A Sondagem Industrial do RS de maio mostrou que as enchentes que atingiram o estado provocaram uma contração de dimensões históricas na produção e na utilização da capacidade instalada. Para os próximos seis meses, as expectativas dos empresários apontaram estabilidade da demanda, mas com redução do emprego e das exportações. Paradoxalmente, nesse cenário, a intenção de investir aumentou, possivelmente pela necessidade diante das perdas causadas pelas enchentes.
Como esperado, a produção industrial gaúcha caiu intensamente em maio com os impactos das enchentes. O índice de evolução atingiu 33,8 pontos, o menor valor já apurado para o mês, 13,6 pontos abaixo da média histórica dos meses de maio (47,4). O índice varia de zero a 100 pontos, abaixo de 50 indica queda da produção ante o mês anterior, que será mais intensa e disseminada quanto mais distante estiver desta marca. Apenas em março (30,5) e abril de 2020 (24,1), quando enfrentava os efeitos iniciais e mais intensos da pandemia de Covid-19, a produção caiu tanto e tão disseminadamente. Em maio de 2024, mais da metade das empresas (55,5%) relataram redução da produção ante abril, sendo que, para 35,5% destas (19,5% do total das empresas) a queda foi acentuada.
O emprego industrial, da mesma forma, caiu em maio – índice de 47,0 pontos – de forma mais intensa do que em abril (49,6 pontos), mas não destoou muito do comportamento esperado para o mês (média histórica de 47,9 pontos). O índice de número de empregados também varia de 0 a 100, com linha de corte em 50 pontos, os dados abaixo desse valor indicam queda na comparação com o mês anterior.
Volume de Produção no mês
(Em pontos)
Número de empregados no mês
(Em pontos)
Nota: Os dois índices variam de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima (abaixo) de 50 representam crescimento (queda) em relação ao mês anterior. |
Assim como a produção, a utilização da capacidade instalada (UCI) da indústria gaúcha recuou com força em maio, atingindo 57,0%: -14 p.p. na comparação com abril (71,0%). O grau médio também ficou 11,1 p.p. abaixo da ocupação média histórica do mês (68,1%) e só é maior que a UCI dos meses de abril (49,0%) e maio de 2020 (56,0%). No mesmo sentido, o índice em relação à UCI usual registrou 32,5 pontos, o valor mais baixo desde maio de 2020. Nesse caso, valores inferiores a 50 revelam que, na percepção dos empresários, a UCI ficou abaixo do normal para o mês. Quanto menor, mais distante.
Utilização da capacidade instalada – Grau médio no mês
(Em %)
Utilização da capacidade instalada (UCI) em relação à usual no mês
(Em pontos)
A intensa contração da produção gerou uma redução dos estoques de produtos finais que também ficaram abaixo do desejado pelas empresas em maio. No mês, o índice de evolução mensal atingiu 46,0 pontos, sendo que abaixo de 50 denota recuo ante o mês anterior.
Já o índice de estoques em relação ao planejado ficou em 47,7 pontos, o menor valor desde dezembro de 2020, quando a indústria gaúcha exibia forte recuperação e a escassez de insumos e matérias-primas como consequência da pandemia. Nesse caso, inferior a 50, o índice revelou que os estoques ficaram abaixo do planejado pelas empresas.
índice de evolução mensal dos estoques
(Em pontos)
Índice de estoque efetivo em relação ao planejado
(Em pontos)
A Sondagem apontou ainda que as perspectivas da indústria gaúcha para os próximos seis meses, entre neutras e pessimistas em junho, pouco se alteraram em relação a maio, quando sofreram os efeitos imediatos das enchentes. Os índices também variam de zero a 100 pontos. Valores abaixo de 50 indicam expectativa de redução e acima, de aumento. O índice de demanda registrou 49,9 pontos em junho, o que significa que os empresários esperam uma estabilidade na demanda pelos seus produtos nos próximos seis meses. Já as projeções dos empresários para o número de empregados (48,1 pontos), para as compras de matérias-primas (47,9 pontos) e para as exportações (48,1 pontos) são de queda.
