A Sondagem Industrial do RS de setembro mostrou que a demanda interna insuficiente segue afetando o desempenho do setor, que voltou a registrar queda da produção e do emprego e aumento da ociosidade e dos estoques. Para os próximos seis meses, os empresários gaúchos revelam menor otimismo com a demanda e disposição para investir.
A produção industrial gaúcha não conseguiu sustentar o crescimento de agosto e voltou a cair em setembro. O Índice de produção registrou 43,6 pontos, revelando, abaixo de 50 pontos, contração, que foi mais intensa que a esperada, considerando a média histórica do mês de 49,8 pontos. Desde setembro de 2022, nos últimos treze meses, a produção registrou dez quedas, dois aumentos e uma estabilidade.
O emprego industrial, por sua vez, fechou doze meses de reduções consecutivas. O índice de número de empregados marcou 47,7 pontos em setembro, mostrando ainda um ritmo de queda mais intenso que o padrão para o mês, cuja média é de 49,3 pontos.
Volume de Produção no mês
(Em pontos)
Número de empregados no mês
(Em pontos)
A indústria gaúcha utilizou 69,0% da sua capacidade instalada (UCI) em setembro, 2 p.p. menor do que agosto e 2,4 p.p. abaixo da média histórica do mês, confirmando o baixo dinamismo do setor na comparação mensal. Da mesma forma, o índice de utilização de capacidade usual, que reflete a percepção dos empresários em relação à UCI comum para o mês, fechou setembro em 39,9 pontos, abaixo e ainda mais distante do nível usual (dado pelos 50 pontos) do que estava em agosto (42,9 pontos).
Utilização da capacidade instalada – Grau médio no mês
(Em %)
Utilização da capacidade instalada (UCI) em relação à usual no mês
(Em pontos)
A Sondagem mostrou que a queda da produção em setembro não foi suficiente para manter os estoques de produtos finais nos níveis desejados pelas empresas. De fato, o índice de evolução mensal (51,0 pontos) e o índice de estoques em relação ao planejado (52,4 pontos), que leva em conta o patamar esperado pelas empresas, ficaram acima dos 50 pontos em setembro, indicando, respectivamente, aumento ante agosto e acúmulo no mês. Uma demanda inferior à estimada, também devido a uma parcela maior atendida por importados, explica a formação de estoques indesejados.
Evolução de estoques de produto final no mês
(Em pontos)
Índice de estoque efetivo em relação ao planejado
(Em pontos)
A Sondagem, no bloco relativo às condições financeiras no terceiro trimestre de 2023, mostrou que não houve grandes alterações nas avaliações dos empresários na comparação com trimestre anterior. Os índices desse bloco também variam de zero a 100 pontos.
O índice de satisfação com a margem de lucro operacional registrou 43,8 pontos no terceiro trimestre de 2023, menos 0,3 ponto ante o segundo trimestre, já o índice de satisfação com as condições financeiras das empresas recuou de 50,1 para 49,2 pontos. Os dois índices, abaixo dos 50 pontos, denotam insatisfação, sendo que o segundo registrou o menor valor desde o segundo trimestre de 2020.
O acesso ao crédito, por sua vez, ficou um pouco menos difícil na passagem do segundo (40,5 pontos) para o terceiro trimestre de 2023 (41,4 pontos) na percepção dos empresários gaúchos, em linha com o ciclo de corte da Selic que vem acontecento no Brasil. Os preços das matérias-primas, após registrar a primeira queda desde 2012 (início da série histórica) no trimestre anterior (46,7 pontos), caíram ligeiramente no terceiro (49,7 pontos), ficando praticamente estáveis. Aqui, respectivamente, valores abaixo de 50 indicam dificuldade de acesso ao crédito ou queda nos preços das matérias-primas.
