Ano 26 – Número 17 – 29 de Abril de 2024

Informe Econômico

Em 2023, saldo de crédito para a Indústria caiu e inadimplência subiu no Rio Grande do Sul

De acordo com dados do Sistema de Informações de Créditos – SCR, divulgados pelo Banco Central, o saldo da carteira de operações de crédito para a Indústria no Rio Grande do Sul fechou o ano de 2023 em queda em relação a 2022. A Indústria de Transformação foi o setor que apresentou o pior resultado ante o ano anterior.

Conforme se verifica da tabela abaixo, a Indústria se destacou negativamente em relação ao saldo da carteira de operações de crédito no estado. Enquanto o saldo do Rio Grande do Sul aumentou 6,5% em 2023, e o saldo da carteira de pessoas jurídicas cresceu 1,1%, a Indústria registrou uma variação negativa de -3,3%. Esse resultado desfavorável foi decorrente principalmente da Indústria de Transformação, que teve uma queda significativa de -7,6%. Além disso, o segmento da Indústria Extrativa também apresentou resultado negativo, com variação de -6,1%. Os segmentos que apresentaram desempenho positivo da carteira foram Construção, com um aumento de 25,6% e os Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUP), que cresceram 13,7%.

Carteira de operações de crédito por segmento no Rio Grande do Sul

(Saldo real médio |em milhões de R$)

20232022Var. %
PESSOAS JURÍDICAS136,7135,21,1
Indústria*53,955,7-3,3
SIUP**6,06,013,7
Indústria de Transformação40,443,7-7,6
Indústria extrativa0,30,3-6,1
Construção7,25,725,6
TOTAL DO ESTADO395,9371,66,5
Fonte: Banco Central. Nota: saldo da carteira é calculado como a média da soma dos valores dos vencimentos a vencer e vencidos das operações de crédito ao longo de 2023, cujas informações são coletadas a partir do Sistema de Informações de Créditos – SCR. *O saldo da carteira da Indústria foi calculado a partir da soma das carteiras das atividades econômicas industriais. **O saldo dos Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUP) foi calculado a partir da totalização do saldo da carteira dos segmentos de Eletricidade e gás e Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação. Os montantes foram atualizados pelo IPCA a valores de março/2023.

Nos últimos meses, a tendência tem sido de uma deterioração no desempenho desses setores em relação ao ano anterior. O mês de dezembro de 2023 apresentou uma leve recuperação, mas as variações negativas verificadas ao longo do ano passado foram apenas comparáveis com os anos de 2017 e 2018 no segmento da Indústria, quando a economia brasileira se recuperava da maior crise econômica da sua história. Ainda que a queda no saldo da carteira de operações de crédito decorra em boa parte da política contracionista do Banco Central, é importante notar que o resultado da Indústria parece ser mais sensível a essas mudanças de política monetária do que os demais setores da economia.

Carteira de operações de crédito por segmento no Rio Grande do Sul

(Variação % em relação ao mesmo período do ano anterior)

Fonte: Banco Central. Nota: saldo da carteira é calculado como a soma dos valores dos vencimentos a vencer e vencidos das operações de crédito, cujas informações são coletadas a partir do Sistema de Informações de Créditos – SCR. O saldo da carteira da Indústria foi calculado a partir da soma das carteiras das atividades econômicas industriais. Os montantes foram atualizados pelo IPCA a valores de março/2023.

Outro ponto de destaque é a inadimplência da carteira de pessoas jurídicas no Rio Grande do Sul, que atingiu 2,0% em dezembro/2023 na série dessazonalizada, indicando uma possível deterioração na qualidade das operações de crédito. Na Indústria de Transformação, a inadimplência atingiu 2,6% na série com ajuste sazonal, pior resultado desde julho/2019. É importante notar que a série de inadimplência do setor industrial vinha abaixo da inadimplência de pessoas jurídicas no estado desde meados de 2021, mas voltou a acelerar no ano de 2023.

