Informe Econômico

Ano 26 – Número 18 – 13 de maio de 2023

Catástrofe Climática no Rio Grande do Sul: Panorama Econômico dos municípios atingidos

O Rio Grande do Sul atravessa a maior catástrofe climática de sua história. As chuvas em volumes excessivos, que começaram a atingir o estado no final de abril e prosseguem em maio, provocaram enchentes, deslizamentos de encostas e destruição em diversas regiões. As situações de risco enfrentadas pelos municípios do Estado decorrentes desses eventos meteorológicos estão ocasionando danos humanos – com a perda de vidas –, e danos materiais e ambientais – com a destruição de moradias, estradas e pontes –, assim como o comprometimento do funcionamento de instituições públicas locais e regionais e a interdição de vias públicas.

Em boletim divulgado pela Defesa Civil, com dados até segunda-feira (13/05) às 9 horas, eram 147 óbitos confirmados, 80.826 pessoas em abrigos, 538.241 desalojados, 2.115.703 afetados, 806 feridos e 127 desaparecidos. Esses números já apresentaram aumento e devem continuar crescendo significativamente. O estado de calamidade pública foi decretado no Rio Grande do Sul no dia 1º de maio, afetando 447 municípios, o que corresponde a 89,9% dos 497 municípios do Estado. Os locais mais atingidos incluem os principais polos industriais do Rio Grande do Sul, impactando segmentos significativos para a economia do Estado.

As perdas econômicas são inestimáveis no momento. Uma infinidade de empresas teve suas dependências completamente comprometidas. Além dos danos gigantescos de capital, os problemas logísticos devem afetar de forma significativa todas as cadeias econômicas do Estado. Em boa parte dos casos, não será apenas necessário realizar o trabalho de desobstrução, mas de reconstrução de estradas, pontes, vias férreas e até mesmo o principal aeroporto do Estado está com suas instalações comprometidas. Como consequência inevitável do caos que se instalou em solo gaúcho, muitos postos de trabalho serão fechados.

A fim de melhor compreender os efeitos sobre o estado do Rio Grande do Sul, dividimos o estado em 10 regiões econômicas que melhor contemplam as peculiaridades produtivas da região: Metropolitana, Vale dos Sinos, Serra, Serra Centro, Vale do Taquari, Central, Planalto, Missões, Campanha e Sul. Além disso, utilizamos o critério mais recente até esta data adotado pelo Governo do Estado para caracterizar os municípios considerados atingidos pelas cheias dos rios. Abaixo, a tabela consolida as principais informações econômicas disponíveis:

Dados econômicos dos municípios afetados pelas enchentes do Rio Grande do Sul em 2024, por região

Regiões*Municípios afetadosVAB Total
(2021 | Em bilhões R$)
VAB Indústria
(2021 | Em bilhões R$)
Número de Indústrias
(2022 | Em milhares)
Número de Empregos da Indústria
(2022 | Em milhares)
Transformação
(2023 | Em milhões US$) 
Arrecadação ICMS Indústria
(2023 | Em milhões R$)
População
 (2022 | Em milhares)
Metropolitana30108,217,08,0128,43.225,63.107,32.631,2
Vale dos Sinos2564,724,59,1183,61.811,05.329,41.548,1
Serra2146,814,86,6121,21.073,03.515,4868,0
Serra Centro3619,97,93,964,4606,41.718,6367,5
Vale do Taquari5135,816,34,083,52.050,22.052,5568,1
Central4638,36,73,553,53.095,11.301,7929,9
Planalto9446,49,65,578,42.747,03.097,3882,7
Missões8747,47,63,953,91.474,81.781,7872,1
Campanha2826,12,41,416,9147,1467,8612,3
Sul2940,19,72,434,73.738,11.911,8951,8
Regiões Atingidas447473,6116,448,3818,319.968,424.283,410.232
Total RS497502,1121,150,6851,920.457,025.054,810.883
Prop. em relação ao RS (em %)89,994,396,195,696,197,696,994,0
Fonte: IBGE, RAIS/MTE, SECEX/ME, Receita Estadual RS.
*Considerando apenas os municípios afetados, conforme o Relatório da Defesa Civil de 13 de maio às 9 horas <https://www.estado.rs.gov.br/defesa-civil-atualiza-balanco-das-enchentes-no-rs-13-5-9h>.

Como se pode ver na tabela, as regiões com o maior número de municípios atingidos até o dia 13 de maio foram as regiões Planalto (94), Missões (87), Vale do Taquari (51) e Central (46). Ali estão contidos os municípios de Passo Fundo, Erechim, Santa Maria e Santa Cruz do Sul. No tocante à população potencialmente atingida, as regiões Região Metropolitana (2,6 milhões) e do Vale dos Sinos (1,5 milhões) despontam como as potencialmente mais afetadas, muito em razão dos seus populosos municípios às margens de rios e lagos. Em relação à atividade econômica, as quatro regiões com maiores municípios com Valor Adicionado Bruto (VAB)[1] potencialmente afetado eram: Metropolitana (R$ 108 bilhões), Vale dos Sinos (R$ 65 bilhões), Serra (R$ 47 bilhões) e Planalto (R$ 46 bilhões). Em relação ao VAB da Indústria, as regiões com maior atividade industrial potencialmente atingida eram: Vale dos Sinos (R$ 25 bilhões), Metropolitana (R$ 17 bilhões), Vale do Taquari (R$ 16 bilhões) e Serra (R$ 15 bilhões).

