Ano 24 – Número 51 – 19 de dezembro de 2022

Informe Econômico

PIB do RS voltou a crescer no terceiro trimestre de 2022

A atividade econômica do Rio Grande do Sul registrou crescimento de 1,3% no terceiro trimestre de 2022 na comparação com o trimestre imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal, conforme dados divulgados na quinta-feira (15/12) pelo Departamento de Economia e Estatística do Estado (DEE/SPGG). Foi a primeira alta após dois trimestres consecutivos de retração (-4,2% no 1ºT/22 e -2,7% no 2ºT/22). Os três grandes setores cresceram, com destaque para a Agropecuária (+41,8%), por conta da base deprimida do segundo trimestre, bem como bons resultados na pecuária. A Indústria (+1,3%) e os Serviços (+0,9%) também tiveram desempenho positivo.

Contudo, em relação ao mesmo trimestre do ano passado, o PIB gaúcho registrou queda de 2,8%. Seguem os destaques entre os grandes setores nessa base de comparação:

• A Agropecuária (-34,7%), ainda por conta da contabilização dos últimos impactos da estiagem, apresentou a maior queda entre os setores. Vale destacar que o terceiro trimestre é marcado pela menor relevância das atividades agropecuárias no PIB.

• Na Indústria (+6,2%), todos os subsetores tiveram bom desempenho, com os maiores crescimentos vindos de Energia e saneamento (+16,3%) e Construção (+6,1%). A Indústria de Transformação (+4,2%), a mais representativa do setor, foi influenciada positivamente pelo aumento na produção de Máquinas e equipamentos (+17,5%), Veículos (+33,0%) e Derivados do petróleo (+7,8%).

• Nos Serviços (+3,1%), os destaques positivos vieram de Serviços de informação (+10,3%), Outros serviços (+7,0%) e Comércio (+6,6%).

Por fim, no acumulado do ano até o terceiro trimestre de 2022, o PIB gaúcho apresentou queda de 6,6% frente ao mesmo período de 2021, devido à retração de 50,5% na Agropecuária. A Indústria (+3,1%) e os Serviços (+3,2%) cresceram.

De maneira geral, o resultado do terceiro trimestre foi positivo, mas abaixo do esperado. O texto a seguir traz uma breve análise e as perspectivas para 2023.

PIB – Rio Grande do Sul
(Var. % real)

3ºT22/2ºT223ºT22/3ºT22Acum.2022
PIB1,3-2,8-6,6
Agropecuária41,8-34,7-50,5
Indústria1,36,23,1
Extrativa mineral-0,32,34,2
Transformação0,64,21,3
SIUP**1,216,38,8
Construção-0,16,16,6
Serviços0,93,13,2
Fonte: DEE/Seplag-RS. *Com ajuste sazonal. **Serviços Industriais de Utilidade Pública (eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana).

Após impactos da estiagem, economia gaúcha deve crescer 5% em 2023

Como de costume, nos anos de estiagem, o segundo trimestre é o fundo do poço da atividade econômica gaúcha. É nesse período que ocorre a contabilização da maior parte da safra de verão. Na sequência, o terceiro trimestre marca o início da recuperação. Portanto, o crescimento frente ao segundo trimestre, conforme exposto no texto acima, já era esperado.

Contudo, a taxa de 1,3%, com alta de 41,8% na Agropecuária, ficou abaixo de nossas expectativas, baseadas nos indicadores conjunturais divulgados para o período e no histórico de recuperação dos períodos de seca. Quanto ao primeiro, para ficar apenas em um deles, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central do RS (IBCR-RS) mostrou alta de 3,6% na mesma comparação. Já no segundo aspecto, as altas no PIB nas duas últimas grandes estiagens, fazendo a mesma conta, foram muito superiores: 2012 (+9,3%, com alta de 115,7% do Agro) e 2020 (+16,8%, com alta de 54,0% do Agro).

Esses fatos mostram que a severa estiagem do início do ano ainda se refletiu nos dados do terceiro trimestre, pois a Indústria e os Serviços cresceram em ambas as comparações: frente ao segundo trimestre de 2022 (+1,3% e +0,9%, respectivamente) e ao terceiro trimestre de 2021 (+6,2% e +3,1%, nessa ordem). Mesmo assim, a queda de 34,7% na Agropecuária fez o PIB cair 2,8% nessa base de comparação.

No quarto trimestre, a expectativa é de bons números para a Agropecuária, devido à safra recorde de trigo, o que deve ajudar a amenizar as perdas no ano. O IBGE estima que o Estado colha 4,8 milhões de toneladas do cereal, o que representa crescimento de 35,6% em relação a 2021. Com isso, nossa expectativa, divulgada no Balanço Econômico, aponta que o PIB do RS deve fechar 2022 com queda de 2,5%, a qual mantemos, no momento. Contudo, colocamos um viés de baixa para essa estimativa.