Taxa de inadimplência por segmento no Rio Grande do Sul

(Em % | com ajuste sazonal)

Fonte: Banco Central. Nota: a taxa de inadimplência da Indústria foi calculada a partir da ponderação das séries de inadimplência das atividades econômicas industriais.

Os resultados apresentados indicam que o mercado de crédito para os setores industriais no Rio Grande do Sul se deteriorou ao longo do ano de 2023, caracterizado por uma crescente inadimplência e uma queda no saldo da carteira de operações. Grande parte desse cenário decorre do aperto monetário, ao fim de políticas de crédito implementadas para atenuar os efeitos da inadimplência durante o período da pandemia da Covid-19 e à baixa confiança dos empresários industriais. O ciclo de redução dos juros enquanto as projeções de inflação não estão próximas da meta gera receios quanto à efetividade da política monetária. Soma-se a isso a incerteza sobre a capacidade do governo de alcançar suas metas fiscais, o que contribui para a instabilidade do cenário econômico. Monitorar de perto esses efeitos é crucial, pois mudanças bruscas nas taxas de juros podem prejudicar ainda mais o já restrito mercado de crédito.


Demanda interna fraca diminui o otimismo da indústria gaúcha

A Sondagem Industrial do RS mostrou que o cenário permaneceu negativo para o setor em março. A produção industrial ficou praticamente estável, a UCI continuou abaixo do usual e os estoques, em níveis excessivos. A nota positiva do mês foi o segundo crescimento seguido do emprego. A indústria gaúcha segue sob a influência da fraca demanda doméstica, principal entrave na avaliação dos empresários. Nesse cenário, as condições financeiras das empresas se deterioraram no primeiro trimestre e as expectativas dos empresários ficaram menos otimistas, o que deve afetar o emprego e as decisões de investimentos no curto prazo.

Segundo a Sondagem, a produção industrial gaúcha registrou pequena alta, quase uma estabilidade, em março relativamente a fevereiro. O índice de produção registrou 50,3 pontos, muito próximo de 50, marca que separa crescimento de queda. O desempenho da produção ficou abaixo do esperado para o mês, que tem como média histórica 52,8 pontos (sem março de 2020), o que significa que a produção tende a crescer no período.

O emprego, por sua vez, registrou a segunda alta consecutiva em março, após cair ininterruptamente entre outubro de 2022 e janeiro de 2024. O índice do mês foi 51,4 pontos, valor acima da sua média histórica (50,1 pontos) para o mês, mostrando que a estabilidade é o comportamento esperado entre os meses de fevereiro e março.

Os dois índices variam de zero a cem pontos. Quando estão acima dos 50 pontos, indicam aumento da produção e do emprego em relação ao mês anterior.

Índice de evolução mensal do emprego

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. Nota: Valores acima de 50 indicam aumento frente ao mês anterior. Valores abaixo de 50 pontos indicam queda. Quanto mais distante dos 50 pontos, maior e mais disseminada é a variação.

A indústria gaúcha utilizou 70,0% de sua capacidade instalada (UCI) em março de 2024, repetindo o grau médio de fevereiro e próximo do padrão histórico (70,7%) para o mês. Os empresários, contudo, a consideraram a abaixo do normal para março. O índice de UCI em relação a usual registrou 44,4 pontos, inferior a 50, o que indica UCI abaixo do nível normal. Vale ressaltar, porém, que é o maior valor em um ano, mostrando que a utilização em março foi, na avaliação dos empresários, a mais próxima do normal nos últimos doze meses.

Os estoques de produtos finais permaneceram em alta no mês de março, ainda acima do planejado pela indústria gaúcha. O índice de evolução mensal ficou em 52,7 pontos, mostrando, acima de 50, nova expansão dos estoques. Já o índice de estoques em relação ao planejado registrou, em março, praticamente o mesmo que em fevereiro: 51,5 pontos, ou seja, os estoques continuam acima do planejado pelas empresas.

Índice de utilização da capacidade instalada em relação à usual

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. Nota: Valores acima de 50 indicam UCI acima da usual para o mês. Valores abaixo de 50 pontos indicam UCI abaixo da usual. Quanto mais distante dos 50 pontos, mais distante do nível usual.

