Ano 24 – Número 37 – 12 de setembro de 2022

Informe Econômico

Perspectivas econômicas para a Indústria da Construção

O destaque nos números do PIB do Brasil no segundo trimestre de 2022 foi o desempenho da Indústria de Construção, o qual cresceu 9,9% frente ao mesmo trimestre do ano anterior, culminando na sexta alta consecutiva do setor na comparação interanual e atingido patamar de 12,5% acima do pré-pandemia.

O bom desempenho da Construção no trimestre é corroborado pelos números do mercado de trabalho. Entre abr/22 e jun/22 foram criadas 89,8 mil novas vagas formais de emprego no setor de Construção no Brasil, representando crescimento de 30,8% frente aos mesmos meses do ano anterior quando foram gerados 68,6 mil novos postos de trabalho.

Contudo, alguns indicadores já demonstram sinais de que a produção do setor pode entrar num período de arrefecimento. O primeiro deles é o quantitativo de unidades residenciais lançadas: segundo dados da CBIC, ocorreu uma queda de 15,4% no 2º trim/2022 no número de unidade lançadas (-11.655 residências), na comparação com o mesmo trimestre do ano passado. Se observarmos os dados no acumulado do ano (até jun/2022), foram lançadas 7.914 unidades a menos do que no mesmo período de 2021. Na região Sul esses números são ainda mais críticos, na variação interanual (2º trim/2022 x 2º trim/2021) a queda foi de 23,8%, enquanto no acumulado do ano até jun/22 a retração foi de 15,8%.

Os números do financiamento imobiliário também são indicativo de uma tendência de queda. O montante de financiamento habitacional com recursos da poupança chegou a R$ 206,0 mi no acumulado em 12 meses até julho/22, valor 7,5% menor do que no mesmo período do ano passado (em termos reais). A atual retração reflete, em grande parte, o alto nível da taxa Selic. A expectativa da Abecip é que a concessão de crédito via Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo reduza em 12% em 2022, em relação ao ano passado.

Somado a tudo isso, a produção industrial de insumos típicos para a Construção, um importante indicador antecedente, completou, em agosto, 11 meses de retração na comparação com o mesmo mês do ano anterior, algo visto somente durante a crise de 2015. No acumulado em 12 meses até julho, a redução foi de 7,5% frente aos 12 meses anteriores.

De modo geral, a Construção deve desaquecer nos próximos períodos, pelo menos até a metade do ano que vem, quando a taxa Selic começar a ceder e os custo da Construção se tornarem menores. Atualmente, o INCC acumula alta de 11,4% em 12 meses até ago/22, no entanto deve desacelerar, em virtude da queda nos preços das commodities e desaceleração do setor imobiliário na China. Por fim, a notícia positiva é que não vemos uma crise, mas um arrefecimento. Os dados de renda e emprego, bem como a queda na Selic, devem impulsionar uma retomada no 2º sem. de 2023.

Deflação em agosto leva a revisão da inflação para o ano

O IPCA de agosto foi de -0,36%, configurando o quarto evento da série histórica em que se registra deflação nesse mês em específico (os últimos foram em 1997, 1998 e 2018). Em 12 meses, a taxa acumulada alcançou 8,7%, ante os 10,1% do mês anterior. Com relação ao INPC, o índice registrou queda mensal de 0,31% e acumula alta de 8,8% em 12 meses.

O mês também foi marcado pela elevação do índice de difusão, que passou de 62,9% em jul/22 para 65,3% em ago/22, após 3 meses de queda. No entanto, abaixo dos níveis do primeiro semestre e bem longe do pico do ano atingido em abr/22 (78,3%).

Dentre os componentes do IPCA, o destaque do mês foi a surpresa sobre os preços industriais, que voltaram a acelerar (0,82%) após deflação em julho, sugerindo que o processo de desinflação no segundo semestre deve  ocorrer de forma mais lenta do que a esperada. Com relação aos bens monitorados, pelo segundo mês seguindo é observado deflação, ainda em decorrência da redução de impostos sobre energia, combustíveis e nesse mês, em específicos, sobre itens de comunicação (-1,1%). Alimentação no domicílio também mostrou desaceleração, variando próximo de zero (0,01%), principalmente pelo arrefecimento do leite e derivados (0,44%, frente aos 14,1% do mês anterior) e deflação das carnes (-0,53%).  Do lado dos serviços, os preços ainda continuam pressionados, muito pelo aquecimento do mercado de trabalho.

Com essa última leitura, revisamos nossa projeção de inflação de alguns meses à frente: -0,10% em setembro, 0,46% em outubro, 0,51% em novembro e 0,72% em dezembro. Dessa forma, esperamos que o IPCA chegue a 6,1% e o INPC a 6,3% no final de 2022.

