Junho e 2º trimestre de 2023

Sondagem Industrial do Rio Grande do Sul

Demanda interna insuficiente segue sendo o maior obstáculo enfrentado pela indústria gaúcha

A Sondagem Industrial do RS, pesquisa da FIERGS, apontou nova desaceleração da atividade industrial gaúcha em junho, com queda na produção e no emprego e acúmulo de estoques, impactada, sobretudo, pela demanda interna insuficiente, além dos altos níveis de juros e de carga tributária. Por outro lado, a queda dos preços das matérias-primas foi a boa notícia. Para os próximos seis meses, os empresários gaúchos esperam uma melhora na demanda, mas sem geração de emprego, demonstrando ainda disposição moderada de investir.   

Evolução Mensal

IndicadorMai/23Jun/23*Média Histórica O que representa
(mês de referência)
PRODUÇÃO48,944,949,3Queda da produção
NÚMERO DE EMPREGADOS47,246,448,9Queda do emprego
UTIL. DA CAP. INSTALADA (UCI) – %67,070,070,1Crescimento da UCI
UCI EFETIVA-USUAL41,740,743,8UCI abaixo do nível usual
EVOLUÇÃO DOS ESTOQUES53,652,150,6Crescimento dos estoques
ESTOQUE EFETIVO-PLANEJADO52,653,251,7Estoques acima do nível planejado
Mês de referência – Junho de 2023

Condição Financeira no Trimestre

Indicador1°/232°/23Média Histórica O que representa
(período de referência)
MARGEM DE LUCRO OPERACIONAL43,644,141,9Margem de lucro insatisfatória
PREÇO MÉDIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS55,946,765,1Queda dos preços
SITUAÇÃO FINANCEIRA49,750,148,0Situação financeira satisfatória
ACESSO AO CRÉDITO35,740,541,1Acesso ao crédito difícil
Período de referência – 2ºT/2023

Expectativas – Próximos Seis Meses

IndicadorJun/23Jul/23*Média Histórica O que representa
(mês de referência)
DEMANDA52,652,955,3Expectativa de crescimento
NÚMERO DE EMPREGADOS48,048,650,3Expectativa de queda
COMPRAS DE MATÉRIAS PRIMAS49,149,453,5Expectativa de queda
QUANTIDADE EXPORTADA49,549,452,5Expectativa de queda
INTENÇÃO DE INVESTIR51,751,251,2Menor intenção de investir
Mês de referência – Julho de 2023

O índice de evolução da produção atingiu 44,9 pontos em junho, na terceira queda consecutiva da produção. Nos últimos dez meses, a produção cresceu (índice acima de 50 pontos) apenas em março de 2023. O valor mostrou também que a queda foi mais intensa que o padrão histórico do mês de junho (média de 47,8 pontos). O emprego caiu pela nona vez seguida, em ritmo também mais intenso que o padrão do mês: o índice do número de empregados foi de 46,4 pontos em junho (média de 47,1). Os dois índices variam de 0 a 100, com linha de corte em 50 pontos, os dados acima desse valor indicam crescimento e abaixo, queda na comparação com o mês anterior.

Volume de Produção no mês

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima de 50 representam alta em relação ao mês anterior e abaixo, queda.

Número de empregados no mês

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima de 50 representam alta em relação ao mês anterior e abaixo, queda.

A utilização da capacidade instalada (UCI) divergiu do cenário negativo e cresceu de 67,0% para 70,0%, ficando também acima da média histórica de 68,9% do mês de junho. Os empresários, porém, a consideraram bem abaixo do nível normal para o mês, pois o índice de UCI em relação a usual atingiu 40,7 pontos em junho, um valor bem inferior a 50 (nível usual).

Utilização da capacidade instalada – Grau médio no mês

(Em %)

Fonte: UEE/FIERGS.

