Ano 26 – Número 08 – 26 de Fevereiro de 2024

Informe Econômico

Análise estrutural: Qual é o grau de diversificação das exportações da Indústria de Transformação gaúcha?

A estrutura de concentração da demanda internacional é de suma importância para se compreender os movimentos observados na pauta exportadora de qualquer país. Mais do que isso, a composição e, por consequência, seu nível de concentração, são importantes para uma melhor compreensão da exposição que temos a cada uma das conjunturas econômicas de nossos parceiros comerciais. Tomemos dois casos extremos como exemplo:

  • Poucos parceiros comerciais – Concentrada
  • Muitos parceiros comerciais – Diversificada

No primeiro caso, o país exportador tem sua demanda por exportações dependente da conjuntura econômica de poucos parceiros e, por consequência, mais exposta a fatores intrínsecos a cada sistema. No segundo caso, a influência que cada país individual exerce sobre a pauta total tem menor peso, o que torna a demanda por exportações menos vulnerável a problemas conjunturais específicos àquele país. Há diferentes maneiras de se quantificar o nível de concentração, sendo o Índice Herfindahl–Hirschman (IHH)  o que mais se destaca. No desenvolvimento deste informe, nosso objetivo é determinar o grau de concentração das exportações da Indústria de Transformação gaúcha por parceiro comercial e por segmento, em termos anuais.

Começando pelos parceiros comerciais, o setor teve a China, os Estados Unidos e a Argentina como principais mercados consumidores em 2023. Juntos esses três apresentaram uma participação de 29,9%. Ou seja, pelo menos 70,1% dessas exportações não têm influência direta desses países.

Participação na pauta

(Em % | Referente a jan-dez/23)

Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração: UEE/FIERGS.

Participação na pauta

(Em % | Três primeiros em 2023)

China Estados UnidosArgentina
20107,19,012,2
20116,68,712,6
20127,99,310,7
20136,210,312,6
20146,19,39,6
20156,79,610,3
20168,610,110,8
20177,610,114,7
20189,610,511,6
201913,111,57,4
202014,111,67,7
202114,112,37,2
202211,012,17,1
202311,811,86,3
Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração: UEE/FIERGS.

No ano passado o setor exportou para um total de 220 países diferentes, 3 países a mais do que em 2022 e 7 a mais do que em 2010. A concentração por parceiros comerciais apresentou um pico em 2017 e manteve-se nesse patamar até 2021, influenciado pela disrupção das cadeias de suprimentos globais e pelo conflito no Leste Europeu. De maneira geral, a pauta de parceiros comerciais da Indústria de Transformação gaúcha mostrou-se bastante diversificada (IHH de 448,3).

IHH – Parceiros comerciais – Indústria de Transformação – RS

(Em pontos)

Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração: UEE/FIERGS.

Analisando-se a concentração por parceiro comercial de cada segmento em 2023, a maioria (17 dos 23) pode ser caracterizado como diversificado (IHH abaixo de 1.500), vom os três principais apresentando baixa concentração. Quanto aos que apresentaram concentração moderada (IHH entre 1.500 e 2.500), destacaram-se: Outros equipamentos de transporte (27,7% embarcados para os EUA e 21,4% para a Polônia | IHH: 1.576,3), Vestuário e acessório (39,3% para o Paraguai e 18,1% pro Uruguai | IHH: 2.241,9), Minerais não-metálicos (42,7% para os EUA e 16,6% para o México | IHH: 2.265,2) e Têxteis (45,1% para Argentina e 11,3% para o Chile | IHH: 2.292,6). Por fim, dois apresentaram nível de concentração elevado (IHH acima de 2.500): Produtos de metal (50,7% para os EUA e 10,2% para a Argentina | IHH: 2.784,4) e Impressão e reprodução (73,1% para o México e 6,4% para o Equador | IHH: 5.438,1).

Quanto ao nível de concentração da Indústria de Transformação com relação aos segmentos, o setor pode ser caracterizado como moderadamente concentrado (IHH de 1.604,4). Os três segmentos exportadores que mais se destacaram em 2023, por exemplo, somaram 57,7% da pauta exportadora no período, tendo Alimentos (34,4%), Tabaco (14,7%) e Máquinas e equipamentos (8,6%) como os mais preponderantes. Pelo gráfico abaixo, a maior parte do tempo as exportações do setor mostraram-se moderadamente concentradas (IHH entre 1.500 e 2.500) em poucos segmentos, sendo que o período de 2016–2019 pode ser caracterizado como atípico.

IHH – Segmentos – Indústria de Transformação – RS

(Em pontos)

Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração: UEE/FIERGS.

