Edição 2024

Estudos Especiais

Estudo preliminar dos problemas econômicos decorrentes da catástrofe climática no Rio Grande do Sul (08/05/2024)

O Rio Grande do Sul atravessa a maior catástrofe climática de sua história. As chuvas em volumes excessivos, que começaram a atingir o estado no final de abril e prosseguem em maio, provocaram enchentes, deslizamentos de encostas e destruição em diversas regiões.

As situações de risco enfrentadas pelos municípios do Estado decorrentes desses eventos meteorológicos estão ocasionando danos humanos – com a perda de vidas –, e danos materiais e ambientais – com a destruição de moradias, estradas e pontes –, assim como o comprometimento do funcionamento de instituições públicas locais e regionais e a interdição de vias públicas.

Em boletim divulgado pelo Governo Estadual, com dados até o domingo (05/05) às 9 horas, eram 75 óbitos confirmados, 15.192 pessoas em abrigos, 80.573 desalojados, 710.022 afetados, 155 feridos e 100 desaparecidos. Esses números já apresentaram aumento e devem continuar crescendo significativamente. O estado de calamidade pública foi decretado no Rio Grande do Sul no dia 1º de maio, afetando 336 municípios, o que corresponde a 67,6% dos 497 municípios do Estado.

Os locais mais atingidos incluem os principais polos industriais do Rio Grande do Sul, impactando segmentos significativos para a economia do Estado:

  • Região da Serra: destaque para a produção nos segmentos metalmecânico (veículos, máquinas, produtos de metal) e móveis;
  • Região Metropolitana de Porto Alegre: destaque para a produção nos segmentos metalmecânico (veículos, autopeças, máquinas), derivados do petróleo e alimentos;
  • Região do Vale dos Sinos: destaque para a produção no segmento de calçados;
  • Região do Vale do Rio Pardo: destaque para a produção nos segmentos de alimentos (carnes, massas) e tabaco;
  • Região do Vale do Taquari: destaque para a produção nos segmentos de alimentos (carnes), calçados e químicos.

As perdas econômicas são inestimáveis no momento. Uma infinidade de empresas teve suas dependências completamente comprometidas. Além dos danos gigantescos de capital, os problemas logísticos devem afetar de forma significativa todas as cadeias econômicas do Estado. Em boa parte dos casos, não será apenas necessário realizar o trabalho de desobstrução, mas de reconstrução de estradas, pontes, vias férreas e até mesmo o principal aeroporto do Estado está com suas instalações comprometidas. Como consequência inevitável do caos que se instalou em solo gaúcho, muitos postos de trabalho serão fechados.

A fim de melhor compreender os efeitos sobre o estado do Rio Grande do Sul, dividimos o estado em 10 regiões econômicas que melhor contemplam as peculiaridades produtivas da região: Metropolitana, Vale dos Sinos, Serra, Serra Centro, Vale do Taquari, Central, Planalto, Missões, Campanha e Sul. Além disso, utilizamos o critério mais recente até esta data adotado pelo Governo do Estado para caracterizar os municípios considerados atingidos pelas cheias dos rios. Abaixo, a tabela consolida as principais informações econômicas disponíveis:

Dados econômicos dos municípios afetados pelas enchentes do Rio Grande do Sul em 2024, por região

Regiões*Municípios afetadadosVAB Total
(Em bilhões R$)
VAB Indústria
(Em bilhões R$)
Número de Indústrias
(Em milhares)
Número de Empregos da Indústria
(Em milhares)
Exportações Ind. Transformação
(Em milhões US$)
Arrecadação ICMS Indústria
(Em milhões R$)
População
 (Em milhares)
Metropolitana21107177,91273.2223.0912.576
Vale dos Sinos1860228,31601.5645.1411.452
Serra1241146,21159333.154767
Serra Centro301983,7636031.676348
Vale do Taquari442593,7741.0321.735515
Central463873,5543.0951.302930
Planalto744194,7712.7282.948779
Missões553362,8441.3341.070619
Campanha212221,215142431551
Sul151921,621369317552
Regiões Atingidas3364039543,774315.02120.8659.090
Total RS49750212150,685216.85525.05510.883
Prop. em relação ao RS (em %)67,680,378,286,487,289,183,383,5
Fonte: IBGE, RAIS/MTE, SECEX/ME, Receita Estadual RS. Elaboração: UEE\FIERGS.
*Considerado apenas os municípios atingidos conforme Decreto 57.603/2024. Disponível em: <https://www.diariooficial.rs.gov.br/materia?id=998883>.

Como se pode ver na tabela, as regiões com o maior número de municípios atingidos até o dia 5 de maio foram as regiões Planalto (74), Missões (55) e Central (46). Ali estão contidos os municípios de Passo Fundo, Erechim, Santa Maria e Santa Cruz do Sul. No tocante à população potencialmente atingida, as regiões Região Metropolitana (2,6 milhões) e do Vale dos Sinos (1,5 milhões) despontam como as potencialmente mais afetadas, muito em razão dos seus populosos municípios às margens de rios e lagos. Em relação à atividade econômica, as três regiões com maiores municípios com Valor Adicionado Bruto (VAB)[1] potencialmente afetado eram: Metropolitana (R$ 107 bilhões), Vale dos Sinos (R$ 60 bilhões), Serra (R$ 41 bilhões) e Planalto (R$ 41 bilhões). Em relação ao VAB da Indústria, as regiões com maior atividade industrial potencialmente atingida eram: Vale dos Sinos (R$ 22 bilhões), Metropolitana (R$ 17 bilhões) e Serra (R$ 14 bilhões).