Utilização da capacidade instalada (UCI) em relação à usual no mês

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam utilização acima (abaixo) do usual do para o mês.

Os estoques de produtos finais continuaram crescendo e acima do nível desejado em junho, apesar da contração sistemática da produção. O índice de evolução de estoques registrou 52,1 pontos e o índice que leva em consideração o nível planejado pelas empresas, 53,2 pontos no mês. Acima dos 50 pontos, mostram, respectivamente, que os estoques cresceram em relação a maio e ficaram em patamar superior ao esperado pelos empresários em junho. A indústria acumula estoques desde setembro de 2021.

Evolução de estoques de produto final no mês

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima (abaixo) de 50 indicam aumento (queda) dos estoques.

Índice de estoque efetivo em relação ao planejado

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam que os estoques estão acima (abaixo) do planejado no mês.

O bloco da Sondagem de periodicidade trimestral apontou que o empresário gaúcho se mostrava satisfeito com a situação financeira, mas insatisfeito com relação às suas margens de lucro no segundo trimestre de 2023. Os dois índices oscilaram para cima entre o primeiro e o segundo trimestre: o índice de satisfação com a situação financeira, de 49,7 para 50,1, com a margem de lucro, de 43,6 para 44,1.

O acesso ao crédito apresentou uma melhora relativa no segundo trimestre, com aumento do índice em 4,8 pontos em relação ao primeiro, para 40,5 pontos. Apesar disso, o índice segue bem abaixo de 50, indicando que as empresas ainda enfrentam muita dificuldade para acessar o crédito.

Outro elemento que determinou a melhora relativa da situação financeira das empresas foi a redução nos preços das matérias-primas na passagem do primeiro para o segundo trimestre. O índice de preços das matérias-primas registrou 46,7 pontos, pela primeira vez, desde primeiro trimestre de 2012, início da série histórica, o índice ficou abaixo dos 50 pontos.

Índice de satisfação com a situação financeira

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam indicam satisfação (insatisfação) no trimestre.

Índice de satisfação com a margem de lucro

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam indicam satisfação (insatisfação) no trimestre.

Índice de facilidade para acessar o crédito

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos facilidade (dificuldade) para acessar o crédito no trimestre.

Índice de evolução do preço da matéria-prima

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos aumento (queda) de preços no trimestre.

A demanda interna insuficiente, a alta taxa de juros e a elevada carga tributária foram os principais problemas enfrentados pela indústria no segundo trimestre de 2023. As assinalações em relação à demanda perderam força frente ao primeiro trimestre, de 45,5% para 42,7%, enquanto aumentaram as assinalações sobre a carga tributária e os juros, ambos com 34,4% no segundo trimestre, vindos, respectivamente, de 28,6% e de 33,3% do trimestre anterior.

A falta de trabalhador qualificado foi o quarto problema mais importante com 17,7% das assinalações, seguido pela falta de capital de giro (14,6%), que diminuiu 4,5 p.p. em relação ao primeiro trimestre.

Vale destacar, por fim, a aumento de relevância da taxa de câmbio, de 5,8% no primeiro trimestre para 13,0% das respostas no segundo (da 13ª para 8ª posição no ranking) e as quedas da falta ou alto custo da matéria-prima, de 17,5% para 8,9%, o 12º colocado (foi o 1º do terceiro trimestre de 2020 ao terceiro trimestre de 2022), e da competição desleal (informalidade, contrabando, dumping, etc.), de 15,3% para 10,4% no período.