IHH – Parceiros comerciais – Segmentos – RS

(Em pontos | Em milhões de US$ | Em %)

IHHConcentraçãoJan-dez/23Prop.%
Alimentos395,4Baixa5.801,034,4
Tabaco952,7Baixa2.483,014,7
Máquinas e equipamentos916,0Baixa1.446,58,6
Químicos708,8Baixa1.271,07,5
Veículos automotores1.231,8Baixa1.053,36,2
Couro e calçados658,7Baixa930,45,5
Celulose e papel1.476,0Baixa899,55,3
Produtos de metal2.784,4Alta723,74,3
Coque e derivados do pet.815,0Baixa388,12,3
Madeira1.237,8Baixa379,82,3
Borracha e plástico1.448,7Baixa367,22,2
Móveis974,3Baixa245,91,5
Metalurgia1.211,7Baixa211,71,3
Máquinas e materiais elétricos817,1Baixa211,31,3
Produtos diversos1.151,2Baixa148,10,9
Minerais não metálicos2.265,2Moderada85,20,5
Equipamentos de informática852,6Baixa79,10,5
Têxteis2.292,6Moderada34,70,2
Vestuário e acessórios2.241,9Moderada30,50,2
Bebidas1.154,7Baixa29,00,2
Farmoquímicos1.399,3Baixa22,80,1
Outros equipamentos de transporte1.576,3Moderada9,20,1
Impressão e reprodução5.438,1Alta3,40,0
Indústria de Transformação448,3Baixa16.854,5100,0
Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração: UEE/FIERGS.

IHH – Parceiros comerciais – Segmentos – RS

(Em pontos)

Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração: UEE/FIERGS.

[1] A interpretação é simples: valores abaixo de 1.500 indicam baixa concentração, entre 1.500 e 2.500 indicam concentração moderada e acima de 2.500 elevada concentração.

Confiança da indústria gaúcha recua com piora do cenário econômico

O Índice de Confiança do Empresário Industrial gaúcho (ICEI/RS) oscilou de 51,0 em janeiro para 50,5 pontos em fevereiro de 2024. Com isso, o índice divulgado pela FIERGS continuou acima dos 50 pontos – mas se aproximou da linha divisória que separa presença de falta de confiança –, indicando que ainda há confiança, embora seja muito baixa.  

Índice de Confiança do Empresário Industrial do RS

Fonte: UEE/FIERGS.

O ICEI/RS resulta das avaliações dos empresários gaúchos – condições atuais e expectativas futuras – sobre a economia brasileira e as suas empresas. A queda do índice entre janeiro e fevereiro de 2024 refletiu, exclusivamente, a deterioração nas percepções referentes à economia brasileira, enquanto as relativas às próprias empresas pouco se alteraram.

O Índice de Condições Atuais atingiu 45,0 pontos em fevereiro, recuando 0,9 ponto ante janeiro. O valor abaixo de 50 pontos revela que os empresários gaúchos continuam, no segundo mês do ano, percebendo piora nas condições dos negócios. A deterioração é particularmente percebida no cenário econômico doméstico, com o recuo de 3,0 pontos do Índice de Condições Atuais da Economia Brasileira, para 40,0 pontos em fevereiro. O patamar do índice, bem inferior aos 50 pontos, reflete a expressiva diferença (35,4 p.p.) entre a parcela de empresários que percebem piora (41,9%) e melhora (6,5%) na economia brasileira no segundo mês do ano. Essa diferença era de 23,1 p.p. em janeiro: 35,2% e 12,1%, respectivamente. O Índice de Condições Atuais das Empresas oscilou de 47,3 para 47,4 pontos no período, sem revelar mudança no quadro, que segue negativo.  

Condições Atuais

(Em relação aos últimos seis meses)

Fonte: UEE/FIERGS.

As perspectivas dos empresários gaúchos para os próximos seis meses também oscilaram para baixo, mas mantiveram-se no campo otimista. Os índices variam de zero a 100, sendo os 50 pontos a marca que separa otimismo, quando acima, e pessimismo, quando abaixo. O Índice de Expectativas passou de 53,5 em janeiro para 53,3 pontos em fevereiro, o que indica um otimismo bastante moderado no geral, sustentado, porém, unicamente, pelo Índice de Expectativa da Empresa, que subiu de 56,5 para 56,9 pontos no período. Por outro lado, o Índice de Expectativas da Economia Brasileira caiu com mais intensidade: 1,3 ponto, de 47,5 em janeiro para 46,2 em fevereiro, como resultado do aumento na percepção pessimista (de 27,7% para 29,3% dos empresários) e uma redução no otimismo (de 21,4% para 18,2%).

