Sumário Executivo
O ano de 2022 foi caracterizado por grandes eventos nos cenários interno e externo que mudaram a trajetória inicialmente esperada para a economia. O abrandamento da pandemia nos países do Ocidente e a invasão da Ucrânia serão os dois acontecimentos mais lembrados, que desencadearam uma série de impactos na economia mundial, como a crise energética, a aceleração da inflação e o aperto nas taxas de juros, conjuntura há muito tempo não vista nos países desenvolvidos. Além disso, a economia chinesa afetou o crescimento global com o seu ciclo econômico muito particular, influenciado por uma crise no setor imobiliário e um severo enfrentamento da pandemia baseado em grandes e rígidos lockdowns, a chamada política de “Covid Zero”. Nesse contexto, apesar da desaceleração em relação a 2021, a economia mundial deverá crescer 3,2% em 2022.
Na economia brasileira, o crescimento estimado em 2022 é de 3,1%, avanço muito acima do esperado no final do ano passado. Essa surpresa pode ser explicada, em grande medida, por três fatores: demanda reprimida e reabertura do setor de Serviços, impulso fiscal através de programas sociais e redução de impostos, e demanda externa ainda elevada. Assim, a atividade econômica permaneceu aquecida durante o ano, e, no primeiro trimestre, a economia do País retornou ao patamar do primeiro trimestre de 2014, pico histórico da série do PIB.
Na contramão dos resultados positivos da economia nacional, a economia do Rio Grande do Sul deve apresentar retração de 2,5% no PIB, por conta da estiagem que provocou a queda da produção agrícola. Assim, a taxa de crescimento esperada para o setor de Serviços e Indústria, ambas em linha com a nacional, não será suficiente para compensar os impactos da forte contração da Agropecuária.
Por sua vez, a Indústria apresentará um desempenho modesto em 2022, com resultados diversos entre os seus segmentos, mesmo diante da recuperação da economia brasileira. O PIB da Indústria brasileira (Transformação, Construção, Extrativa e os Serviços Industriais de Utilidade Pública) deve encerrar o ano com avanço de 1,5%, enquanto a Indústria gaúcha deve crescer 2,5%. O segmento de Transformação foi o mais afetado pela conjuntura turbulenta e pelos entraves nas cadeias de suprimentos, principalmente no primeiro semestre. Por outro lado, a Construção foi o destaque, em linha com ciclo de alta nos investimentos.
Algumas atividades industriais que apresentaram grande impulso no final de 2020 e 2021, tais como a de bens de consumo duráveis e não duráveis, mostraram estabilidade. Já os segmentos ligados a veículos automotores e bens de capital apresentaram crescimento mais robusto, em função da melhora relativa nas cadeias de suprimentos ao longo do ano. Na Indústria gaúcha, o complexo metalmecânico, mais uma vez, sustentou a alta da produção, especialmente, nos segmentos de Veículos Automotores, puxado por automóveis, e Máquinas e Equipamentos, em especial os tratores, máquinas e implementos agrícolas.
O mercado de trabalho brasileiro surpreendeu positivamente, com melhora nos indicadores de emprego e renda. A população ocupada atingiu nível recorde de 99,7 milhões de pessoas e o País deve concluir o ano com geração de 2,2 milhões de postos de trabalho com carteira assinada, sendo 106 mil na economia gaúcha. O mercado aquecido fez a taxa de desemprego do Brasil cair para 8,3% em outubro, o menor patamar desde abril de 2015, pouco mais de um ano e meio após o pico de 14,9% em março de 2021. A perspectiva é de taxa de desemprego no final do ano em 8,0% no Brasil e em 5,7% no RS. Como consequência da melhora no emprego formal, a renda apresentou recuperação, com a massa de rendimentos superando os níveis pré-pandemia e a renda média em trajetória de elevação.
A inflação arrefeceu mais do que o esperado. Após o IPCA atingir seu pico de crescimento no mês de abril, consequência dos impactos da guerra no Leste Europeu sobre os valores das commodities Energéticas e Agrícolas, a ação do Governo Federal em promulgar a PEC dos Combustíveis reverteu o cenário e trouxe consigo três meses seguidos de desinflação. O IPCA, que chegou a acumular alta de 12,1% no quarto mês do ano, encerrará 2022 em 5,8%. Em resposta à melhora do balanço de riscos e à redução das expectativas de inflação, o Banco Central optou por encerrar o ciclo de aperto monetário na reunião de setembro, mantendo a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. O ciclo iniciado em março de 2021 configurou o maior choque de juros no Brasil em 20 anos.