Para 2023, a recuperação da produção agrícola nas culturas de verão deve resultar numa taxa de crescimento elevada. O aumento estimado na produção da safra de grãos do RS é de 52,5%, conforme prognóstico do IBGE. Com isso, a expectativa é alta de 5,0% da economia gaúcha, com crescimento de 38,7% na Agropecuária, de 1,2% na Indústria e de 1,5% no setor de Serviços. Esse desempenho aparenta ser elevado, mas isso coloca o nível do PIB do RS em 2023 apenas 2,4% acima do patamar de 2021, o equivalente a crescer a uma média de 1,2% em dois anos, o que é pouco e deixa o Rio Grande do Sul abaixo da média nacional.

Indústria gaúcha encerra o ano sem confiança

Depois de duas quedas seguidas, sendo a última a segunda maior da série histórica, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI/RS) cresceu 0,7 ponto ante novembro, para 49,5 em dezembro. O índice segue abaixo dos 50 pontos, indicando ausência de confiança.

A alta do ICEI/RS no mês repercutiu tão somente a melhora nas expectativas com as próprias empresas, visto que os demais componentes, sobretudo os da economia brasileira, caíram pelo terceiro mês seguido.

O Índice de Condições Atuais caiu para o menor patamar desde agosto de 2020: 49,4 pontos em dezembro, 1,2 a menos que novembro. Abaixo de 50, voltou a sinalizar piora nas condições dos negócios, impactado, sobretudo pelo Índice de Condições Atuais da Economia Brasileira, que recuou pela terceira vez seguida, de 50,3 para 47,3 pontos, o valor mais baixo desde novembro de 2021. Em dezembro de 2022, 26,9% dos empresários afirmaram que a economia piorou (eram 11,4% em outubro e 20,1% em novembro) ante 17,7% que perceberam melhora (eram 44,6% em outubro e 21,6% em novembro). O Índice de Condições das Empresas caiu 0,3 ponto ante novembro para 50,5 em dezembro, o que denota condições melhores, mas próximas de estáveis (50).

O Índice de Expectativas para os próximos seis meses, por sua vez, cresceu 1,7 ponto entre novembro e dezembro, não o bastante, porém, para alcançar o campo positivo, fechando em 49,6 pontos. O índice varia de 0 a 100, sendo que os 50 marcam a divisão entre otimismo e pessimismo. O pessimismo com relação à economia brasileira aumentou entre novembro e dezembro (de 36,8% para 43,5% das empresas), o que se refletiu no índice, que caiu, pela terceira vez seguida, para 43,1 pontos, o menor valor desde maio de 2020. O otimismo dos empresários ficou restrito ao futuro das próprias empresas, cujo índice, único que cresceu em dezembro (+3,3 pontos), atingiu 52,9 pontos.

Apesar da ligeira alta em dezembro, a confiança da indústria gaúcha segue abalada pelo resultado das eleições presidenciais, mostrando claramente que os empresários gaúchos o consideram desfavorável para o futuro da economia brasileira. Nesse sentido, a falta de confiança é um sinal negativo para a atividade industrial gaúcha nos próximos meses.

Índice de Confiança do Empresário Industrial do RS
(Em pontos)

Fonte: FIERGS.

PEC de Transição adia início do processo de cortes da SELIC

Durante a primeira semana de dezembro foi aprovada no Senado a PEC de Transição. Diferente da versão apresentada na CCJ, no Plenário do Senado o Auxílio Brasil foi mantido sob o Teto de Gastos. Em contrapartida, o Teto foi expandido em R$ 145 bilhões em 2023 e 2024.

Vale ressaltar que R$ 105,7 bilhões já estavam previstas na LOA 2023 para o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 400. Para bancar os R$ 600, mais o adicional de R$ 150 por criança até 6 anos, o Estado precisaria de um adicional de quase R$ 70 bilhões (R$ 53,1 bilhões para chegar à parcela de R$ 600 mais R$ 16 bilhões pelo auxílio adicional). Ou seja, dos R$ 145 bi ainda sobram R$ 75 bilhões para o Estado gastar como quiser.

Adicionalmente, a proposta faz menção de retirar do Teto de Gastos um total de R$ 48,7 bilhões, referentes a gastos com investimentos e despesas de diferentes órgãos. Como Sergio Werlang bem lembrou em sua coluna no blog do IBRE/FGV, a Reforma da Previdência, aprovada a duras penas durante o governo Temer, prometeu poupar cerca de R$ 800 bilhões em 10 anos. A PEC da Transição, por sua vez, da forma como foi aprovada no Senado, pretende expandir o gasto público em R$ 387,4 bilhões até o fim de 2024, ou seja, quase metade do ganho fiscal da Reforma da Previdência.