Principais problemas enfrentados no trimestre

(Percentual de respostas)

Trimestre
1°/20232°/2023
Demanda interna insuficiente45,5%42,7%
Taxas de juros elevadas33,3%34,4%
Elevada carga tributária28,6%34,4%
Falta ou alto custo de trabalhador qualificado17,5%17,7%
Falta de capital de giro19,1%14,6%
Demanda externa insuficiente13,8%13,5%
Insegurança jurídica14,8%13,0%
Taxa de câmbio 5,8%13,0%
Burocracia excessiva13,8%12,5%
Inadimplência dos clientes13,8%12,0%
Competição desleal15,3%10,4%
Falta ou alto custo da matéria-prima17,5%8,9%
Falta de financiamento de longo prazo9,5%8,9%
Competição com importados5,3%7,8%
Nenhum3,2% 6,3%
Falta ou alto custo de energia3,7% 4,2%
Dificuldade na logística de transporte4,8%3,7%
Outros2,7%2,6%
A soma dos percentuais supera 100% devido à possibilidade de múltipla escolha.

Os índices de expectativas oscilaram para cima de junho para julho, porém, os empresários projetam crescimento (bem moderado) apenas para a demanda: o índice cresceu de 52,6 para 52,9 pontos no período. O emprego (de 48,0 para 48,6 pontos), as compras de matérias-primas (de 49,1 para 49,4 pontos) e as exportações (de 49,5 para 49,4 pontos) seguem projetando pequenas quedas. Os índices variam de 0 a 100 pontos, sendo que resultados abaixo de 50 pontos indicam expectativas de queda nos próximos seis meses, e acima desse valor, crescimento.

Índice de expectativas de demanda

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam expectativas de crescimento (queda)

Índice de expectativas de emprego

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam expectativas de crescimento (queda).

Índice de expectativas de compras de matérias-primas

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam expectativas de crescimento (queda).

Índice de expectativas de exportações

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Valores acima (abaixo) de 50 pontos indicam expectativas de crescimento (queda).

Por fim, a Sondagem mostrou que a disposição de investir da indústria gaúcha pouco se alterou no início do segundo semestre, com a redução do índice de intenção de investimentos de 51,7 de junho para 51,2 pontos em julho, um patamar moderado (mesmo valor da média histórica). Quanto menor o índice, que varia de 0 a 100 pontos, menor é a propensão para o investimento. Em julho, 53,4% das empresas demonstravam intenção de investir nos próximos seis meses e 46,6%, não.

Intenção de Investir

(Em pontos)

Fonte: UEE/FIERGS. O índice varia de 0 a 100. Quanto maior o índice, maior a propensão a investir.

Perfil da Amostra: 192 empresas, sendo 45 pequenas, 60 médias e 87 grandes.

Período de Coleta: 03 a 11/07/2023.

A Sondagem Industrial do RS é elaborada pela Unidade de Estudos Econômicos (FIERGS) em conjunto com Unidade de Política Econômica da CNI. As informações solicitadas são de natureza qualitativa e resultam do levantamento direto com base em questionário próprio. Cada pergunta permite cinco alternativas excludentes a respeito da evolução ou expectativa de evolução da variável em questão. As alternativas estão associadas, da pior para a melhor, aos escores 0, 25, 50, 75 e 100. As perguntas relativas ao nível de atividade, a evolução dos estoques tem como referência o mês anterior. As perguntas relativas a UCI usual e a estoques planejados/desejados tem como referência o próprio mês. As perguntas relativas à situação financeira, margens de lucro, acesso ao crédito e os principais problemas referem-se ao trimestre. As questões de expectativas referem-se aos próximos seis meses. O indicador de cada questão é obtido ponderando-se os escores pelas respectivas frequências relativas das respostas. Os resultados gerais para cada uma das perguntas são obtidos mediante a ponderação dos índices dos grupos de empresas “Pequenas” (entre 10 a 49 empregados), “Médias” (entre 50 e 249 empregados) e “Grandes” (250 empregados ou mais) utilizando-se como peso a variável segundo a EE/TEM competência 2009. A metodologia de geração das amostras é a Amostragem Probabilística de Proporções. O tamanho da amostra do RS baseou-se no critério de porte das empresas com margem de erro de 10% e Nível de confiança de 90%.

Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul

Unidade de Estudos Econômicos

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