas as projeções para o PIB.

Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul

Unidade de Estudos Econômicos

Conteúdo relacionado

Nenhum inteligência encontrada para esta área selecionada.