No tocante aos estabelecimentos industriais, as regiões com a maior quantidade de Indústrias no RS em municípios afetados eram: Vale dos Sinos (9,1 mil), Metropolitana (8,0 mil) e Serra (6,6 mil). Quanto aos empregos na Indústria, as regiões com maior número de trabalhadores potencialmente afetados são: Vale dos Sinos (184 mil), Metropolitana (128 mil) e Serra (121 mil). Ainda, quanto às exportações da Indústria de Transformação em cidades potencialmente afetadas, as regiões Sul (R$ 3,7 bilhões), Metropolitana (US$ 3,2 bilhões), Central (US$ 3,1 bilhões) e Planalto (US$ 2,7 bilhões) se destacam. Por fim, as regiões com maior impacto potencial sobre a arrecadação de ICMS em estabelecimentos industriais foram Vale dos Sinos (R$ 5,3 bilhões), Serra (R$ 3,5 bilhões) e Metropolitana (R$ 3,1 bilhões).

Desde o início das enchentes, 447 municípios (cerca de 90% do total do estado) já foram atingidos em algum grau pela catástrofe. Nestes municípios, residem 10,2 milhões de gaúchos, de modo que 94% da população gaúcha já foi atingida de alguma maneira pelas cheias do mês de maio. Além disso, os municípios considerados afetados representam 94,3% do VAB do Rio Grande do Sul, 96,1% do VAB industrial, 95,6% dos estabelecimentos industriais, 96,1% dos empregos industriais, 97,1% das exportações da Indústria de Transformação e 96,9% da arrecadação de ICMS com atividades industriais.

Diante desses números, fica evidente o potencial impacto avassalador das recentes inundações no Rio Grande do Sul sobre diversos aspectos econômicos, refletindo-se em uma ampla gama de indicadores. Entretanto, é crucial ressaltar que os efeitos desse desastre natural ainda estão em curso, especialmente considerando a atual devastação que continua assolando a Zona Sul do estado. Nesse sentido, os números apresentados aqui representam apenas uma parte do quadro potencial completo, pois nem todas as localidades foram atingidas do mesmo modo. Assim, nos próximos dias, será possível começar a estimar o verdadeiro impacto gerado pela tragédia em curso, à medida que mais dados forem disponibilizados e a extensão total das enchentes for melhor compreendida.


[1] O Valor Adicionado Bruto (VAB) é resultado da diferença entre o valor da produção e o consumo intermediário. É o valor que cada setor da economia (agropecuária, indústria e serviços) acresce ao valor final de tudo que foi produzido em uma região. O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma dos VABs setoriais e dos impostos, e é a principal medida do tamanho total de uma economia.


Atividade industrial encerrou primeiro trimestre em queda

O Índice de Desempenho Industrial gaúcho (IDI/RS) não sustentou a recuperação dos dois primeiros meses do ano e caiu 4,1% em março relativamente a fevereiro, na série com ajuste sazonal, devolvendo grande parte do avanço (+5,4%) observado entre os meses de fevereiro e janeiro. Com isso, em março de 2024, o índice retorna aos níveis de setembro de 2023, isto é, 11,1% abaixo de agosto de 2022 e somente 1,7% acima de julho de 2023. Meses em que, respectivamente, o índice atingiu o ponto máximo e mínimo mais próximos.

Quatro dos seis indicadores que compõem o IDI/RS caíram em março. A intensidade da taxa negativa do índice refletiu, sobretudo, os desempenhos do faturamento real (-6,8%) e das compras industriais (-4,7%), que voltaram a cair com força após dois e três meses consecutivos de alta, respectivamente. Em menor medida, também recuaram a utilização da capacidade instalada-UCI (-1,0 p.p.), que atingiu grau médio de 79,3%, e do emprego (-0,3%), que não cresce na margem há 11 meses. Por outro lado, as horas trabalhadas na produção (+0,3%) e a massa salarial real (+0,6%) seguiram em alta, crescendo pelo terceiro mês seguido em março.

Índice de desempenho industrial (IDI-RS)

(Índice de base fixa mensal – 2006=100)

Fonte: UEE/FIERGS.

As taxas interanuais em março foram as menores do ano, o que significa aceleração no ritmo de queda da atividade industrial. Na comparação com o mesmo mês de 2023, o IDI/RS recuou 6,7%, fechando o primeiro trimestre de 2024 com baixa de 3,5% ante o mesmo período do ano passado, quase o dobro da perda apurada nos dois primeiros meses (-1,8%).