Índice de expectativas de demanda
(Em pontos)
Índice de expectativas de emprego
(Em pontos)
Índice de expectativas de compras de matérias-primas
(Em pontos)
Índice de expectativas de exportações
(Em pontos)
Nota: Os índices variam de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima (abaixo) de 50 indicam expectativas de crescimento (queda). |
Paradoxalmente e possivelmente pela necessidade diante das perdas com as enchentes, os empresários se mostraram mais dispostos a investir nos próximos seis meses. O índice de intenção de investir atingiu 54,9 pontos em junho, 4,6 e 3,5 pontos acima, respectivamente, de maio – maior alta desde agosto de 2020 – e da média histórica, voltando a crescer após dois meses seguidos de redução. Sem linha divisória nos 50 pontos, o índice vai de zero a 100, quanto maior, maior e mais disseminada é a intenção de investir. Em junho, quase seis em cada dez empresas (59,7%) tinham pretensão de realizar investimentos nos seis meses seguintes.
Intenção de Investir
(Em pontos)
Evolução Mensal da Indústria | ||||
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Indicador | Abr//24 | Mai/24* | Média Histórica | O que representa (mês de referência) |
PRODUÇÃO | 52,0 | 33,8 | 49,1 | Queda da produção |
NÚMERO DE EMPREGADOS | 49,6 | 47,0 | 48,8 | Queda do emprego |
UTIL. DA CAP. INSTALADA (UCI) – % | 71,0 | 57,0 | 70,0 | Queda da UCI |
UCI EFETIVA-USUAL | 44,2 | 32,5 | 43,7 | UCI abaixo do nível usual |
EVOLUÇÃO DOS ESTOQUES | 51,9 | 46,0 | 50,6 | Queda dos estoques |
ESTOQUE EFETIVO-PLANEJADO | 51,6 | 47,7 | 51,7 | Estoques abaixo do planejado |
Expectativas – Próximos Seis Meses | ||||
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Indicador | Mai/24 | Jun/24* | Média Histórica | O que representa (mês de referência) |
DEMANDA | 49,2 | 49,9 | 55,1 | Expectativa de queda |
NÚMERO DE EMPREGADOS | 46,3 | 48,1 | 50,3 | Expectativa de queda |
COMPRAS DE MATÉRIAS-PRIMAS | 47,9 | 47,9 | 53,3 | Expectativa de queda |
QUANTIDADE EXPORTADA | 48,2 | 48,1 | 52,3 | Expectativa de queda |
INTENÇÃO DE INVESTIR | 50,3 | 54,9 | 51,4 | Intenção de investir maior |
Perfil da Amostra: 164 empresas, sendo 33 pequenas, 57 médias e 74 grandes.
Período de Coleta: 4 a 12/06/2024.
A Sondagem Industrial do RS é elaborada pela Unidade de Estudos Econômicos (FIERGS) em conjunto com a Unidade de Política Econômica da CNI. As informações solicitadas são de natureza qualitativa e resultam do levantamento direto com base em questionário próprio. Cada pergunta permite cinco alternativas excludentes a respeito da evolução ou expectativa de evolução da variável em questão. As alternativas estão associadas, da pior para a melhor, aos escores 0, 25, 50, 75 e 100. As perguntas relativas ao nível de atividade, a evolução dos estoques tem como referência o mês anterior. As perguntas relativas a UCI usual e a estoques planejados/desejados tem como referência o próprio mês. As perguntas relativas à situação financeira, margens de lucro, acesso ao crédito e os principais problemas referem-se ao trimestre. As questões de expectativas referem-se aos próximos seis meses. O indicador de cada questão é obtido ponderando-se os escores pelas respectivas frequências relativas das respostas. Os resultados gerais para cada uma das perguntas são obtidos mediante a ponderação dos índices dos grupos de empresas “Pequenas” (entre 10 a 49 empregados), “Médias” (entre 50 e 249 empregados) e “Grandes” (250 empregados ou mais) utilizando-se como peso a variável segundo a EE/TEM competência 2009. A metodologia de geração das amostras é a Amostragem Probabilística de Proporções. O tamanho da amostra do RS baseou-se no critério de porte das empresas com margem de erro de 10% e Nível de confiança de 90%.
Unidade de Estudos Econômicos
Contatos: (51) 3347-8731 | [email protected]
Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul | https://observatoriodaindustriars.org.br/