Março e 1º trimestre de 2024

Sondagem Industrial do Rio Grande do Sul

Demanda interna fraca diminui o otimismo da indústria

A Sondagem Industrial do RS mostrou que o cenário permaneceu negativo para o setor em março. A produção industrial ficou praticamente estável, a UCI continuou abaixo do usual e os estoques, em níveis excessivos. A nota positiva do mês foi o segundo crescimento seguido do emprego. A indústria gaúcha segue sob a influência da fraca demanda doméstica, principal entrave na avaliação dos empresários, além da elevada carga tributária, da falta ou alto custo da mão de obra qualificada, dos juros elevados e da insegurança jurídica. Nesse cenário, as condições financeiras das empresas se deterioraram no primeiro trimestre e as expectativas dos empresários ficaram menos otimistas, o que deve afetar o emprego e as decisões de investimentos no curto prazo.

Segundo a Sondagem, a produção industrial gaúcha registrou pequena alta, quase uma estabilidade, em março relativamente a fevereiro. O índice de produção registrou 50,3 pontos, muito próximo de 50, marca que separa crescimento de queda. O desempenho da produção ficou abaixo do esperado para o mês, que tem como média histórica 52,8 pontos (sem março de 2020), o que significa que a produção tende a crescer no período.

O emprego, por sua vez, registrou a segunda alta consecutiva em março, após cair ininterruptamente entre outubro de 2022 e janeiro de 2024. O índice do mês foi 51,4 pontos, valor acima da sua média histórica (50,1 pontos) para o mês, mostrando que a estabilidade é o comportamento esperado entre os meses de fevereiro e março. Os dois índices variam de zero a cem pontos. Quando estão acima dos 50 pontos, indicam aumento da produção e do emprego em relação ao mês anterior.

Volume de Produção no mês

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS.

Número de empregados no mês

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS.
Os dois índices variam de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima (abaixo) de 50 representam crescimento (queda) em relação ao mês anterior.

A indústria gaúcha utilizou 70,0% de sua capacidade instalada (UCI) em março de 2024, repetindo o grau médio de fevereiro e próximo do padrão histórico (70,7%) para o mês. Os empresários, contudo, a consideraram abaixo do normal para março. O índice de UCI em relação à usual registrou 44,4 pontos, inferior a 50, o que indica UCI abaixo do nível normal. Vale ressaltar, porém, que é o maior valor em um ano, mostrando que a utilização em março foi, na avaliação dos empresários, a mais próxima do normal nos últimos doze meses.

Utilização da capacidade instalada – Grau médio no mês

(Em %)

Fonte: UEE/FIERGS.

Utilização da capacidade instalada (UCI) em relação à usual no mês

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. Nota: O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam utilização acima (abaixo) do usual para o mês.

Os estoques de produtos finais permaneceram em alta no mês de março, ainda acima do planejado pela indústria gaúcha. O índice de evolução mensal ficou em 52,7 pontos, mostrando, acima de 50, nova expansão dos estoques. Já o índice de estoques em relação ao planejado registrou, em março, praticamente o mesmo que em fevereiro: 51,5 pontos, ou seja, os estoques continuam acima do planejado pelas empresas.

Evolução de estoques de produto final no mês

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. Nota: O índice varia de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima (abaixo) de 50 representam crescimento (queda) em relação ao mês anterior.

Índice de estoque efetivo em relação ao planejado

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam que os estoques estão acima (abaixo) do planejado no mês.

A Sondagem, no seu bloco trimestral, mostrou que o quadro mais deteriorado comprometeu as condições financeiras das indústrias nos primeiros três meses de 2024. Os empresários gaúchos consideraram ruins as margens de lucros e as condições financeiras das empresas, com os respectivos índices recuando 1,6 ponto (43,1) e 2,4 pontos (49,3), respectivamente, em relação ao trimestre anterior. Abaixo de 50 pontos, os dois índices retratam insatisfação. As empresas também perceberam condições mais adversas para acessar o crédito e o aumento mais intenso nos preços das matérias-primas. O índice do primeiro recuou de 44,5 para 41,1 pontos e do segundo cresceu de 53,5 para 55,7 pontos entre o último trimestre de 2023 e o primeiro de 2024.