Nessa base, somente a massa salarial real, entre os componentes do IDI/RS, mostrou crescimento: +2,9% ante o primeiro trimestre de 2023. A UCI, por sua vez, ficou estável, com a indústria ocupando em média de 78,8% de sua capacidade produtiva em 2024. Baixas intensas, porém, foram observadas no faturamento real (-7,6%), nas compras industriais (-6,5%) e nas horas trabalhadas da produção (-4,4%). Nesse cenário, o emprego industrial também recuou: -1,5% ante o primeiro trimestre de 2023.

Indicadores Industriais do Rio Grande do Sul – Março de 2024

Variação %
Regiões*Mês anteriorMês ano anteriorAc. Ano
índice de desempenho industrial-4,1-6,7-3,5
Faturamento real-6,8-13,0-7,6
Horas trabalhadas na produção0,3-7,9-4,4
Emprego-0,3-1,6-1,5
Massa salarial real0,64,52,9
UCI (em p.p.)-1,0-0,80,1
Compras industriais-4,7-12,2-6,5
Fonte: UEE/FIERGS. *Série dessazonalizada

O primeiro trimestre do ano encerrou com queda generalizada na atividade industrial, atingindo 10 dos 16 setores pesquisados na comparação com igual período de 2023. Máquinas e equipamentos (-11,3%), Couros e calçados (-4,8%) e Alimentos (-3,3%) foram os principais setores responsáveis pelo recuo. Entre as altas, destaque para Veículos automotores (+2,0%), Químicos, refino de petróleo e biocombustíveis (+5,6%) e Tabaco (+20,7%).

Índice de desempenho industrial do RS – Setorial

(Variação jan-mar 2024/23 – %)

Fonte: UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20202021202220232024*
Agropecuária4,20,0-1,115,10,5
Indústria-3,05,01,51,61,3
Serviços-3,74,84,32,41,7
Total-3,34,83,02,91,5
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20202021202220232024*
Em R$7,6109,0129,91510,85611,482
Em US$21,4761,6701,9202,1702,295
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS.

Inflação (% a.a.)

20202021202220232024*
IGP-M 23,117,85,5-3,24,0
INPC5,410,25,93,74,1
IPCA4,510,15,84,64,1
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20202021202220232024*
Extrativa Mineral-3,41,0-3,27,01,7
Transformação-4,64,3-0,4-1,01,1
Indústria Total3-4,53,9-0,70,21,4
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20202021202220232024*
Agropecuária37146643530
Indústria143720441286221
Indústria de Transformação45439214103109
Construção9524519315999
Extrativa e SIUP4436352413
Serviços-3721.9141.5081.163706
Total-1922.7802.0131.484956
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20202021202220232024*
Fim do ano14,211,17,97,47,6
Média do ano13,813,29,38,07,9
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20202021202220232024*
Exportações209,2280,8334,1339,7336,8
Importações158,8219,4272,6240,8241,6
Balança Comercial50,461,461,598,895,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Moeda e Juros

20202021202220232024*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)2,009,2513,7511,759,50
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)5,205,585,224,845,08
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS.

Setor Público (% do PIB)

20202021202220232024*
Resultado Primário-9,20,71,3-2,3-1,2
Juros Nominais-4,1-5,0-5,9-6,6-6,3
Resultado Nominal-13,3-4,3-4,6-8,9-7,5
Dívida Líquida do Setor Público61,455,857,160,564,5
Dívida Bruta do Governo Geral86,978,372,974,979,2
*Projeção UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20202021202220232024*
Agropecuária-29,653,0-41,716,337,1
Indústria-6,18,11,6-4,01,8
Serviços-5,04,43,82,71,5
Total-7,29,32,81,74,7
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20202021202220232024*
Em R$470,942581,284592,683640,299697,880
Em US$291,317107,747114,752128,189140,983
*Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20202021202220232024*
Agropecuária27311
Indústria-14729-96
Indústria de Transformação04322-65
Construção-157-21
Extrativa e SIUP30-11-10
Serviços-4290685514
Total-411441004721
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20202021202220232024*
Fim do ano8,68,14,65,25,0
Média do ano9,38,76,15,35,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20202021202220232024*
Exportações14,121,122,622,323,0
Indústria de Transformação10,414,417,716,817,1
Importações7,611,716,013,815,4
Balança Comercial6,59,46,68,57,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20202021202220232024*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)36,245,743,344,746,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Indicadores Industriais (% a.a.)

20202021202220232024*
Faturamento real-3,18,95,9-7,22,1
Compras industriais-5,531,2-0,5-14,87,5
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)-4,55,7-0,7-3,31,0
Massa salarial real-9,05,310,92,80,6
Emprego-1,96,75,9-0,80,2
Horas trabalhadas na produção-5,515,28,4-3,51,5
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS-4,712,94,1-5,62,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20202021202220232024*
Produção Física Industrial4 (% a.a.)-5,59,01,1-4,72,3
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Não houve alterações nas projeções de 2024.
Economia Gaúcha: Não houve alterações nas projeções de 2024.

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