Perspectivas 2023. O crescimento esperado para 2023 encontra como obstáculo a tendência de acomodação no avanço do volume de Serviços. Pelo lado da política fiscal, há muita incerteza acerca do tamanho do gasto extra-teto que será aprovado, mas uma expansão das despesas na ordem de R$ 200 bilhões traria mais impactos negativos pela via financeira e da perda de confiança do que um ganho de crescimento em decorrência do maior consumo. Do ponto de vista do cenário externo, a expectativa de desaceleração, com riscos de recessão em países desenvolvidos, deve afetar a demanda por exportações. No mesmo sentido, a taxa de juros interna elevada produzirá os seus efeitos máximos sobre a economia durante o primeiro semestre.
Nesse cenário, as expectativas para 2023 são de desaceleração no crescimento, com a economia brasileira reduzindo seu ritmo de avanço para 1,0%. Esse crescimento pode ser encarado tanto como uma correção cíclica depois de dois anos de recuperação intensa, ou o início de uma estagnação. O resultado futuro vai depender da capacidade do novo Governo Federal e do Congresso Nacional sinalizar a continuidade da agenda de reformas e adotar medidas que garantam o equilíbrio das contas públicas e da dívida no longo prazo, de modo que a confiança seja sustentada, bem como criar um ambiente de estabilidade para que o Banco Central possa iniciar um ciclo de baixa dos juros o quanto antes. Caso contrário, o Brasil começará a flertar com riscos de uma estagflação: inflação elevada com atividade em desaceleração.
Para a economia do Rio Grande do Sul, a recuperação da produção agrícola deve resultar numa taxa de crescimento elevada. O aumento estimado na produção da safra de grãos é de 52,5%, conforme prognóstico do IBGE. A expectativa é alta de 5,0% da economia gaúcha. Esse desempenho aparenta ser elevado, mas isso coloca o nível do PIB do RS em 2023 apenas 2,4% acima do patamar de 2021, o equivalente a crescer a uma média de 1,2% em dois anos, o que é pouco e deixa o Rio Grande do Sul abaixo da média nacional.
As perspectivas para a Indústria não são muito diferentes de 2022. A produção industrial deve ter mais um ano de crescimento, embora baixo. A economia brasileira e a mundial devem desacelerar, a incerteza ficou maior, o ciclo de deflação terminou, e a política monetária deve seguir restritiva num quadro fiscal desafiador e de demanda externa menor. Tendo como únicos vetores positivos a normalização completa da cadeia de suprimentos e menores pressões sobre os custos, o PIB da Indústria brasileira e da gaúcha devem crescer, em 2023, 1,0% e 1,2%, respectivamente.
Nesse cenário, a geração de postos de trabalho tende a diminuir o ritmo no próximo ano, com projeção de abertura de 550 mil vagas com carteira assinada no País. No Rio Grande do Sul, espera-se a criação de 38 mil empregos, sendo 12 mil na Indústria. O saldo de vagas formais deve ser mais baixo do que nos anos anteriores em decorrência do menor crescimento esperado para a Indústria e os Serviços, os setores que, historicamente, concentram a geração de emprego no Estado. A perspectiva de baixo crescimento mundial, com reflexo nos preços de commodities, e o prognóstico de uma boa safra no ano que vem, favorecerem os níveis de inflação no Brasil, que deverá encerrar 2023 em 5,2%. No entanto, a possibilidade de maiores estímulos fiscais coloca um viés de alta em nossas projeções, principalmente pelos seus efeitos sobre os preços dos
Serviços, que ainda se encontram sem perspectivas de uma queda significativa para os próximos meses.
A incerteza sobre a condução da política fiscal e suas consequências sobre a percepção do risco-país devem apontar para um cenário mais volátil no ano que vem, colocando dúvidas sobre quando o Comitê de Política Monetária iniciará o ciclo de redução da taxa básica de juros. A única certeza que temos é que o movimento deve começar mais tarde, chegando ao final de 2023 em 12,75% ao ano. Essa conjuntura adversa irá se refletir em uma taxa de câmbio mais desvalorizada, a qual deverá encerrar 2023 em R$/US$ 5,35.