O tamanho do rombo fiscal, somado à possibilidade da administração de Estatais por figuras que remetem ao cenário da Operação Lava Jato, “estressaram” a curva de juros. A Estrutura a Termo da Taxa de Juros real de sexta-feira (16/12), tanto nos vértices mais curtos como nos mais longos, apresentam expansão considerável em relação aos números do final de novembro. Houve aumento de 0,23 p.p. para prazos de 2 anos e, para 10 anos, o crescimento foi de 0,48 p.p., passando de 5,90% em novembro para 6,38% em 16 de dezembro. Nesse cenário é fácil prever que a razão dívida/PIB chegue próximo a 90% do PIB em 4 anos. Outro ponto é a possibilidade de desancoragem das expectativas de inflação, fator que embasa a decisão de política monetária. No Relatório Focus divulgado hoje (19/12), tanto os números do IPCA de 2023 (5,2% ante 5,01% há 4 semanas), quanto no horizonte de 2025 (3,10% ante 3,00% há 4 semanas) apresentaram elevação. Portanto, nossa expectativa de Selic a 12,75% a.a. em 2023, que há um mês era visto como um número negativo, já pode ser encarada como um resultado otimista, tendo em vista a trajetória ascendente das contas públicas brasileiras

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

2019202020212022*2023*
Agropecuária0,44,20,3-1,33,0
Indústria-0,7-3,04,81,51,0
Serviços1,5-3,75,24,00,8
TOTAL1,2-3,35,03,11,0
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

2019202020212022*2023*
Em R$7,3897,6108,8999,70810,314
Em US$21,8731,4761,6491,8791,965
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS

Inflação (% a.a.)

2019202020212022*2023*
IGP-M 7,323,117,86,34,5
INPC4,55,410,26,05,4
IPCA4,34,510,15,85,2
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

2019202020212022*2023*
Extrativa Mineral-9,7-3,41,0-3,7-0,1
Transformação0,2-4,64,3-0,21,2
Indústria Total3-1,1-4,53,9-0,61,1
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

2019202020212022*2023*
Agropecuária13371466715
Indústria97149721510129
Indústria de Transformação134844025163
Construção719724522758
Extrativa e SIUP413337328
Serviços534-3781.9041.611406
TOTAL644-1932.7772.189550
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

2019202020212022*2023*
Fim do ano11,114,211,18,08,5
Média do ano12,013,813,29,38,8
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

2019202020212022*2023*
Exportações221,1209,2280,4280,1276,0
Importações185,9158,8219,4219,0220,0
Balança Comercial35,250,461,461,156,0
*Projeção UEE/FIERGS

Moeda e Juros

2019202020212022*2023*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)4,502,009,2513,7512,75
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)54,028,97,4-6,42,5
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)4,035,205,585,225,35
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS

Setor Público (% do PIB)

2019202020212022*2023*
Resultado Primário-0,8-9,40,81,0-1,0
Juros Nominais-5,0-4,2-5,2-7,4-7,7
Resultado Nominal-5,8-13,6-4,4-6,4-8,7
Dívida Líquida do Setor Público54,762,557,357,661,0
Dívida Bruta do Governo Geral74,488,680,377,283,1
*Projeção UEE/FIERGS

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

2019202020212022*2023*
Agropecuária3,0-29,567,5-33,538,7
Indústria0,2-5,69,72,51,2
Serviços0,8-4,64,14,01,5
TOTAL1,1-6,810,4-2,55,0
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

2019202020212022*2023*
Em R$482,464480,173576,979595,135657,560
Em US$2122,28293,107106,959115,216125,299
*Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

2019202020212022*2023*
Agropecuária01421
Indústria-60483312
Indústria de Transformação-20432510
Construção-40583
Extrativa e SIUP700-100
Serviços26-43907024
TOTAL20-4314110638
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

2019202020212022*2023*
Fim do ano7,38,68,15,76,0
Média do ano8,19,38,76,46,2
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

2019202020212022*2023*
Exportações17,314,121,120,018,7
Industriais12,510,514,116,816,1
Importações10,37,611,714,513,5
Balança Comercial6,96,59,45,55,2
*Projeção UEE/FIERGS

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

2019202020212022*2023*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)35,736,245,743,145,0
*Projeção UEE/FIERGS

Indicadores Industriais (% a.a.)

2019202020212022*2023*
Faturamento real3,0-3,18,96,53,4
Compras industriais-2,7-5,531,24,72,1
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)0,7-4,65,7-0,90,7
Massa salarial real-0,8-9,35,310,43,3
Emprego0,0-1,96,76,41,6
Horas trabalhadas na produção-1,0-5,715,29,82,5
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS0,1-4,812,95,52,1
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

2019202020212022*2023*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)2,5-5,59,01,21,4
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS

Informações sobre as atualizações das projeções:

Projeções contidas no Balanço Econômico 2022 e Perspectivas 2023, divulgado na última terça-feira (06/12/2022).

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Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul

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