IPCA e seus componentes
(Variação % | Acumulado em 12 meses)

Fonte: Banco Central.

A magnitude das transferências de renda durante a pandemia

Renda do trabalho em alta, expansão dos auxílios permanentes e criação de benefícios temporários fazem a renda real disponível crescer em 2022. Para 2023, expectativa é de nova elevação

Ao longo de 2022, o mercado de trabalho está apresentando resultados melhores que o esperado no final de 2021. Em função disso, recentemente atualizamos as projeções para a geração de empregos e taxa de desemprego do Brasil e do Rio Grande do Sul. Com números melhores de emprego, a renda do trabalho também começou a reagir, conforme abordamos neste espaço há duas semanas (link aqui). O presente texto pretende explorar o papel das transferências do governo federal no suporte à renda das famílias durante a pandemia e as perspectivas para o próximo ano.

Em 2020, a renda do trabalho caiu muito e o governo federal lançou dois grandes programas: o Auxílio Emergencial, com foco nos desempregados e informais, e o Benefício Emergencial, para trabalhadores formais que tiveram redução de jornada e salário e/ou suspensão de contrato de trabalho. Como resultado, mesmo com a enorme perda de renda do trabalho, ao se somar as transferências do governo, a massa de renda ampliada da população (renda do trabalho + auxílios) cresceu 4,9% em relação a 2019, o equivalente a um montante de R$ 159 bilhões a mais.

Em 2021, por conta da estagnação da massa de renda real do trabalho, muito impactada pela inflação elevada e pela geração de empregos com predomínio do mercado informal, o governo federal lançou mais uma rodada dos auxílios de 2020. Por óbvio, dado o tamanho das transferências do ano anterior (R$ 389 bi, a preços de hoje), os auxílios de 2021 não evitaram que a massa de renda ampliada caísse em relação a 2020 (-R$ 344 bilhões, -10,2%), mas amenizam as perdas.

Ainda no final de 2021, com o encerramento da segunda rodada do Auxílio Emergencial, o governo federal fez a substituição do Bolsa Família pelo Auxílio Brasil, ampliando significativamente o número de beneficiários – nos meses seguintes, mais de 4 milhões de famílias começaram a receber – e o valor médio passou de R$ 190 para no mínimo R$ 400.

Interessante observar a diferença de magnitude do Auxílio Brasil em 2022 (R$ 92,4 bilhões/ano) com o Bolsa Família em 2019 (R$ 38,2 bilhões/ano), conforme pode ser visto nas barras em cinza no gráfico. Cabe lembrar que em 2020 e 2021 poucas pessoas receberam o Bolsa Família, pois era mais vantajoso receber o Auxílio Emergencial.

A partir de agosto de 2022, com a aprovação da PEC dos Benefícios Sociais, as transferências de renda foram expandidas com a criação dos auxílios caminhoneiro e taxista, aumento do vale-gás, bem como pela elevação do Auxílio Brasil para R$ 600. Levando em conta o aumento dos auxílios, assim como a recuperação da renda do trabalho, a massa de renda ampliada deve apresentar uma elevação real de 7,2% em 2022 na comparação com 2021, o equivalente a um montante de R$ 219 bilhões a mais na economia. O forte aumento da renda disponível é um dos motivos para as frequentes revisões para cima para o crescimento do PIB em 2022.

Porém, por um lado, é preciso lembrar que uma parte importante dos benefícios se encerra no final do ano, os quais somados chegam a cerca de R$ 30 bilhões. Por outro lado, a melhora recente da renda real do trabalho, onde a geração de empregos formais tem ganhado força, tende a fazer a renda da população seguir em patamares elevados. Portanto, mesmo com a retirada de uma parte dos auxílios, acreditamos que a renda real deve crescer em 2023, mas em menor intensidade.

Massa de renda ampliada: renda do trabalho + auxílios – Brasil
(Em R$ bilhões – Deflacionados IPCA ago/22)

Fontes: IBGE. Tesouro Nacional. Governo Federal. Projeções renda do trabalho ago-dez/22: UEE/FIERGS.

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA BRASILEIRA

Produto Interno Bruto1

20182019202020212022*
Agropecuária1,30,43,8-0,21,3
Indústria0,7-0,7-3,44,51,0
Serviços2,11,5-4,34,73,6
TOTAL1,81,2-3,94,62,8
1O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em trilhões correntes)

20182019202020212022*
Em R$7,0047,3897,4688,6799,536
Em US$21,9161,8731,4481,6091,847
2Taxa de câmbio média anual utilizada para o cálculo e IPCA utilizado como inflação. *Projeção UEE/FIERGS

Inflação (% a.a.)

