Um aspecto do mercado de trabalho brasileiro que chama atenção é o aumento do número de pessoas que deixou a força de trabalho recentemente e, portanto, não entram no cálculo da taxa de desemprego. Conforme abordamos no Informe Econômico nº 15/2023, o movimento iniciou em meados do ano passado e segue ganhando intensidade ao longo de 2023, com os dados de março confirmando a tendência.
Com os dados da PNAD Contínua Trimestral, divulgados no dia 18 de maio pelo IBGE, é possível olhar a composição da população fora da força de trabalho por faixas etárias. O primeiro ponto a considerar é que a maior parte desse contingente está na faixa 60 anos ou mais, conforme o gráfico abaixo, e sempre foi assim, desde o início da série em 2012.
População fora da força de trabalho por faixa etária – BR
(Em milhões de pessoas)
Vale destacar que o número de pessoas nessa faixa aumentou durante a pandemia e não apresentou recuo desde então, ao contrário do que aconteceu nas outras faixas etárias. Com isso, na comparação do momento atual (1ºT/23) com o pré-pandemia (4ºT/19), a parcela de pessoas 60+ no total da população fora da força de trabalho aumentou, como ilustra o segundo gráfico, assim como ocorreu nas faixas de 25 a 39 anos e de 40 a 59 anos, as quais concentram mais de 60% da população brasileira em idade ativa.
Parcela por faixa etária no total da população fora da força de trabalho – BR
(Em % do total)
Contudo, analisando o movimento recente, na comparação entre o 1ºT/23 e o 3ºT/22, a população fora da força de trabalho cresceu 3,5%, o equivalente a 2,2 milhões de pessoas. Os aumentos mais intensos vieram das faixas etárias de 25 a 39 anos (+5,8%) e de 18 a 24 anos (+4,8%), conforme o gráfico abaixo, seguidas de perto pela faixa de 40 a 59 anos (+4,6%). Portanto, evidenciou-se que a elevação ocorreu principalmente em uma parcela relativamente jovem da população.
Crescimento da população fora da força de trabalho, por faixa etária – BR
(Comparação entre o 3ºT/22 e o 1ºT/23 | Variação %)
Conforme mostramos no Informe anterior sobre o tema, com dados até fevereiro, o desalento não parece ser o motivo de as pessoas estarem deixando o mercado de trabalho. Os dados de março mostram que o número de desalentados continuou caindo no Brasil. O aumento nos valores e no número de beneficiários dos programas de assistência social podem estar relacionados com esse fato.
Por fim, atualizando as simulações caso as pessoas retornassem ao mercado de trabalho na condição de desocupados: o número de desempregados saltaria dos atuais 9,4 milhões para 13,0 milhões (+3,4 milhões), com a taxa de desemprego saindo de 8,8% para 11,7% (+2,9 pontos percentuais).
Produção industrial e emprego iniciam o segundo trimestre em queda no RS
A Sondagem Industrial do RS, pesquisa de opinião empresarial, revelou que o setor voltou a perder dinamismo no início do segundo trimestre, com reduções na produção e no emprego além do normal para o período, deterioração nas expectativas e menor intenção de investir.
O índice de produção registrou 39,1 pontos em abril, 6,8 pontos menor do que a média histórica do mês, o que indica um ritmo de queda bem mais intenso do que o esperado para o período. Nos últimos oito meses, foram apenas uma expansão (em março), três estabilizações e quatro quedas. O índice varia de 0 a 100 pontos e valores abaixo de 50 representam queda ante o mês anterior.
Índice de evolução mensal da produção
(Em pontos)
O índice de número de empregados ficou em 46,2 pontos em abril, ante 49,6 pontos em março, indicando nova retração no emprego, mais intensa do que a do mês anterior e do que a prevista para o mês (média de 47,8 pontos). A marca divisória de 50 pontos, que indica crescimento na comparação com o mês anterior, não é ultrapassada desde setembro de 2022, período em que foram registradas cinco quedas e duas estabilizações.
