De acordo com dados do Sistema de Informações de Créditos – SCR, divulgados pelo Banco Central, em julho de 2023, o saldo da carteira de operações de crédito para a Indústria no Rio Grande do Sul manteve a tendência de queda dos últimos meses. A Indústria de Transformação foi o setor que apresentou o pior resultado ante o mesmo mês do ano anterior.
Conforme se verifica da tabela abaixo, a Indústria se destacou negativamente em relação ao saldo da carteira de operações de crédito no estado. Enquanto o saldo do Rio Grande do Sul aumentou 7,1% em julho de 2023, e o saldo da carteira de pessoas jurídicas cresceu 1,5%, a Indústria registrou uma variação negativa de -0,6%. Esse resultado desfavorável foi decorrente principalmente da Indústria de Transformação, que teve uma queda significativa de -6,1%. Além disso, o segmento da Indústria Extrativa também apresentou resultado negativo, com variação de -5,8%. Os segmentos que apresentaram desempenho positivo da carteira foram Construção, com um aumento de 28,9% e os Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUP), que cresceram 13,7%.
Saldo real da carteira de operações de crédito por segmento no Rio Grande do Sul
(em bilhões de R$)
Julho/23 | Julho/22 | Var. % | |
---|---|---|---|
Pessoas Jurídicas | 132,2 | 130,3 | 1,5 |
Indústria* | 52,9 | 53,3 | -0,6 |
SIUP** | 5,8 | 5,1 | 13,7 |
Indústria de transformação | 39,8 | 42,4 | -6,1 |
Indústria extrativa | 0,31 | 0,33 | -5,8 |
Construção | 7,0 | 5,4 | 28,9 |
TOTAL DO ESTADO | 378,5 | 353,3 | 7,1 |
Nos últimos meses, a tendência tem sido de uma deterioração no desempenho desses setores em relação ao mesmo período do ano anterior. Os últimos meses, junho e julho de 2023, representam os piores resultados desde fevereiro de 2018 para o segmento da Indústria de Transformação, quando a economia se recuperava da maior crise econômica da década. Ainda que a queda no saldo da carteira de operações de crédito decorra em boa parte do aperto promovido pelo Banco Central e aumento das taxas de juros, é importante notar que o resultado da Indústria parece ser mais sensível a essas mudanças de política monetária do que os demais setores da economia.
Variação da carteira de operações de crédito por segmento no Rio Grande do Sul em relação ao mesmo período do ano anterior
(em %)
Outro ponto de destaque é a inadimplência da carteira de pessoas jurídicas no Rio Grande do Sul que atingiu 1,76% em julho/2023 na série dessazonalizada, indicando um aumento em relação aos meses anteriores e uma possível deterioração na qualidade das operações de crédito. No setor da Indústria, a inadimplência atingiu 1,79%, enquanto a Indústria de Transformação apresentou um valor ligeiramente mais elevado, atingindo 1,82%, pior resultado desde janeiro/2021, ambos na série com ajuste sazonal. É importante notar que a série de inadimplência do setor industrial vinha abaixo da inadimplência de pessoas jurídicas no estado desde meados de 2021.
Taxa de inadimplência por segmento no Rio Grande do Sul
(Em % | com ajuste sazonal)
Os resultados apresentados indicam que o mercado de crédito para os setores industriais no Rio Grande do Sul enfrenta um período desafiador, caracterizado por uma crescente inadimplência e uma queda no saldo da carteira de operações. Grande parte desse cenário decorre do aperto monetário e ao fim de políticas de crédito implementadas para atenuar os efeitos da inadimplência durante o período da pandemia da Covid-19. A redução das taxas de juros em um momento em que os núcleos de inflação estão acima da meta levanta preocupações sobre a inflação e a eficácia da política monetária. Além disso, a incerteza em relação à capacidade do governo de atingir suas metas fiscais também gera instabilidade no cenário econômico. É imperativo monitorar de perto esses efeitos, uma vez que mudanças abruptas nas taxas de juros podem impactar negativamente o já apertado mercado de crédito.
Desdobramentos recentes das exportações da Indústria de Transformação gaúcha
Em setembro de 2023, a Indústria de Transformação gaúcha apresentou faturamento de US$ 1,2 bilhão com exportações. O montante, quando comparado ao mesmo período de 2022, representa uma retração nominal de US$ 341,6 milhões. O que nos interessa ressaltar, porém, é a identificação apropriada dos fatores de maior peso na retração observada, isto é, se a queda foi mais influenciada por fatores de oferta ou demanda. Nesse informe foi feita a decomposição dos efeitos microeconômicos que afetaram a desenvoltura das exportações industriais gaúchas.
Comparando-se a performance interanual – do mês de setembro de 2023 com relação ao mesmo período do ano passado –, verifica-se uma retração relativa de 21,6% nas exportações da Transformação. Ora, a receita é função de dois fatores principais: preços e quantidades. Desse modo, para que a receita reduza, um dos três cenários deve ter ocorrido:
- Incremento módico nos preços exportados e queda forte no quantum exportado;
- Aumento moderado no quantum e retração forte nos preços;
- Preços e quantidades apresentaram retração.