Índice de satisfação com a situação financeira

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS

Índice de satisfação com a margem de lucro

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS.
Os dois índices variam de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima (abaixo) de 50 indicam satisfação (insatisfação) no trimestre.

Índice de facilidade para acessar o crédito

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam facilidade (dificuldade) para acessar o crédito no trimestre.

Índice de evolução do preço da matéria-prima

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam aumento (queda) de preços no trimestre.

Ainda no bloco trimestral, a Sondagem revelou que os dois principais problemas da indústria gaúcha permanecem os mesmos desde o terceiro trimestre de 2023. A demanda interna insuficiente continua em primeiro lugar há cinco trimestres, com 40,2% das menções (39,4%) no trimestre anterior), seguida pela elevada carga tributária, que ganhou 6,6 p.p. em relação ao último trimestre de 2023, passando de 32,0% para 38,6%.

A falta de trabalhador qualificado foi o terceiro maior obstáculo e o que mais cresceu no período: 7,4 p.p. de 14,9% para 22,3% das respostas, o maior percentual desde o primeiro trimestre de 2015. As taxas de juros perderam relevância relativa e caíram do terceiro lugar no trimestre anterior para o quarto no primeiro trimestre de 2024: de 26,3% para 20,7% das assinalações. A insegurança jurídica ficou no quinto posto, assinalada por 19,0% das empresas, o maior percentual já recebido na pesquisa.

Entre os principais problemas, destaque ainda para as expansões, entre o quarto trimestre de 2023 e o primeiro de 2024, dos itens falta ou alto custo da matéria-prima (+4,3 p.p. para 16,9%, sétimo lugar no ranking) e competição com importados (+6,0 p.p para 16,3%), oitavo lugar).

Principais problemas enfrentados no trimestre

(Percentual de respostas)

TRIMESTRE
4º/20231º/2024
Demanda interna insuficiente39,4%40,2%
Elevada carga tributária32,0%38,6%
Falta ou alto custo de trabalhador qualificado14,9%22,3%
Taxas de juros elevadas26,3%20,7%
Insegurança jurídica17,7%19,0%
Burocracia excessiva14,9%17,4%
Falta ou alto custo da matéria-prima12,6%16,9%
Competição com importados10,3%16,3%
Competição desleal16,6%14,7%
Falta de capital de giro13,7%13,6%
Demanda externa insuficiente15,4%13,0%
Inadimplência dos clientes13,7%12,0%
Falta de financiamento de longo prazo6,9%7,1%
Taxa de câmbio5,7%7,1%
Dificuldades na logística de transporte6,9%4,4%
Nenhum3,4%3,8%
Falta ou alto custo de energia7,4%2,7%
Outros2,3%2,7%
Fonte: UEE/FIERGS. Nota: A soma dos parcentuais supera 100% devido à possibilidade de múltipla escolha.

Para os próximos seis meses, as expectativas dos empresários gaúchos, apuradas em abril de 2024, também foram afetadas pelo cenário mais desfavorável, registrando quedas em todos os índices na comparação com março. Os índices de demanda (de 56,0 para 54,7 pontos), de compras de matérias-primas (de 54,9 para 52,2 pontos) e de exportações (de 53,5 para 50,3 pontos) seguiram no campo positivo. Os empresários gaúchos, contudo, voltaram a projetar redução do emprego (de 52,8 para 49,5 pontos). Os valores variam de zero a 100 pontos, indicando que os empresários projetam aumento (queda) quando acima (abaixo) de 50.

Índice de expectativas de demanda

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS.

Índice de expectativas de emprego

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS.

Índice de expectativas de compras de matérias-primas

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS.

Índice de expectativas de exportações

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS.
Os índices variam de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima (abaixo) de 50 indicam expectativas de crescimento (queda).