A utilização da capacidade instalada (UCI) caiu de 71,0% em março para 69,0% em abril, mas ficou dentro da média histórica do mês. Já o índice de UCI em relação à usual fechou abril em 39,2 pontos (45,1 pontos em março), sendo que 50 pontos representam o nível usual para cada mês. Vale destacar que a diferença entre a UCI observada e a considerada usual pelos empresários em abril é a maior desde junho de 2020, num sinal claro de desaquecimento.
Mesmo com a queda intensa da produção, os estoques de produtos finais permaneceram em alta no mês de abril e acima, ainda que mais próximo, do planejado pela indústria gaúcha. De fato, o índice de evolução atingiu 52,5 pontos, revelando, acima de 50, avanço dos estoques em relação a março, enquanto, o índice em relação ao planejado recuou de 53,3 em março para 51,6 pontos em abril, ficando mais perto da marca de 50 pontos, que indica estoques ajustados.
A Sondagem mostrou também que o quadro pouco favorável à atividade industrial afeta as perspectivas dos empresários, que, em maio, projetam redução da demanda e mais demissões nos próximos seis meses. De fato, com exceção das exportações (+0,7 ante abril, para 49,9 pontos em maio), cuja projeção é de estabilidade, todos os índices de expectativas caíram em relação a abril e ficaram na faixa negativa (abaixo de 50 pontos) em maio: demanda (-2,8 pontos, para 49,2 pontos), emprego (-1,9, para 47,4 pontos) e compras de matérias-primas (-1,3, para 48,2 pontos).
Índice de expectativas da demanda
(em pontos)
Com a deterioração nas expectativas, os empresários gaúchos se mostram menos dispostos a fazer investimentos nos próximos seis meses. O índice de intenção de investimentos caiu 1,9 ponto na comparação com abril e ficou em 51,0 pontos em maio, na média histórica. O índice varia de 0 a 100 pontos e quanto maior, mais alta é a propensão. Portanto, o resultado mostra que a intenção de investir nos próximos seis meses é baixa. De acordo com a Sondagem, pouco mais da metade das empresas (53,4%) estão dispostas a investir em maio.
Índice de intenção de investimento
(em pontos)
DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA
Produto Interno Bruto1
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Agropecuária | 0,4 | 4,2 | 0,3 | -1,7 | 3,0 |
Indústria | -0,7 | -3,0 | 4,8 | 1,6 | 1,0 |
Serviços | 1,5 | -3,7 | 5,2 | 4,2 | 0,8 |
TOTAL | 1,2 | -3,3 | 5,0 | 2,9 | 1,0 |
Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Em R$ | 7,389 | 7,610 | 8,899 | 9,915 | 10,576 |
Em US$2 | 1,873 | 1,476 | 1,649 | 1,920 | 2,015 |
Inflação (% a.a.)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
IGP-M | 7,3 | 23,1 | 17,8 | 5,5 | 1,6 |
INPC | 4,5 | 5,4 | 10,2 | 5,9 | 5,5 |
IPCA | 4,3 | 4,5 | 10,1 | 5,8 | 5,8 |
Produção Física Industrial (% a.a.)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Extrativa Mineral | -9,7 | -3,4 | 1,0 | -3,2 | -0,1 |
Transformação | 0,2 | -4,6 | 4,3 | -0,4 | 1,2 |
Indústria Total3 | -1,1 | -4,5 | 3,9 | -0,7 | 1,1 |
Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Agropecuária | 13 | 37 | 146 | 65 | 15 |
Indústria | 97 | 149 | 722 | 446 | 129 |
Indústria de Transformação | 13 | 48 | 440 | 217 | 63 |
Construção | 71 | 97 | 245 | 194 | 58 |
Extrativa e SIUP4 | 13 | 3 | 37 | 35 | 8 |
Serviços | 534 | -378 | 1.909 | 1.527 | 406 |
TOTAL | 644 | -193 | 2.777 | 2.038 | 550 |