Por fim, a conjuntura é de desaceleração, mas a economia brasileira possui uma condição relativamente favorável para os próximos anos, colhendo os benefícios de um ciclo de reformas iniciado em 2016, projetos de investimento que estão em andamento e uma conjuntura internacional que coloca o País numa situação atrativa em relação aos seus pares. Nesse momento, percebe-se que os agentes encontram um ambiente de pouca visibilidade quanto aos projetos para a continuidade da agenda de modernização e competividade, o que se reflete em índices baixos de confiança. Assim, os primeiros seis meses de 2023 serão fundamentais para os empresários, consumidores e investidores fazerem suas projeções sobre o que esperar nesse novo ciclo. Como ponto de partida, a FIERGS sugere uma agenda que coloca a Indústria no centro do processo de desenvolvimento. O trabalho “A industrialização para voltar ao rumo do crescimento” foi apresentado para os eleitos no pleito desse ano.
Internacional
PIB real (%a.a.) | Inflação (% a.a.) | |||||
---|---|---|---|---|---|---|
2021 | 2022* | 2023* | 2021 | 2022* | 2023* | |
MUNDO | 6,0 | 3,2 | 2,7 | 2,6 | 4,7 | 3,5 |
AVANÇADOS | 5,2 | 2,4 | 1,1 | 0,5 | 3,5 | 1,9 |
Estados Unidos | 5,7 | 1,6 | 1,0 | 4,7 | 8,1 | 3,5 |
Zona do euro | 5,2 | 3,1 | 0,5 | 2,6 | 8,3 | 5,7 |
Alemanha | 2,6 | 1,5 | -0,3 | 3,2 | 8,5 | 7,2 |
França | 6,8 | 2,5 | 0,7 | 2,1 | 5,8 | 4,6 |
Itália | 6,7 | 3,2 | -0,2 | 1,9 | 8,7 | 5,2 |
Espanha | 5,1 | 4,3 | 1,2 | 3,1 | 8,8 | 4,9 |
Japão | 1,7 | 1,7 | 1,6 | -0,2 | 2,0 | 1,4 |
Reino Unido | 7,4 | 3,6 | 0,3 | 2,6 | 9,1 | 9,0 |
Canadá | 4,5 | 3,3 | 1,5 | 3,4 | 6,9 | 4,2 |
PIB real (%a.a.) | Inflação (% a.a.) | |||||
---|---|---|---|---|---|---|
2021 | 2022* | 2023* | 2021 | 2022* | 2023* | |
EMERGENTES | 4,7 | 3,2 | 2,8 | 4,6 | 5,8 | 5,1 |
Ásia Emergente | 7,2 | 4,4 | 4,9 | 2,2 | 4,1 | 3,6 |
China | 8,1 | 3,2 | 4,4 | 0,9 | 2,2 | 2,2 |
Índia | 8,7 | 6,8 | 6,1 | 5,5 | 6,9 | 5,1 |
Europa emergente | 6,8 | 0,0 | 0,6 | 9,5 | 27,8 | 19,4 |
Rússia | 4,7 | -3,4 | -2,3 | 6,7 | 13,8 | 5,0 |
América Latina e Caribe | 6,9 | 3,5 | 1,7 | 9,8 | 14,1 | 11,4 |
Brasil** | 5,0 | 3,1 | 1,0 | 10,1 | 5,8 | 5,2 |
México | 4,8 | 2,1 | 1,2 | 6,7 | 13,8 | 5,0 |
Argentina | 10,4 | 4,0 | 2,0 | 48,4 | 72,4 | 76,1 |
Colômbia | 10,7 | 7,6 | 2,2 | 3,5 | 9,7 | 7,1 |
Chile | 11,7 | 2,0 | -1,0 | 4,5 | 11,6 | 8,7 |
Peru | 13,6 | 2,7 | 2,6 | 4,0 | 7,5 | 4,4 |
Equador | 4,2 | 2,9 | 2,7 | 0,1 | 3,2 | 2,4 |
Bolívia | 6,1 | 3,8 | 3,2 | 0,7 | 3,2 | 3,6 |
Paraguai | 4,2 | 0,2 | 4,3 | 4,8 | 9,5 | 4,5 |
Uruguai | 4,4 | 5,3 | 3,6 | 7,7 | 9,1 | 7,8 |
Oriente Médio e Ásia Central | 4,5 | 5,0 | 3,6 | 14,2 | 14,2 | 12,4 |
África Subsaariana | 4,7 | 3,6 | 3,7 | 11,1 | 14,4 | 11,9 |
África do Sul | 4,9 | 2,1 | 1,1 | 4,6 | 6,7 | 5,1 |
Brasil
Produto Interno Bruto Real (% a.a.)1
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Agropecuária | 0,3 | -1,3 | 3,0 |
Indústria | 4,8 | 1,5 | 1,0 |
Serviços | 5,2 | 4,0 | 0,8 |
Total | 5,0 | 3,1 | 1,0 |
Inflação (% a.a.)