Embora nos três cenários os fatores de oferta e demanda apresentem suas influências, no terceiro cenário o efeito da demanda é mais proeminente. Pelo levantamento dos dados os preços dos produtos industriais exportados apresentaram retração de 1,0% enquanto o quantum enviado ao mercado externo caiu 20,7%. Detalhes referentes ao desempenho anual, isto é, do acumulado de janeiro a setembro, podem ser vistos na tabela abaixo. Assim como a decomposição do desempenho relativo dos seis segmentos com maiores faturamentos, em termos de exportação, no acumulado do ano.
Decomposição da receita das exportações da Transformação gaúcha
(Em %)
Var. (%) – set/23 | Var. (%) – jan-set/23 | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Receita | Quantidade | Preço | Receita | Quantidade | Preço | ||
Alimentos | -37,2 | -34,0 | -4,9 | -4,9 | -4,0 | -0,6 | |
Tabaco | -22,9 | -36,6 | 21,6 | 27,5 | -8,7 | 36,5 | |
Máquinas e equipamentos | 84,2 | 36,0 | 35,4 | 15,5 | -2,8 | 18,2 | |
Químicos | -36,4 | -19,7 | -20,8 | -33,2 | -10,9 | -24,8 | |
Veículos automotores | -5,5 | -14,4 | 10,4 | 0,3 | -11,2 | 13,5 | |
Celulose e papel | -50,8 | -3,3 | -49,1 | -20,7 | -7,8 | -14,0 | |
Indústria de Transformação | -21,6 | -20,7 | -1,0 | -4,8 | -6,3 | 1,7 |
O desempenho observado confirma o terceiro cenário. Adicionalmente, há necessidade de se destacar o quão difundida foi a retração da receita. Faz-se isso por meio da avaliação do desempenho dos outros segmentos da Transformação, assim como os produtos. Segundo nosso levantamento, dos 23 segmentos exportadores da Indústria de Transformação somente 8 apresentaram avanço na receita. Quanto aos produtos exportados nos dois períodos analisados, menos da metade (44,7%) apresentou incremento nas receitas.
Há que se destacar a decomposição do segmento de Alimentos (Receita: -37,2% | Quantidade: -34,0% | Preço: -4,9%) que também apresentou queda de demanda no período. Em especial, chama a atenção a redução da receita relacionada à classe de processamento e conservação de carne (US$ 162,4 milhões), que apresentaram retração de 41,0% em relação a setembro do ano anterior. De maneira concomitante, a segunda classe com maior faturamento foi a de óleos e gorduras vegetais e animais (US$ 114,6 milhões), que também apresentou retração na base interanual (-55,7%).
Decomposição da receita das exportações da Transformação gaúcha
(Em % | Mês de referência com relação ao mesmo mês de 2022)
jan/23 | fev/23 | mar/23 | abr/23 | mai/23 | jun/23 | jul/23 | ago/23 | set/23 | |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Receita | 14,6 | -4,5 | 0,2 | -14,7 | 4,0 | -18,4 | 1,4 | 1,7 | -21,6 |
Quantidade | -3,1 | -16,7 | -6,4 | -16,1 | 7,6 | -14,0 | 8,4 | 8,0 | -20,7 |
Preço | 18,3 | 14,7 | 7,1 | 1,6 | -3,3 | -5,1 | -6,4 | -5,8 | -1,0 |
Quadrantes de quantidades e preços – Exportações da Transformação do RS
(Em % | Mês de referência com relação ao mesmo mês de 2022)
Enquanto a primeira tabela apresenta uma fotografia do que ocorreu entre dois períodos específicos do tempo, a segunda apresenta o desempenho interanual (mês de referência com relação ao mesmo período do ano passado) das exportações da Indústria de Transformação gaúcha desde o início do ano. No gráfico, são apresentadas as localizações das exportações interanuais. Vê-se que, nos últimos nove meses, nenhuma vez os preços e as quantidades exportadas da Transformação avançaram na mesma direção e que a última vez em que andaram na mesma direção (de retração) foi em jun/23. Em suma, a queda na receita interanual deveu-se mais a fatores relacionados à demanda. Sendo que a redução das quantidades foi a que mais puxou a receita da Transformação para baixo.
DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA
Produto Interno Bruto1
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Agropecuária | 0,4 | 4,2 | 0,3 | -1,7 | 13,2 |
Indústria | -0,7 | -3,0 | 4,8 | 1,6 | 1,3 |
Serviços | 1,5 | -3,7 | 5,2 | 4,2 | 2,4 |
TOTAL | 1,2 | -3,3 | 5,0 | 2,9 | 3,0 |
Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Em R$ | 7,389 | 7,610 | 8,899 | 9,915 | 10,693 |
Em US$2 | 1,873 | 1,476 | 1,649 | 1,920 | 2,137 |
Inflação (% a.a.)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
IGP-M | 7,3 | 23,1 | 17,8 | 5,5 | -3,7 |
INPC | 4,5 | 5,4 | 10,2 | 5,9 | 3,9 |
IPCA | 4,3 | 4,5 | 10,1 | 5,8 | 4,7 |
Produção Física Industrial (% a.a.)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Extrativa Mineral | -9,7 | -3,4 | 1,0 | -3,2 | 4,6 |
Transformação | 0,2 | -4,6 | 4,3 | -0,4 | 0,0 |
Indústria Total3 | -1,1 | -4,5 | 3,9 | -0,7 | 0,5 |
Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Agropecuária | 13 | 37 | 146 | 64 | 35 |
Indústria | 97 | 149 | 719 | 442 | 299 |
Indústria de Transformação | 13 | 48 | 439 | 215 | 147 |
Construção | 71 | 97 | 245 | 193 | 134 |
Extrativa e SIUP4 | 13 | 3 | 36 | 35 | 19 |
Serviços | 534 | -378 | 1.912 | 1.515 | 941 |
TOTAL | 644 | -193 | 2.778 | 2.021 | 1.276 |
Taxa de desemprego (%)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Fim do ano | 11,1 | 14,2 | 11,1 | 7,9 | 7,3 |
Média do ano | 12,0 | 13,8 | 9,3 | 7,9 | 7,6 |
Setor Externo (US$ bilhões)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Exportações | 221,1 | 209,2 | 280,8 | 334,5 | 304,0 |
Importações | 185,9 | 158,8 | 219,4 | 272,7 | 239,5 |
Balança Comercial | 35,2 | 50,4 | 61,4 | 61,8 | 64,5 |
Moeda e Juros
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.) | 4,50 | 2,00 | 9,25 | 13,75 | 11,75 |
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)5 | 4,0 | 28,9 | 7,4 | -6,5 | -3,3 |
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$) | 4,03 | 5,20 | 5,58 | 5,22 | 5,05 |
Setor Público (% do PIB)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Resultado Primário | -0,8 | -9,2 | 0,7 | 1,3 | -1,2 |
Juros Nominais | -5,0 | -4,1 | -5,0 | -5,9 | -6,0 |
Resultado Nominal | -5,8 | -13,3 | -4,3 | -4,6 | -7,2 |
Dívida Líquida do Setor Público | 54,7 | 61,4 | 55,8 | 57,1 | 61,0 |
Dívida Bruta do Governo Geral | 74,4 | 86,9 | 78,3 | 72,3 | 74,3 |
DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA
Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Agropecuária | 3,0 | -29,5 | 60,2 | -45,6 | 19,8 |
Indústria | 0,2 | -6,1 | 11,2 | 2,2 | -2,0 |
Serviços | 0,8 | -5,0 | 4,2 | 3,7 | 2,0 |
TOTAL | 1,1 | -7,2 | 10,6 | -5,1 | 2,5 |
Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Em R$ | 482,464 | 470,942 | 584,602 | 594,055 | 638,133 |
Em US$2 | 122,282 | 91,317 | 108,362 | 115,018 | 127,599 |
Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Agropecuária | 0 | 1 | 7 | 3 | 2 |
Indústria | -6 | 0 | 47 | 29 | 12 |
Indústria de Transformação | -2 | 0 | 43 | 22 | 10 |
Construção | -4 | 0 | 5 | 7 | 2 |
Extrativa e SIUP7 | 0 | 0 | -1 | 0 | 0 |
Serviços | 26 | -43 | 90 | 68 | 40 |
TOTAL | 20 | -42 | 144 | 100 | 54 |
Taxa de desemprego (%)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Fim do ano | 7,3 | 8,6 | 8,1 | 4,6 | 4,6 |
Média do ano | 8,1 | 9,3 | 8,7 | 6,1 | 5,0 |
Setor Externo (US$ bilhões)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Exportações | 17,3 | 14,1 | 21,1 | 22,6 | 19,7 |
Industriais | 12,5 | 10,4 | 14,1 | 17,2 | 16,1 |
Importações | 10,3 | 7,6 | 11,7 | 16,0 | 14,6 |
Balança Comercial | 6,9 | 6,5 | 9,4 | 6,6 | 5,2 |
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões) | 35,7 | 36,2 | 45,7 | 43,3 | 44,6 |
Indicadores Industriais (% a.a.)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Faturamento real | 3,0 | -3,1 | 8,9 | 5,9 | -3,7 |
Compras industriais | -2,7 | -5,5 | 31,2 | -0,5 | -8,9 |
Utilização da capacidade instalada (em p.p.) | 0,7 | -4,5 | 5,7 | -0,7 | -3,0 |
Massa salarial real | -0,8 | -9,0 | 5,3 | 10,9 | 3,9 |
Emprego | 0,0 | -1,9 | 6,7 | 5,9 | -0,2 |
Horas trabalhadas na produção | -0,9 | -5,5 | 15,2 | 8,4 | -1,0 |
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS | 0,1 | -4,7 | 12,9 | 4,1 | -3,3 |
Produção Física Industrial (% a.a.)
2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023* | |
---|---|---|---|---|---|
Produção Física Industrial8 (% a.a.) | 2,5 | -5,5 | 9,0 | 1,1 | -3,3 |
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