Índice de satisfação com a situação financeira
(Em pontos)
Índice de satisfação com a margem de lucro
(Em pontos)
Índice de facilidade para acessar o crédito
(Em pontos)
Índice de evolução do preço da matéria-prima
(Em pontos)
Ainda no bloco trimestral da Sondagem, as empresas responderam quais foram os principais problemas enfrentados no terceiro trimestre de 2023. O maior obstáculo do ano, apontado pelos empresários, tem sido oa demanda interna insuficiente, expressa por 44,2% dos empresarios, 1,5 p.p. a mais em relação ao trimestre anterior.
A carga tributária elevada, sempre um grande entrave para a indústria, ficou em segundo lugar, mas o percentual de assinalações caiu de 34,4% para 33,0% no período.
A taxa de juros elevada foi o terceiro problema mais importante, escolhida por 28,4% das empresas, sendo o item que registrou o maior recuo, em termos absolutos, ante o trimestre anterior: -6 p.p..
A demanda externa insuficiente ganhou relevância relativamente ao segundo trimestre (+4,2 p.p.) e atingiu 17,8% no terceiro, assumindo o posto de quarto maior obstáculo enfrentado pelo setor, empatada com a falta ou alto custo de trabalhador qualificado (+0,3 p.p.).
Vale destacar ainda os problemas que apresentaram as maiores variações do segundo para o terceiro trimestre de 2023, além dos já citados. Ganharam relevância a burocracia
excessiva (6ª posição), que cresceu 3,7 p.p. para 16,2% e a competição com importados (10ª colocada), que aumentou 3,9 p.p. para 11,7%. Por outro lado, a taxa de câmbio (12ª colocação) recebeu 8,1% das respostas, 4,9 p.p. a menos que no trimestre anterior.
Principais problemas enfrentados no trimestre
(Percentual de respostas)
Trimestre | ||
---|---|---|
2°/2023 | 3°/2023 | |
Demanda interna insuficiente | 42,7% | 44,2% |
Elevada carga tributária | 34,4% | 33,0% |
Taxas de juros elevadas | 34,4% | 28,4% |
Demanda externa insuficiente | 17,7% | 17,8% |
Falta ou alto custo de trabalhador qualificado | 14,6% | 17,8% |
Burocracia excessiva | 13,5% | 16,2% |
Insegurança jurídica | 13,0% | 15,2% |
Inadimplência dos clientes | 13,0% | 14,7% |
Falta de capital de giro | 12,5% | 14,2% |
Competição com importados | 12,0% | 11,7% |
Competição desleal | 10,4% | 11,7% |
Taxa de câmbio | 8,9% | 8,1% |
Falta de financiamento de longo prazo | 8,9% | 7,6% |
Falta ou alto custo da matéria-prima | 7,8% | 7,1% |
Nenhum | 6,3% | 4,1% |
Dificuldade na logística de tranporte | 4,2% | 4,1% |
Falta ou alto custo de energia | 3,7% | 4,1% |
Outros | 2,6% | 4,1% |
Para os próximos seis meses, o otimismo dos empresários da indústria gaúcha em relação à demanda, que já era bastante moderado em setembro, diminuiu ainda mais em outubro. O índice de expectativas de demanda caiu de 53,3 para 51,5 pontos e o de exportações de 51,8 para 51,5 pontos no período. A marca dos 50 pontos divide perspectivas de aumento, quando acima, e queda, quando abaixo. As avaliações dos empresários também sugerem ligeira redução do emprego (49,6 pontos) e pequena alta das compras de matérias-primas (50,3 pontos).
Índice de expectativas de demanda
(Em pontos)
Índice de expectativas de emprego
(Em pontos)
Índice de expectativas de compras de matérias-primas
(Em pontos)
Índice de expectativas de exportações
(Em pontos)
Menos otimistas, os empresários gaúchos mostram-se menos dispostos a investir nos próximos seis meses. O índice de intenção de investir em outubro caiu 1,1 ponto ante setembro para 51,5 pontos, praticamente a média histórica. Em outubro, 53,1% das empresas tinham intenção de investir (eram 55,6% em setembro).