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
IGP-M | 17,8 | 6,3 | 4,5 |
INPC | 10,2 | 6,0 | 5,4 |
IPCA | 10,1 | 5,8 | 5,2 |
Produção Física Industrial (% a.a.)
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Extrativa Mineral | 1,0 | -3,7 | -0,1 |
Transformação | 4,3 | -0,2 | 1,2 |
Indústria Total2 | 3,9 | -0,6 | 1,1 |
Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Agropecuária | 146 | 67 | 15 |
Indústria | 721 | 510 | 129 |
Indústria de Transformação | 440 | 251 | 63 |
Construção | 245 | 227 | 58 |
Extrativa e SIUP3 | 37 | 32 | 8 |
Serviços | 1.909 | 1.611 | 406 |
Total | 2.777 | 2.189 | 550 |
Taxa de desemprego (%)
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Fim do ano | 11,1 | 8,0 | 8,5 |
Média do ano | 13,2 | 9,3 | 8,8 |
Setor Externo (US$ bilhões)
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Exportações | 280,8 | 280,1 | 276,0 |
Importações | 219,3 | 219,0 | 220,0 |
Balança Comercial | 61,5 | 61,1 | 56,0 |
Moeda e Juros
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.) | 9,25 | 13,75 | 12,75 |
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)4 | 7,39 | -6,45 | 2,49 |
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$) | 5,58 | 5,22 | 5,35 |
Setor Público (% do PIB)
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Resultado Primário | 0,8 | 1,0 | -1,0 |
Juros Nominais | -5,2 | -7,4 | -7,7 |
Resultado Nominal | -4,4 | -6,4 | -8,7 |
Dívida Líquida do Setor Público | 57,2 | 57,6 | 61,0 |
Dívida Bruta do Governo Geral | 80,3 | 77,2 | 83,1 |
Rio Grande do Sul
Produto Interno Bruto Real (% a.a.)1
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Agropecuária | 67,0 | -33,5 | 38,7 |
Indústria | 9,7 | 2,5 | 1,2 |
Serviços | 4,1 | 4,0 | 1,5 |
Total | 10,4 | -2,5 | 5,0 |
Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Agropecuária | 4 | 2 | 1 |
Indústria | 48 | 33 | 12 |
Indústria de Transformação | 43 | 25 | 10 |
Construção | 5 | 8 | 3 |
Extrativa e SIUP2 | -1 | 0 | 0 |
Serviços | 90 | 70 | 24 |
Total | 141 | 106 | 38 |
Taxa de desemprego (%)
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Fim do ano | 8,1 | 5,7 | 6,0 |
Média do ano | 8,7 | 6,4 | 6,2 |
Setor Externo (US$ bilhões)
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Exportações | 21,1 | 20,0 | 18,7 |
Industriais | 14,4 | 16,8 | 16,1 |
Importações | 11,7 | 14,5 | 13,5 |
Balança Comercial | 9,4 | 5,5 | 5,2 |
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões) | 45,7 | 43,1 | 45,0 |
Indicadores Industriais (% a.a.)
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Faturamento real | 8,9 | 6,5 | 3,4 |
Compras industriais | 31,2 | 4,7 | 2,1 |
Utilização da capacidade instalada (em p.p.) | 5,7 | -0,9 | 0,7 |
Massa salarial real | 5,3 | 10,4 | 3,3 |
Emprego | 6,7 | 6,4 | 1,6 |
Horas trabalhadas na produção | 15,2 | 9,8 | 2,5 |
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS | 12,9 | 5,5 | 2,1 |
2021 | 2022* | 2023* | |
---|---|---|---|
Produção Física Industrial3 (% a.a.) | 9,0 | 1,2 | 1,4 |
Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul
Unidade de Estudos Econômicos