20182019202020212022*
IGP-M 7,67,323,117,810,4
INPC3,44,55,410,26,3
IPCA3,74,34,510,16,0
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

20182019202020212022*
Extrativa Mineral0,0-9,7-3,41,11,2
Transformação1,10,2-4,64,31,9
Indústria Total31,0-1,1-4,53,91,5
3Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20182019202020212022
Agropecuária2,213,036,5146,161,0
Indústria23,997,2148,7721,2478,9
Indústria de Transformação1,213,248,0439,7256,3
Construção11,470,797,3245,0194,6
Extrativa e SIUP411,213,33,536,528,0
Serviços520,2533,8-378,01.904,41.527,2
TOTAL546,4644,1-192,72.771,62.067,1
4SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

20182019202020212022*
Fim do ano11,711,114,211,18,0
Média do ano12,412,013,813,29,3
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

20182019202020212022*
Exportações231,9221,1209,2280,4295,9
Importações185,3185,9158,8219,4226,4
Balança Comercial46,635,250,461,069,5
*Projeção UEE/FIERGS

Moeda e Juros

20182019202020212022*
Meta da taxa Selic – Fim do ano (% a.a.)6,504,502,009,2513,75
Taxa de Câmbio – Desvalorização (%)517,14,028,97,4-7,7
Taxa de Câmbio – Final do período (R$/US$)3,854,035,205,585,15
5Variação em relação ao final do período anterior. *Projeção UEE/FIERGS

Setor Público (% do PIB)

20182019202020212022*
Resultado Primário-1,6-0,8-9,40,8-1,0
Juros Nominais-5,4-5,0-4,2-5,2-6,5
Resultado Nominal-7,0-5,8-13,6-4,4-7,5
Dívida Líquida do Setor Público52,854,762,557,362,3
Dívida Bruta do Governo Geral75,374,488,680,383,1
*Projeção UEE/FIERGS

DADOS E PROJEÇÕES PARA A ECONOMIA GAÚCHA

Produto Interno Bruto Real (% a.a.)6

20182019202020212022*
Agropecuária-7,13,0-29,567,5-40,0
Indústria2,80,2-5,69,7-1,4
Serviços2,60,8-4,64,10,5
TOTAL2,01,1-6,810,4-4,0
6O PIB Total é projetado a preços de mercado; os PIBs Setoriais são projetados a valor adicionado. *Projeção UEE/FIERGS

Produto Interno Bruto Real (Em bilhões correntes)

20182019202020212022*
Em R$457,294482,464480,173582,968599,384
Em US$2125,108122,28293,107108,059114,249
*Projeção UEE/FIERGS

Empregos Gerados – Mercado Formal (Mil vínculos)

20182019202020212022*
Agropecuária-1,4-0,10,53,71,9
Indústria1,5-5,5-0,247,534,7
Indústria de Transformação0,9-1,50,142,927,7
Construção0,9-4,0-0,35,37,5
Extrativa e SIUP7-0,20,00,0-0,6-0,5
Serviços20,426,0-42,989,767,2
TOTAL20,520,4-42,6141,0103,8
7SIUP = Serviços Industriais de Utilidade Pública. *Projeção UEE/FIERGS

Taxa de desemprego (%)

20182019202020212022*
Fim do ano7,57,38,68,15,7
Média do ano8,28,19,38,76,3
*Projeção UEE/FIERGS

Setor Externo (US$ bilhões)

20182019202020212022*
Exportações21,017,314,121,122,4
Industriais15,112,510,514,115,1
Importações11,310,37,611,712,8
Balança Comercial9,86,96,59,49,6
*Projeção UEE/FIERGS

Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)

20182019202020212022*
Arrecadação de ICMS (R$ bilhões)34,835,736,245,749,5
*Projeção UEE/FIERGS

Indicadores Industriais (% a.a.)

20182019202020212022*
Faturamento real2,73,0-3,18,71,6
Compras industriais10,0-2,7-5,531,04,2
Utilização da capacidade instalada (em p.p.)1,60,7-4,65,70,3
Massa salarial real-1,3-0,8-9,34,60,4
Emprego0,90,0-1,96,71,4
Horas trabalhadas na produção0,0-1,0-5,715,13,3
Índice de Desempenho Industrial – IDI/RS2,60,1-4,812,81,7
*Projeção UEE/FIERGS

Produção Física Industrial (% a.a.)

20182019202020212022*
Produção Física Industrial8 (% a.a.)5,92,5-5,58,81,0
8Não considera a Construção Civil e o SIUP. *Projeção UEE/FIERGS

Informações sobre as atualizações das projeções:

No cenário nacional foram atualizadas as projeções de inflação

Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul

Unidade de Estudos Econômicos

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