Com o menor otimismo em abril, a indústria do RS se mostrou menos disposta a fazer investimentos. O índice de intenção de investimentos recuou 1,7 ponto em abril na comparação com março e ficou em 52,5. O valor é 1,1 ponto superior à média histórica, mas também o mais baixo em cinco meses. O índice também varia de zero a 100 pontos. Quanto menor o valor, menor e menos disseminada a intenção de investir entre as empresas. Em abril de 2024, 55,7% das empresas mostravam disposição de investir no semestre seguinte (eram 58,1% em março). Em abril, 55,7% das empresas mostravam disposição de investir no semestre seguinte (eram 58,1% em março).  

Intenção de Investir

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Quanto menor o índice, menor a propensão a investir.
Evolução Mensal
IndicadorFev/24Mar/24*Média Histórica O que representa
(mês de referência)
PRODUÇÃO52,550,349,2Aumento da produção
NÚMERO DE EMPREGADOS51,051,448,8Aumento do emprego
UTIL. DA CAP. INSTALADA (UCI) – %70,070,070,1Estabilidade da UCI
UCI EFETIVA-USUAL43,544,443,7UCI abaixo do nível usual
EVOLUÇÃO DOS ESTOQUES52,152,750,6Aumento dos estoques
ESTOQUE EFETIVO-PLANEJADO51,651,551,7Estoques acima do planejado
Fonte: UEE/FIERGS – Mês de referência – Março de 2024.
Condição Financeira no Trimestre
Indicador4ºT/231°T/24Média Histórica O que representa
(período de referência)
MARGEM DE LUCRO OPERACIONAL44,743,142,0Margem de lucro insatisfatória
SITUAÇÃO FINANCEIRA51,749,348,1Situação insatisfatória
ACESSO AO CRÉDITO44,541,141,1Acesso ao crédito difícil
PREÇO MÉDIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS53,555,764,3Aumento dos preços
Fonte: UEE/FIERGS – Período de referência – 1ºT/2024
Expectativas – Próximos Seis Meses
IndicadorMar/24Abr/24*Média Histórica O que representa
(mês de referência)
DEMANDA56,054,755,2Expectativa de aumento
NÚMERO DE EMPREGADOS52,849,550,3Expectativa de queda
COMPRAS DE MATÉRIAS-PRIMAS54,952,253,4Expectativa de aumento
QUANTIDADE EXPORTADA53,550,352,4Expectativa de aumento
INTENÇÃO DE INVESTIR54,252,551,4Menor intenção de investir
Fonte: UEE/FIERGS – Mês de referência – Abril de 2024

Perfil da Amostra: 184 empresas, sendo 40 pequenas, 66 médias e 78 grandes.

Período de Coleta: 1º a 09/04/2024.

A Sondagem Industrial do RS é elaborada pela Unidade de Estudos Econômicos (FIERGS) em conjunto com Unidade de Política Econômica da CNI. As informações solicitadas são de natureza qualitativa e resultam do levantamento direto com base em questionário próprio. Cada pergunta permite cinco alternativas excludentes a respeito da evolução ou expectativa de evolução da variável em questão. As alternativas estão associadas, da pior para a melhor, aos escores 0, 25, 50, 75 e 100. As perguntas relativas ao nível de atividade, a evolução dos estoques tem como referência o mês anterior. As perguntas relativas a UCI usual e a estoques planejados/desejados tem como referência o próprio mês. As perguntas relativas à situação financeira, margens de lucro, acesso ao crédito e os principais problemas referem-se ao trimestre. As questões de expectativas referem-se aos próximos seis meses. O indicador de cada questão é obtido ponderando-se os escores pelas respectivas frequências relativas das respostas. Os resultados gerais para cada uma das perguntas são obtidos mediante a ponderação dos índices dos grupos de empresas “Pequenas” (entre 10 a 49 empregados), “Médias” (entre 50 e 249 empregados) e “Grandes” (250 empregados ou mais) utilizando-se como peso a variável segundo a EE/TEM competência 2009. A metodologia de geração das amostras é a Amostragem Probabilística de Proporções. O tamanho da amostra do RS baseou-se no critério de porte das empresas com margem de erro de 10% e Nível de confiança de 90%.

Unidade de Estudos Econômicos

Contatos: (51) 3347-8731 | economia@fiergs.org.br

Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul | https://observatoriodaindustriars.org.br/

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