Expectativas

(Para os próximos seis meses)

Fonte: UEE/FIERGS.

Os resultados do ICEI/RS mostram que a confiança dos industriais gaúchos segue bastante baixa e restrita ao desempenho das próprias empresas, que não mostraram grandes alterações na passagem de janeiro para fevereiro. As percepções sobre a economia brasileira, porém, se deterioraram, diante de um cenário que continua marcado por elevados níveis de incerteza – política fiscal, cumprimento das metas do “Novo Arcabouço Fiscal” e Reforma Tributária – e baixos de demanda, em especial, dos investimentos. Os resultados evidenciam ainda que o lançamento do plano “Nova Indústria Brasil” em 22/01/2024 não gerou impactos relevantes na confiança dos empresários gaúchos.

Nesse sentido, como um indicador antecedente do setor, o ICEI/RS de fevereiro projeta um desempenho modesto para o setor nos próximos meses, ainda incompatível com uma retomada mais vigorosa da atividade industrial e recuperação das perdas recentes.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

2020202120222023*2024*
Agropecuária4,20,0-1,714,50,5
Indústria-3,05,01,61,21,3
Serviços-3,74,84,22,01,7
Total-3,34,82,92,81,5
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

2020202120222023*2024*
Em R$7,6109,0129,91510,66211,265
Em US$21,4761,6701,9202,1312,251
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS.

Inflação (% a.a.)

20202021202220232024*
IGP-M 23,117,85,5-3,24,0
INPC5,410,25,93,74,1
IPCA4,510,15,84,64,1
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20202021202220232024*
Extrativa Mineral-3,41,0-3,27,01,7
Transformação-4,64,3-0,4-1,01,1
Indústria Total3-4,53,9-0,70,21,4
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20202021202220232024*
Agropecuária37146643530
Indústria143720441286221
Indústria de Transformação45439214103109
Construção9524519315999
Extrativa e SIUP4436352413
Serviços-3721.9141.5081.163706
Total-1922.7802.0131.484956
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20202021202220232024*
Fim do ano14,211,17,97,47,6
Média do ano13,813,29,38,07,9
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20202021202220232024*
Exportações209,2280,8334,1339,7336,8
Importações158,8219,4272,6240,8241,6
Balança Comercial50,461,461,598,895,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Moeda e Juros

20202021202220232024*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)2,009,2513,7511,759,50
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)5,205,585,225,005,08
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS.

Setor Público (% do PIB)

2020202120222023*2024*
Resultado Primário-9,20,71,3-2,3-1,2
Juros Nominais-4,1-5,0-5,9-6,6-6,3
Resultado Nominal-13,3-4,3-4,6-8,9-7,5
Dívida Líquida do Setor Público61,455,857,160,564,5
Dívida Bruta do Governo Geral86,978,372,974,979,2
*Projeção UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

2020202120222023*2024*
Agropecuária-29,653,0-45,623,537,1
Indústria-6,18,11,9-4,51,8
Serviços-5,04,43,62,21,5
Total-7,29,3-5,22,54,7
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

2020202120222023*2024*
Em R$470,942581,284594,055636,916694,192
Em US$291,317107,747115,018127,314138,732
*Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

2020202120222023*2024*
Agropecuária27311
Indústria-14729-96
Indústria de Transformação04322-65
Construção-157-21
Extrativa e SIUP30-11-10
Serviços-4290685514
Total-411441004721
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20202021202220232024*
Fim do ano8,68,14,65,25,0
Média do ano9,38,76,15,35,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20202021202220232024*
Exportações14,121,122,622,323,0
Indústria de Transformação10,414,417,716,817,1
Importações7,611,716,013,815,4
Balança Comercial6,59,46,68,57,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20202021202220232024*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)36,245,743,344,746,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Indicadores Industriais (% a.a.)

20202021202220232024*
Faturamento real-3,18,95,9-7,22,1
Compras industriais-5,531,2-0,5-14,87,5
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)-4,55,7-0,7-3,31,0
Massa salarial real-9,05,310,92,80,6
Emprego-1,96,75,9-0,80,2
Horas trabalhadas na produção-5,515,28,4-3,51,5
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS-4,712,94,1-5,62,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

2020202120222023*2024*
Produção Física Industrial4 (% a.a.)-5,59,01,1-4,72,3
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Não houve alterações nos valores de 2023. Não houve alterações nas projeções de 2024.
Economia Gaúcha: Não houve alterações nos valores de 2023. Não houve alterações nas projeções de 2024.

As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.

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