Taxa de desemprego (%)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Fim do ano | 11,1 | 14,2 | 11,1 | 7,9 | 8,5 |
Média do ano | 12,0 | 13,8 | 13,2 | 9,3 | 8,8 |
Setor Externo (US$ bilhões)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Exportações | 221,1 | 209,2 | 280,8 | 334,5 | 276,0 |
Importações | 185,9 | 158,8 | 219,4 | 272,7 | 220,0 |
Balança Comercial | 35,2 | 50,4 | 61,4 | 61,8 | 56,0 |
Moeda e Juros
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.) | 4,50 | 2,00 | 9,25 | 13,75 | 13,75 |
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)5 | 4,0 | 28,9 | 7,4 | -6,5 | -2,3 |
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$) | 4,03 | 5,20 | 5,58 | 5,22 | 5,10 |
Setor Público (% do PIB)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Resultado Primário | -0,8 | -9,4 | 0,8 | 1,3 | -1,4 |
Juros Nominais | -5,0 | -4,2 | -5,2 | -6,0 | -6,6 |
Resultado Nominal | -5,8 | -13,6 | -4,4 | -4,7 | -8,0 |
Dívida Líquida do Setor Público | 54,7 | 62,5 | 57,3 | 57,5 | 61,0 |
Dívida Bruta do Governo Geral | 74,4 | 88,6 | 80,3 | 73,5 | 79,9 |
DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA
Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Agropecuária | 3,0 | -29,5 | 60,2 | -45,6 | 38,7 |
Indústria | 0,2 | -6,1 | 11,2 | 2,2 | 1,2 |
Serviços | 0,8 | -5,0 | 4,1 | 3,7 | 1,5 |
TOTAL | 1,1 | -7,2 | 10,6 | -5,1 | 5,0 |
Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Em R$ | 482,464 | 470,942 | 584,602 | 594,968 | 659,929 |
Em US$2 | 122,282 | 91,317 | 108,362 | 115,195 | 125,299 |
Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Agropecuária | 0 | 1 | 4 | 4 | 1 |
Indústria | -6 | 0 | 48 | 29 | 12 |
Indústria de Transformação | -2 | 0 | 43 | 22 | 10 |
Construção | -4 | 0 | 5 | 7 | 3 |
Extrativa e SIUP7 | 0 | 0 | -1 | 1 | 0 |
Serviços | 26 | -43 | 90 | 68 | 24 |
TOTAL | 20 | -43 | 141 | 101 | 38 |
Taxa de desemprego (%)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Fim do ano | 7,3 | 8,6 | 8,1 | 4,6 | 6,0 |
Média do ano | 8,1 | 9,3 | 8,7 | 6,1 | 6,2 |
Setor Externo (US$ bilhões)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Exportações | 17,3 | 14,1 | 21,1 | 22,4 | 18,7 |
Industriais | 12,5 | 10,4 | 14,1 | 17,2 | 16,1 |
Importações | 10,3 | 7,6 | 11,7 | 16,0 | 13,5 |
Balança Comercial | 6,9 | 6,5 | 9,4 | 6,4 | 5,2 |
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões) | 35,7 | 36,2 | 45,7 | 43,3 | 45,0 |
Indicadores Industriais (% a.a.)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Faturamento real | 3,0 | -3,1 | 8,9 | 6,1 | 3,4 |
Compras industriais | -2,7 | -5,5 | 31,2 | 2,7 | 2,1 |
Utilização da capacidade instalada (em p.p.) | 0,7 | -4,5 | 5,6 | -1,1 | 0,7 |
Massa salarial real | -0,8 | -9,0 | 5,3 | 10,8 | 3,3 |
Emprego | 0,0 | -1,9 | 6,7 | 5,9 | 1,6 |
Horas trabalhadas na produção | -0,9 | -5,5 | 15,2 | 8,3 | 2,5 |
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS | 0,1 | -4,7 | 12,9 | 4,7 | 2,1 |
Produção Física Industrial (% a.a.)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Produção Física Industrial8 (% a.a.) | 2,5 | -5,5 | 9,0 | 1,1 | 1,4 |
Informações sobre as atualizações das projeções: Economia Brasileira: Não houve alterações. Economia Gaúcha: Não houve alterações. As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. |
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