No tocante aos estabelecimentos industriais, as regiões com a maior quantidade de Indústrias no RS em municípios afetados eram: Vale dos Sinos (8,3 mil), Metropolitana (7,9 mil) e Serra (6,2 mil). Quanto aos empregos na Indústria, as regiões com maior número de trabalhadores potencialmente afetados são: Vale dos Sinos (160 mil), Metropolitana (127 mil) e Serra (115 mil). Ainda, quanto às exportações da Indústria de Transformação em cidades potencialmente afetadas, as regiões Metropolitana (US$ 3,2 bilhões), Central (US$ 3,1 bilhões) e Planalto (US$ 2,7 bilhões) se destacam. Por fim, as regiões com maior impacto potencial sobre a arrecadação de ICMS em estabelecimentos industriais foram Vale dos Sinos (R$ 5,1 bilhões), Serra (R$ 3,2 bilhões) e Metropolitana (R$ 3,1 bilhões).

Desde o início das enchentes, 336 municípios (67,6% do total do estado) já foram atingidos em algum grau pela catástrofe. Nestes municípios, residem 9,1 milhões de gaúchos, de modo que 83,5% da população gaúcha já foi atingida de alguma maneira pelas cheias do mês de maio. Além disso, os municípios considerados afetados representam 80,3% do VAB do Rio Grande do Sul, 78,2% do VAB industrial, 86,4% dos estabelecimentos industriais, 87,2% dos empregos industriais, 89,1% das exportações da Indústria de Transformação e 83,3% da arrecadação de ICMS com atividades industriais. Diante desses números, fica evidente o potencial impacto avassalador das recentes inundações no Rio Grande do Sul sobre diversos aspectos econômicos, refletindo-se em uma ampla gama de indicadores. Entretanto, é crucial ressaltar que os efeitos desse desastre natural ainda estão em curso, especialmente considerando a atual devastação que continua assolando a Zona Sul do estado. Nesse sentido, os números apresentados aqui representam apenas uma parte do quadro potencial completo, sendo razoável esperar que o número de municípios atingidos aumente à medida que mais dados forem disponibilizados e a extensão total do impacto for mais bem compreendida.

DADOS SOBRE A INDÚSTRIA GAÚCHA

Na indústria do Brasil, a indústria do RS responde por:

  • 6,1% do PIB (R$ 121,1 bilhões)
  • 8,9% dos estabelecimentos (51,2 mil indústrias) 
  • 7,7% dos empregos formais (861,9 mil trabalhadores)
  • 6,5% das exportações (US$ 16,9 bilhões)
  • 10,2% da arrecadação de IPI (R$ 6,3 bilhões)

Segmentos industriais com maior representatividade do RS no Brasil, em termo do Valor Bruto da Produção (2021):

  • Tabaco: 68,5% da produção brasileira é no RS;
  • Couro e calçados: 30,5% da produção brasileira é no RS;
  • Móveis: 21,5% da produção brasileira é no RS;
  • Máquinas e equipamentos: 20,2% da produção brasileira é no RS;
  • Produtos de metal: 13,3% da produção brasileira é no RS;
  • Químicos: 11,2% da produção brasileira é no RS;
  • Alimentos: 9,8% da produção brasileira é no RS;
  • Bebidas: 8,9% da produção brasileira é no RS;

Principais destinos das exportações da indústria do RS:

  • China: US$ 2,0 bilhões (11,8% em 2023)
  • Estados Unidos: US$ 2,0 bilhões (11,8% em 2023)
  • Argentina: US$ 1,1 bilhão (6,3% em 2023)
  • Bélgica: US$ 677,6 milhões (4,0% em 2023)
  • Paraguai: US$ 602,3 milhões (3,6% em 2023)

Principais produtos industriais exportados e seus principais destinos:

  • Tabaco em folhas (US$ 2,3 bilhões) enviado para a Bélgica e China
  • Farelo de soja (US$ 1,8 bilhão) exportado para o Vietnã, Coreia do Sul
  • Carne de frango (US$ 1,3 bilhão) exportado para os Emirados Árabes, China e Arábia Saudita
  • Celulose (US$ 837 milhões) enviado para China e Estados Unidos

[1] O Valor Adicionado Bruto (VAB) é resultado da diferença entre o valor da produção e o consumo intermediário. É o valor que cada setor da economia (agropecuária, indústria e serviços) acresce ao valor final de tudo que foi produzido em uma região. O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma dos VABs setoriais e dos impostos, e é a principal medida do tamanho total de uma economia.

Unidade de Estudos Econômicos

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