No bloco trimestral da Sondagem, os empresários gaúchos revelaram que os dois principais problemas enfrentados pelo setor no primeiro trimestre de 2024 seguem os mesmos desde o terceiro trimestre de 2023. A demanda interna insuficiente continua em primeiro lugar há cinco trimestres, com 40,2% das menções (39,4% no trimestre anterior), seguida pela elevada carga tributária, que ganhou 6,6 p.p. em relação ao último trimestre de 2023, passando de 32,0% para 38,6%. A falta de trabalhador qualificado foi o terceiro maior obstáculo e o que mais cresceu no período: 7,4 p.p. de 14,9% para 22,3% das respostas, o maior percentual desde o primeiro trimestre de 2015, mesmo num ambiente de baixo dinamismo da indústria. As taxas de juros perderam relevância relativa e caíram do terceiro no trimestre anterior para o quarto lugar no primeiro trimestre de 2024: de 26,3% para 20,7% das assinalações. A insegurança jurídica ficou em quinto, assinalado por 19,0% das empresas, o maior percentual já recebido na pesquisa.

Principais problemas enfrentados do trimestre

(% de respostas)

TRIMESTRE
4º/20231º/2024
Demanda interna insuficiente39,4%40,2%
Elevada carga tributária32,0%38,6%
Falta ou alto custo de trabalhador qualificado14,9%22,3%
Taxas de juros elevadas26,3%20,7%
Insegurança jurídica17,7%19,0%
Burocracia excessiva14,9%17,4%
Falta ou alto custo da matéria-prima12,6%16,9%
Competição com importados10,3%16,3%
Competição desleal16,6%14,7%
Falta de capital de giro13,7%13,6%
Demanda externa insuficiente15,4%13,0%
Inadimplência dos clientes13,7%12,0%
Falta de financiamento de longo prazo6,9%7,1%
Taxa de câmbio5,7%7,1%
Dificuldades na logística de transporte6,9%4,4%
Nenhum3,4%3,8%
Falta ou alto custo de energia7,4%2,7%
Outros2,3%2,7%
Fonte: UEE/FIERGS. Nota: A soma dos percentuais supera 100% devido à possibilidade de múltipla escolha.

O quadro mais deteriorado comprometeu as condições financeiras das indústrias no primeiro trimestre de 2024. Os empresários gaúchos consideraram ruins as margens de lucros e as condições financeiras das empresas, com os respectivos índices recuando 1,6 ponto (43,1) e 2,4 pontos (49,3), respectivamente, em relação ao trimestre anterior. Abaixo de 50 pontos, os dois índices retratam insatisfação. As empresas também perceberam condições mais adversas para acessar o crédito e aumento mais intenso nos preços das matérias-primas. O índice do primeiro recuou de 44,5 para 41,1 pontos e do segundo cresceu de 53,5 para 55,7 pontos entre o último trimestre de 2023 e o primeiro de 2024.

Índice de satisfação com a margem de lucro

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. Nota: O índice varia de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima (abaixo) de 50 indicam satisfação (insatisfação) no trimestre.

Para os próximos seis meses, as expectativas dos empresários gaúchos, apuradas em abril de 2024, também foram afetadas pelo cenário mais desfavorável, registrando quedas em todos os índices na comparação com março. Os índices de demanda (de 56,0 para 54,7 pontos), de compras de matérias-primas (de 54,9 para 52,2 pontos) e de exportações (de 53,5 para 50,3 pontos) seguiram no campo positivo. Os empresários gaúchos, contudo, voltaram a projetar redução do emprego (de 52,8 para 49,5 pontos). Os valores variam de zero a 100 pontos, indicando que os empresários projetam aumento (queda) quando acima (abaixo) de 50.

Com o menor otimismo em abril, a indústria do RS se mostrou menos disposta a fazer investimentos O índice de intenção de investimentos recuou 1,7 ponto em abril na comparação com março e ficou em 52,5, valor ainda 1,1 ponto superior à média histórica, mas também o mais baixo em cinco meses. Em abril, 55,7% das empresas mostravam disposição de investir no semestre seguinte (eram 58,1% em março).