Intenção de Investir
(Em pontos)
Evolução Mensal | ||||
---|---|---|---|---|
Indicador | Ago/23 | Set/23* | Média Histórica | O que representa (mês de referência) |
PRODUÇÃO | 52,4 | 43,6 | 49,2 | Queda da produção |
NÚMERO DE EMPREGADOS | 47,8 | 47,7 | 48,8 | Queda do emprego |
UTIL. DA CAP. INSTALADA (UCI) – % | 71,0 | 69,0 | 70,1 | Queda da UCI |
UCI EFETIVA-USUAL | 42,9 | 39,9 | 43,8 | UCI abaixo do nível usual |
EVOLUÇÃO DOS ESTOQUES | 50,0 | 51,0 | 50,6 | Aumento dos estoques |
ESTOQUE EFETIVO-PLANEJADO | 49,7 | 52,4 | 51,7 | Estoques acima do planejado |
Condição Financeira no Trimestre | ||||
---|---|---|---|---|
Indicador | 2º/23 | 3°/23 | Média Histórica | O que representa (período de referência) |
MARGEM DE LUCRO OPERACIONAL | 44,1 | 43,8 | 41,9 | Margem de lucro insatisfatória |
SITUAÇÃO FINANCEIRA | 50,1 | 49,2 | 48,0 | Situação satisfatória |
ACESSO AO CRÉDITO | 40,5 | 51,1 | 41,1 | Acesso ao crédito difícil |
PREÇO MÉDIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS | 46,7 | 49,7 | 64,7 | Queda dos preços |
Expectativas – Próximos Seis Meses | ||||
---|---|---|---|---|
Indicador | Set/23 | Out/23* | Média Histórica | O que representa (mês de referência) |
DEMANDA | 53,3 | 51,5 | 55,3 | Expectativa de aumento |
NÚMERO DE EMPREGADOS | 49,9 | 49,6 | 50,3 | Expectativa de queda |
COMPRAS DE MATÉRIAS-PRIMAS | 51,4 | 50,3 | 53,4 | Expectativa de aumento |
QUANTIDADE EXPORTADA | 51,8 | 51,5 | 52,4 | Expectativa de aumento |
INTENÇÃO DE INVESTIR | 52,6 | 51,5 | 51,3 | Menor intenção de investir |
Perfil da Amostra: 197 empresas, sendo 43 pequenas, 69 médias e 85 grandes.
Período de Coleta: 03 a 13/10/2023.
A Sondagem Industrial do RS é elaborada pela Unidade de Estudos Econômicos (FIERGS) em conjunto com Unidade de Política Econômica da CNI. As informações solicitadas são de natureza qualitativa e resultam do levantamento direto com base em questionário próprio. Cada pergunta permite cinco alternativas excludentes a respeito da evolução ou expectativa de evolução da variável em questão. As alternativas estão associadas, da pior para a melhor, aos escores 0, 25, 50, 75 e 100. As perguntas relativas ao nível de atividade, a evolução dos estoques tem como referência o mês anterior. As perguntas relativas a UCI usual e a estoques planejados/desejados tem como referência o próprio mês. As perguntas relativas à situação financeira, margens de lucro, acesso ao crédito e os principais problemas referem-se ao trimestre. As questões de expectativas referem-se aos próximos seis meses. O indicador de cada questão é obtido ponderando-se os escores pelas respectivas frequências relativas das respostas. Os resultados gerais para cada uma das perguntas são obtidos mediante a ponderação dos índices dos grupos de empresas “Pequenas” (entre 10 a 49 empregados), “Médias” (entre 50 e 249 empregados) e “Grandes” (250 empregados ou mais) utilizando-se como peso a variável segundo a EE/TEM competência 2009. A metodologia de geração das amostras é a Amostragem Probabilística de Proporções. O tamanho da amostra do RS baseou-se no critério de porte das empresas com margem de erro de 10% e Nível de confiança de 90%.
Unidade de Estudos Econômicos
Contatos: (51) 3347-8731 | [email protected]
Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul | https://observatoriodaindustriars.org.br/