Índice de expectativas da demanda

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. Nota: Valores acima de 50 indicam expectativa de aumento para os próximos seis meses. Valores abaixo de 50 pontos indicam expectativa de queda. Quanto mais distante dos 50, maior e mais disseminada a expectativa.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20202021202220232024*
Agropecuária4,20,0-1,115,10,5
Indústria-3,05,01,51,61,3
Serviços-3,74,84,32,41,7
Total-3,34,83,02,91,5
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20202021202220232024*
Em R$7,6109,0129,91510,85611,482
Em US$21,4761,6701,9202,1702,295
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS.

Inflação (% a.a.)

20202021202220232024*
IGP-M 23,117,85,5-3,24,0
INPC5,410,25,93,74,1
IPCA4,510,15,84,64,1
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20202021202220232024*
Extrativa Mineral-3,41,0-3,27,01,7
Transformação-4,64,3-0,4-1,01,1
Indústria Total3-4,53,9-0,70,21,4
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20202021202220232024*
Agropecuária37146643530
Indústria143720441286221
Indústria de Transformação45439214103109
Construção9524519315999
Extrativa e SIUP4436352413
Serviços-3721.9141.5081.163706
Total-1922.7802.0131.484956
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20202021202220232024*
Fim do ano14,211,17,97,47,6
Média do ano13,813,29,38,07,9
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20202021202220232024*
Exportações209,2280,8334,1339,7336,8
Importações158,8219,4272,6240,8241,6
Balança Comercial50,461,461,598,895,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Moeda e Juros

20202021202220232024*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)2,009,2513,7511,759,50
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)5,205,585,224,845,08
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS.

Setor Público (% do PIB)

20202021202220232024*
Resultado Primário-9,20,71,3-2,3-1,2
Juros Nominais-4,1-5,0-5,9-6,6-6,3
Resultado Nominal-13,3-4,3-4,6-8,9-7,5
Dívida Líquida do Setor Público61,455,857,160,564,5
Dívida Bruta do Governo Geral86,978,372,974,979,2
*Projeção UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20202021202220232024*
Agropecuária-29,653,0-41,716,337,1
Indústria-6,18,11,6-4,01,8
Serviços-5,04,43,82,71,5
Total-7,29,32,81,74,7
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS.

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20202021202220232024*
Em R$470,942581,284592,683640,299697,880
Em US$291,317107,747114,752128,189140,983
*Projeção UEE/FIERGS.

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20202021202220232024*
Agropecuária27311
Indústria-14729-96
Indústria de Transformação04322-65
Construção-157-21
Extrativa e SIUP30-11-10
Serviços-4290685514
Total-411441004721
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS.

Taxa de desemprego (%)

20202021202220232024*
Fim do ano8,68,14,65,25,0
Média do ano9,38,76,15,35,2
*Projeção UEE/FIERGS.

Setor Externo (US$ bilhões)

20202021202220232024*
Exportações14,121,122,622,323,0
Indústria de Transformação10,414,417,716,817,1
Importações7,611,716,013,815,4
Balança Comercial6,59,46,68,57,6
*Projeção UEE/FIERGS.

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20202021202220232024*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)36,245,743,344,746,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Indicadores Industriais (% a.a.)

20202021202220232024*
Faturamento real-3,18,95,9-7,22,1
Compras industriais-5,531,2-0,5-14,87,5
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)-4,55,7-0,7-3,31,0
Massa salarial real-9,05,310,92,80,6
Emprego-1,96,75,9-0,80,2
Horas trabalhadas na produção-5,515,28,4-3,51,5
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS-4,712,94,1-5,62,8
*Projeção UEE/FIERGS.

Produção Física Industrial (% a.a.)

20202021202220232024*
Produção Física Industrial4 (% a.a.)-5,59,01,1-4,72,3
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS.
Informações sobre as atualizações das projeções:
Economia Brasileira: Não houve alterações nas projeções de 2024.
Economia Gaúcha: Não houve alterações nas projeções de 2024.

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